domingo, 29 de março de 2009

Nem Religioso, nem "Crente"



Que eu nunca seja um religioso... Nem moralista, nem "crente"...


CONSELHOS RÁPIDOS AOS FORMANDOS EM TEOLOGIA

O homem é salvo pela loucura da pregação!

Quando a insanidade divina irrompe na lógica das nossas presunções e a revelação estabelece a verdade nas vísceras do ser, aí a graça foi plantada. Então, não tente explicar a Deus; tente discernir o homem, porque o Evangelho não é mais do que isso: eu sei quem eu sou; você não
deve ser diferente de mim. As nossas diferenças são apenas do ponto de vista moral e cultural; mas nós todos temos uma dívida impagável para com Ele e Ele respondeu a isso com um amor inexplicável, de modo que ante esse amor eu agora tenho a coragem de examinar meu coração e você o seu, pra que nós, discirnamos o que, que, esse amor quer fazer pra nos curar e
nos levar a alguma coisa que seja mais semelhante com a imagem que projetou para nós.

O verdadeiro teólogo deve ser o mestre de almas humanas e não um recitador de textos, de referências, de filósofos e de outros bobos que já tomaram muito tempo da gente na antiguidade.

Se o cristianismo tivesse apenas pregando o Evangelho e não tentando defender Deus – Apologética – mas discernir o homem e aplicar a Palavra da graça aos humanos, podem ter certeza: a história teria sido completamente outra.

A salvação da teologia é se converter em adoração a Deus, em discernimento da Palavra, e a aplicação da Palavra à vida, não como moral comportamental, mas como discernimento psico-ético.

Outra desgraça do cristianismo foi a criação dessa teologia moral cristã; foi a coisa mais pagã que já se inventou e o meu amigo Agostinho pisou na bola feio, e Tomás de Aquino se esborrachou. Todos com graves problemas na área da sexualidade. Se você quiser saber o tamanho da doença sexual dos teólogos da igreja cristã, compre um livro chamado “Eunucos por amor ao reino de Deus”, pra ter uma história horrorosa de ver como traumas sexuais produziram teologias horrendas e geraram uma moral cristã adoecedora, neurótica, que patologizou a alma coletiva da igreja até hoje.


A salvação da teologia é, portanto, se converter em adoração a Deus e discernimento da Palavra e aplicação da Palavra à vida, mas não numa moral comportamental, mas num discernimento psico-ético. Por que psico-ético? Por que tem uma dimensão que é psíquica, que tem a ver com a nossa individualidade e com a nossa necessidade de processo de individuação; de nos tornarmos nós mesmos, por que o chamado de Deus na Escritura é para que cada um de nós tenha uma consciência. E não é moral, é ética. Porque moral é o resultado do IBOPE da maioria das conveniências majoritárias. Na moral não existe processo de individuação; existe processo de massificação.


A promessa do apocalipse é que cada um de nós vai receber uma pedrinha branca com um novo nome que ninguém conhece, só aquele que o recebeu. Essa é a promessa maior de que a redenção culmina num processo de individuação eterno.
Agora, para que isso aconteça, é preciso que não haja moral; é preciso que haja ética – uma coisa não tem nada a ver com a outra.
A moral é essa conjunção de interesses; já a ética vem de “ethos”; vem dessa coisa que é em si – que é um telhado que cobre a vida que factibiliza e propicia à existência; e à vida um modo de ser. É um conforto pra alma.


A ética, portanto, tem a sua aplicabilidade profundamente individual porque não haverá jamais uma ética que faça bem ao outro e faça mal a mim.
A ética, conforme a Escritura, é aquela que faz bem a mim e faz bem ao outro. Porque aquilo que quereis que os homens vos façam; isso, mesmo, fazei a eles.


Quando isso é entendido, existe espaço para o processo de individuação e de aplicação desse conceito do que seja vida e cobertura pra vida tanto pra mim, quanto pro outro.
As pessoas não precisam de doutrinas; elas precisam de entendimento espiritual. O entendimento espiritual só acontece como revelação na graça, e sem ser a partir da graça jamais se terá entendimento espiritual. Por isso, a tarefa de qualquer teologia é gerar entendimento espiritual. O que falta à igreja é entendimento; é compreensão da vida; é discernimento do próprio coração; é graça e misericórdia pra com o próximo; porque Deus, nós não iremos entendê-lo, mas é nosso privilégio conhecê-lo de todo coração.


