SENTIMENTO DE PERDA E O DESAMPARO
Cada pessoa se confronta com o desamparo existencial e com sentimento de perda.
Perda de um ente querido, de uma relação afetiva, de um posto de trabalho. Sente a necessidade de uma mão que o levante e de um ombro no qual se possa apoiar com confiança.
É a situação do homem caído e ferido. Ele está sempre entregue aos Samaritanos eventuais que passam pela estrada. Muitos simplesmente olham dão de ombros e segue o seu caminho. Estão preocupados com mil tarefas. Presumem que é mais importante cumpri-las do que cuidar de um desamparado no caminho. Há os que esquecem de si, dos seus afazeres e se enchem de compaixão. Colocam-se na condição do outro. Sente o seu desamparo e se solidarizam com ele.
Em toda a situação de abandono está presente uma tentação e uma chance. A tentação consiste nisso: A pessoa não enfrenta o desamparo. Ou culpa alguém pelo seu fracasso. Ou fica esperando a solução, vinda da política, do Estado, da loteria, dos outros e de Deus. Essa atitude esconde sua omissão, sua falta de iniciativa e sua fuga da responsabilidade.
Ma há a chance da pessoa aceitar o desafio do desamparo e crescer com ele. Começa por desdramatizá-lo, pois pertence a finitude da vida humana. Não somos onipotentes nem damos a nós mesmos a existência. Vivemos uma pobreza essencial. Dependemos objetivamente dos outros.
Essa atitude de dependência não nos humilha porque caracteriza todos os seres do universo. Já o dissemos: Estamos todos envolvidos numa teia de inter-retro-relações. Essa situação, portanto, deve ser assumida sem amargura.
Por outra parte, a pobreza essencial e a interdependência nos abrem para a solidariedade universal. Sendo dependente, ajudamo-nos uns aos outros na construção coletiva da vida. Ao invés de culpar os outros por nosso desamparo ou de nos omitir de batalhar contra ele, assumimos uma atitude positiva de empenho e de luta.
Por isso não devemos pedir a Deus que nos liberte do abandono. Há que lhe suplicar forças para enfrentá-lo. Nesse enfrentamento surge a figura do herói/heroína: do agüente, da resistência e da coragem.
Como sair do abandono? Que estratégias usar para continuar caminhando? Na resposta a estas questões surge o segundo arquétipo de herói/heroína: O caminhante ou o peregrino.
No processo da nossa vida, lentamente vamos conquistando o nosso ser, nosso lugar na sociedade, nossa profissão, nossos objetivos de curto e longo prazo. É uma árdua caminhada. Temos de desenvolver nossos próprios recursos para sermos autônomos na jornada e não onerarmos os demais.
Tal diligência demanda tempo, paciência e autoconfiança. O ferido teve que esperar até recuperar lentamente todos os seus sentidos.
Boff Leonardo
Águia ou Galinha uma metáfora da condição humana
Editora vozes.
Belo texto do Leonardo Boff.
ResponderExcluirToda situação de abandono é uma oportunidade de fuga existencial ou de crescimento.
Pedir a Deus que nos poupe das tragédias e abandonos, é pedir a Ele que tire nossa humanidade!
É mais ainda, todo abandono é um oportunidade de serviço a Deus, pois Deus se identifica com o sofrido, abandonado e oprimido.
Valeu mais uma vez amigo Wagner, pela oportunidade de reflexão.
(Quero contribuir com mais uma critica construtiva – ao menos espero que seja – você já pensou em escrever os textos, colocando espaço entre eles? Aprendi, e quero repassar com você, pondo espaço entre as linhas do texto, você torna o texto muito mais fácil de ler e entender.)
Um abraço
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.