Texto de Caio Fabio

Um grande Abraço

Wagner
Frater Teologus Minor et Pecator - Irmão, Teólogo Menor e Pecador.

Nada me Separa do Seu Amor


NADA VOS SEPARARÁ DO AMOR DE DEUS, EXISTENCIALMENTE FALANDO!


Certa feita ouvi de uma pessoa, a seguinte declaração:·Amo meus amigos, porém se algum dia eles andarem contrario a vontade do meu Deus, eu não penso nem duas vezes, os abandono, pois entre um amigo e Deus,sempre preferirei meu Deus...Ao ouvir isto, gelei-me, entristeci-me, fiquei chocado e pensativo...Pensei na quantidade de amigos que tenho que um dia por pisar na bola onde a religião não permite pisar, ficarão sós, abandonados, desprezados e ignorados...Lembrei-me de um velho irmão amigo que me disse: “não tenho mais ninguém, nem para rir nem para chorar, todos viraram as costas para mim, estou me sentido um lixo", me veio também à mente um desabafo de uma querida amiga que certa vez me confidenciou chorando: “a maior dor que se pode sentir na vida não é a da conseqüência de uma atitude errada e sim do sentimento de desprezo que nos é direcionado por aqueles que um dia disse que nos ama, e que seriamos para sempre uma família...” Sangra-me o coração perceber que muitas amizades na igreja são construídas emcima de valores morais, de modo que enquanto tudo se caminha certo e dentrodo padrão, esta tudo bem, mas a partir do momento que algumas coisas fogem doscript, vai tudo por água abaixo. Sinceramente não consigo entender um relacionamento com Deus que não me permitaficar perto do meu irmão por ele ter ferido princípios morais e éticos seladospor uma sociedade legalista, moralista e gélida de coração. Sofro ao perceberque esta mesma sociedade tem sido tutora e aio da igreja durante muitos anos,tendo como resultados uma exacerbada valorização de normas. Sim, as normasvalem mais do que uma vida, o sábado continua tendo mais valor do que o homemhoje em dia.Sei que posso ser interpretado por alguns como conivente de pecados, no entantonão me importo mais, pois Deus sabe o quanto sofro quando alguém me diz "pequeicontra o céu, não sou mais digno de ser chamado de Filho".Sei que estou escrevendo algo que vem de encontro a muitos valores religiosos, principalmente de uma comunidade que zela mais pela pureza do grupo do que pelavida de um individuo, que prima mais pela aparência moral do que pelo amor, queprefere um amontoado de fingidos do que um que resolve ser quem é. Eu seidisso.Deus permita-nos caminhar muitas e muitas milhas juntos, que eu possa semprelavar seus pés da sujeira do caminho que você trilhar, até o dia que vocêdiscernir Nele o caminho que se deve andar...Pois nada vos separará do amor deDeus, nem você.

Wagner
Frater Teologus Minor et Pecator - Irmão, Teólogo Menor e Pecador.

Falando Conosco







Falando Conosco





Falando conosco (Jr 17:9; Sl 104.24-31; Gl 6:3)
São as muitas vozes que falam dentro e fora de nós: mídia, dinheiro, sociedade, família, valores morais, valores espirituais, status, etc.
Em meio a tantas placas, que caminho seguir para encontrar o próprio “EU”?
Coisas que não me afetavam na infância, agora significam muito para mim.
Por isso, nossa vida deve ser examinada, porque dentro de nós existe um produto chamado “EU”, que mostra o que vai pelo nosso coração e mente, pois afinal, somos por fora aquilo que levamos por dentro (Mc 7.21). Por isso já dizia o pregador: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (Pv 4.23). Descobrir-se a si mesmo é um árduo exercício, porém o mais valioso deles. Pois ao retornarmos a nós mesmos temos um encontro marcado com Aquele que nos criou, até mesmo para sabermos o quanto estamos ajustados à Sua imagem e semelhança.
Quero usar uma metáfora para mostrar as várias faces do “EU”. No Salmo 104.24,31, Davi descreve a variedade da criação de Deus e logo após fala do mar como sendo vasto, espaçoso, habitado, útil, dependente de Deus e, por acréscimo, gostaria de dizer: misterioso, desconhecido, e às vezes oscilante.
Quando o salmista descreve o mar como sendo vasto e espaçoso, sabiamente está falando de algo visível e do conhecimento de todos. Ao buscarmos o conhecimento da nossa identidade, de cara temos alguns conceitos formados acerca de nós mesmos, que são atitudes, fatos, gestos, através dos quais todos nos reconhecem. Chamaremos esse lado de “EU ABERTO”. É à parte de cima do mar: suas ondas, sua cor, seu encontro com a praia, etc (Sl 104.25,27).
1 - O “EU ABERTO”
O “EU ABERTO” é o nosso lado que todos podem perceber, tanto as virtudes como os defeitos. É o lado transparente da nossa pessoa, onde tudo é enxergado por você e também por todos que lhe conhecem.
Este lado da nossa personalidade é aquele que eu percebo e todos percebem, sem possibilidade de esconder. Às vezes até fazemos questão de mostrar isso, quando se trata de beleza, inteligência, habilidade, virtude; mas também existem as deficiências e as limitações das quais temos consciência plena.
É preciso prosseguir e aprofundar no conhecimento, sobretudo de mim mesmo e de Deus. Estas duas coisas devem andar juntas, pois afinal fomos criados à imagem e semelhança de Deus, que soprou em nós o fôlego de vida.
2 – O “EU SECRETO”
Ao contrário do “EU ABERTO” , o outro lado da nossa personalidade ou identidade, que chamaremos de “EU SECRETO” , é aquele que eu conheço, mas nunca é conhecido dos outros. Somente o meu coração sabe. Semelhante ao mar que possui várias espécies, mas que não são conhecidos por quem está de fora. Apenas o próprio mar tem conhecimento deles.
Não é difícil relacionar uma lista enorme, contendo fatos bárbaros, que só eu mesmo sei. Mas isso não é privilégio só nosso, todos temos esse lado secreto da vida.
O grande engano, É pensar que Deus também não conhece esse meu lado secreto. Da mesma forma que Deus, O Criador, conhece todos os animais do mar, conhece também todo o meu ser (Sl 139.1,13; Hb 4.13).
O grande perigo é guardar nesse lugar: males, ressentimentos, más intenções, impurezas, inveja, etc. Jesus ensinou que o que contamina o homem não é o que entra pela boca do homem, mas é aquilo que está guardado dentro do homem.
Por isso, o livro de provérbios ensina: “Sobre tudo que se deve guardar, guarda o teu coração...” (Pv 4.23).
Jesus ensinou que o que contamina o homem são os males guardados “secretamente” em seu coração (Mc 7.20,23).”Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração” (Pv 4.23).
3 – O “EU CEGO”
É aquele lado da nossa personalidade que todos percebem, mas eu mesmo nada sei, nada percebo, pois mão consigo ver.
Ter consciência da existência do “EU CEGO” em nós é um ato especial para o amadurecimento da vida de todos. Todos têm um defeito, um mau hábito e até mesmo falhas no caráter, que as pessoas que convivem conosco já percebem, já sabem, e nós ainda não conseguimos enxergar. Ter consciência deste fato nos fará atentos para perceber as dicas que nos são dadas por terceiros.
Vez por outra há alguém do nosso relacionamento dando-nos dicas de como está nosso comportamento, e a gente nem se toca.
4 – O “EU DESCONHECIDO”
Nós temos um lado da nossa personalidade chamado “EU DESCONHECIDO”, que é totalmente escuro. Este lado da minha personalidade nem eu sei, nem os outros sabem exatamente como é. Mas vez por outra, quando menos esperamos, este vulcão explode, e da escuridão do nosso ser afloram muitas coisas, geralmente mais negativas do que positivas (Rm 7.19).
Conhecer os quatro pontos básicos da personalidade é também reconhecer que algo precisa ser ajustado. Ao contrário da foto da nossa carteira de identidade, a nossa identidade psicológica é algo que pode ser mudada, pode ser melhorada dia a dia.
Antes de falarmos aos outros, precisamos ouvir Deus nos falando.
Nele,
Que conhece todas as nossas intenções, motivações e vaidades.
Pense nisso.
Wagner

Existir Para os Outros


Existir para os outros


A igreja só é igreja quando está aí para os outros. Como primeira providência, ela deve presentear todo o seu patrimônio aos necessitados. Os pastores devem viver exclusivamente do seu trabalho, e eventualmente das doações espontâneas da comunidade. A igreja deva participar das tarefas da vida social humana, não dominando, mas auxiliando e servindo. Ela deve dizer às pessoas de todas as profissões o que é uma vida com Cristo, o que significa “existir para os outros”. Em especial, a nossa igreja terá de combater os vícios da hybris, da adoração, da força, da inveja e da ilusão como raízes de todo mal. Ela terá de falar de moderação, autenticidade, confiança, fidelidade, constância, paciência, disciplina, humildade, modéstia, comedimento. Não poderá menosprezar a importância do “exemplo” humano (que tem sua origem em Jesus). Sua palavra obterá ênfase e força, não através de conceitos, mas pelo exemplo.

Hybris: Orgulho irracional, sem limites.

Uma adaptação do texto de Bonhoeffer.


Wagner

O Fundamentalismo e o Engessamento da Reflexão



O Fundamentalismo e o engessamento da reflexão

Contradições Bíblicas.

Na Bíblia, encontra-se uma série de erros em matéria de ciência e de história.

- O grão de mostarda, não é “a menor de todas as sementes que há na terra” (Mc 4.31)
- A arqueologia evidenciou que jericó, hai e gabason não eram habitadas nos tempos de Canaã (Js 6,9). Igualmente, lakish e Taanak não sofreram destruição alguma e não passaram a ser cidades israelitas antes do século. X.
- O percurso da conquista apresentado em Juizes 1 é muito diferente do que encontramos em Josué. Além disso, foram incluídas cidades como Dor, Jerusalém, Gezer, Meguido e Taanak (Jz 1,21ss), que continuaram sendo cananéias, não israelitas durante muito tempo depois da conquista.
- Belsazar, em Daniel 5, na realidade nunca foi rei. Tampouco era filho de Nabucodonozor, mas de Nabonid, o último rei babilônico.
- Contrário ao que está dito em Daniel 6, não foi Dario, o Medo, (que nos é desconhecido) que conquistou a Babilônia, mas Ciro.
- Dario (persa) não foi “filho de xerxes” (Dn 9,1), mas antes seu pai.
- Segundo Daniel 11,2, a Ciro sucederiam “três reis” antes que seu império tivesse caído, mas sucederam-lhe nove reis.
- Atos 7.16 confunde Abraão com Jacó (confira Gn 23.17ss; 33.19).
- O lugar onde ocorreu o famoso milagre da água que brotou da rocha, chamado Meribá, segundo Ex 17,1.7 situava-se em Rafidim, mas segundo Números 20,1.3 se encontrava em Cadesh.
- Quem foi o sogro de Moisés: Jetro, Jeter, Reguel, ou Hobab (Ex 2,18; 3,1.4; 4,18;Jz 1,6)? Sempre é “o sogro”, ou seja, o mesmo.
- Segundo Jr 22.19 e 36,30, o rei Joaquim teria um enterro humilhante “fora das portas de Jerusalém” e não teria descendência. Mas 2Rs 24.6 informa-nos que “Joaquim se associou a seus pais, e seu filho Joaquim reinou em seu lugar” Qual está certo?
- De acordo com 2Sm 24,1ss, Deus ordenou a David fazer um censo em Israel. Mas segundo 1Cr 21.1 o censo foi feito por insistência de Satanás.
- O resultado do censo foi: 2Sm 24.9 “Oitocentos mil homens de guerra e em Judá quinhentos mil”. Segundo 1Cr 21.5, as cifras eram de “um milhão e cem mil e de quatrocentos e setenta mil” respectivamente. Além disso, as cifras, são descomunalmente imensas para a população daqueles tempos na Palestina.
- 2Sm 24.24 informa que Davi comprou um terreno para construir um altar para Deus por cinquenta siclos de prata, mas, segundo 1Cr 21.25 Davi pagou seiscentos siclos de ouro pelo mesmo terreno.
- Os Evangelhos sinóticos (Mt, Mc e Lc) situam a expulsão dos vendilhões do Templo por parte de Jesus no final de sua vida pública, mas João a situa no início (Cap 2).
- De acordo com Mt e Mc, Jesus apareceu aos discípulos na Galiléia, não em Jerusalém, como se lê em Lucas e em João. Além disso, segundo Lucas, a ascensão de Jesus teria sido no mesmo dia de sua aparição e perto de Betânia, enquanto, segundo Atos, teria ocorrido quarentas dias depois e no monte chamado das Oliveiras (1,3.12).

Os textos colocados, não são somente para questionar a inspiração, mas sim para reflexão sobre a inerrância da Bíblia e sua infalibilidade.
Eu posso explicar muitas coisas colocadas, mas não vou fazer, para que cada um tire as suas próprias conclusões.
A dor continua, não se mate. Aprenda a ter uma mente reflexiva e livre da religião engessada que te impede e pensar.

Um abraço a todos.
Wagner

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sentimento de perda e o desamparo



SENTIMENTO DE PERDA E O DESAMPARO

Cada pessoa se confronta com o desamparo existencial e com sentimento de perda.
Perda de um ente querido, de uma relação afetiva, de um posto de trabalho. Sente a necessidade de uma mão que o levante e de um ombro no qual se possa apoiar com confiança.
É a situação do homem caído e ferido. Ele está sempre entregue aos Samaritanos eventuais que passam pela estrada. Muitos simplesmente olham dão de ombros e segue o seu caminho. Estão preocupados com mil tarefas. Presumem que é mais importante cumpri-las do que cuidar de um desamparado no caminho. Há os que esquecem de si, dos seus afazeres e se enchem de compaixão. Colocam-se na condição do outro. Sente o seu desamparo e se solidarizam com ele.
Em toda a situação de abandono está presente uma tentação e uma chance. A tentação consiste nisso: A pessoa não enfrenta o desamparo. Ou culpa alguém pelo seu fracasso. Ou fica esperando a solução, vinda da política, do Estado, da loteria, dos outros e de Deus. Essa atitude esconde sua omissão, sua falta de iniciativa e sua fuga da responsabilidade.
Ma há a chance da pessoa aceitar o desafio do desamparo e crescer com ele. Começa por desdramatizá-lo, pois pertence a finitude da vida humana. Não somos onipotentes nem damos a nós mesmos a existência. Vivemos uma pobreza essencial. Dependemos objetivamente dos outros.
Essa atitude de dependência não nos humilha porque caracteriza todos os seres do universo. Já o dissemos: Estamos todos envolvidos numa teia de inter-retro-relações. Essa situação, portanto, deve ser assumida sem amargura.
Por outra parte, a pobreza essencial e a interdependência nos abrem para a solidariedade universal. Sendo dependente, ajudamo-nos uns aos outros na construção coletiva da vida. Ao invés de culpar os outros por nosso desamparo ou de nos omitir de batalhar contra ele, assumimos uma atitude positiva de empenho e de luta.
Por isso não devemos pedir a Deus que nos liberte do abandono. Há que lhe suplicar forças para enfrentá-lo. Nesse enfrentamento surge a figura do herói/heroína: do agüente, da resistência e da coragem.
Como sair do abandono? Que estratégias usar para continuar caminhando? Na resposta a estas questões surge o segundo arquétipo de herói/heroína: O caminhante ou o peregrino.
No processo da nossa vida, lentamente vamos conquistando o nosso ser, nosso lugar na sociedade, nossa profissão, nossos objetivos de curto e longo prazo. É uma árdua caminhada. Temos de desenvolver nossos próprios recursos para sermos autônomos na jornada e não onerarmos os demais.
Tal diligência demanda tempo, paciência e autoconfiança. O ferido teve que esperar até recuperar lentamente todos os seus sentidos.

Boff Leonardo
Águia ou Galinha uma metáfora da condição humana
Editora vozes.