segunda-feira, 23 de maio de 2011

Ganhei nova fé


Recebo muitos pedidos para que volte e ser o "Ricardo de antigamente". Impossível voltar ao passado e mais impossível ainda, vestir os andrajos que o tempo corroeu. Muitas coisas perderam ímpeto dentro de mim. Hoje, algumas afirmações se esvaziam antes mesmo de alcançarem meu coração. Certas concepções já não fazem sentido quando organizo a minha existência.
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Ganhei nova fé.  Não acredito mais na fé como força dirigida a Deus que o induz a agir. Entendo a verdadeira fé como coragem para enfrentar a existência com os valores de Jesus de Nazaré.  Fé significa que a verdade vivida e revelada por Cristo basta para que eu encare as contingências do mundo sem desumanizar-me. Minha fé não pretende movimentar o Divino, mas ser pedra de arranque onde impulsiono a caminhada na deslumbrante (e perigosa) aventura de viver.
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Já não espero que uma relação com Deus me blinde de percalços. Não acredito, e nem quero, Deus me revestindo com uma armadura impenetrável. Considero um despautério prometer, em meio a tanto sofrimento, que os obedientes e puros passarão pela existência incólumes, sem sofrerem doenças, acidentes, violência. 
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Ganhei nova fé e considero leviano afirmar que ao orar, mulheres pouparão os filhos de se envolverem com drogas, promiscuidade e outros males. Por que Deus ficaria de mãos atadas ou indiferente diante das opções, muitas vezes atrapalhadas, de rapazes e moças? Seria justo afirmar que se os pais não vigiarem, Deus permitirá a perdição eterna dos filhos? Como Deus induz alguém a se arrepender? Ele força e arrasta, em resposta ao pedido dos pais? Não seria mais responsável ensinar que a "salvação" dos filhos não depende tanto de uma intervenção divina, mas do exemplo dos pais?

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Tanto na Bíblia hebraica, o Antigo Testamento, como no ministério terreno de Jesus, há relatos de que Deus se recusa a manipular e coagir para trazer qualquer pessoa para si. Deus é amor. Quem ama se faz vulnerável ao abandono. Um exemplo clássico vem do profeta Oséias que encarnou repudio semelhante ao de Iahvé.
Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava mais eles se afastavam de mim (11.1).
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No Evangelho de Lucas, Jesus lamentou sobre a cidade de Jerusalém que, além de repetir o antigo hábito de perseguir os profetas, agora o rejeitava:
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Parceiro, o cara tem um minuto pra dar uma palavra em nossa reunião né?
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Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram! (13.34).
Ganhei nova fé e deixei de acreditar que os que cumprem ritos religiosos vivem um céu de brigadeiro. Não imagino que, ao obedecer corretamente os mandamentos, o mar da vida pare de ser arriscado.

Ganhei uma fé que não precisa orar de olhos fechados, debulhar terços em rezas, pedir ajoelhado, fazer campanhas, interceder ferozmente em vigílias e clamar aos gritos. Sei que o paganismo rodopia nessa lógica, mas agora entendo que Cristo a negou. As vãs repetições acabam expressando a voracidade de uma espiritualidade que contempla ganhar o que outros mortais não conseguiram. Considero esse tipo de devoção puro clientelismo. Murros em ponta de faca, que misturam ilusão com uma esperança bem parecida com os anseios da tartaruga que sonha com as alturas, mas é obrigada a respirar o pó da estrada.

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Ganhei uma fé com demandas éticas. Não seria indigno um cristão pedir que Deus lhe ajude a passar em concurso público? Sim, esse tipo de oportunismo em nome de Deus é aberração ética. Em uma enconomia como a latino americana que gera excluídos, não cabe rogar que “o Senhor abra uma porta de emprego”. Não faz sentido conceber que o Todo Poderoso esteja, não se sabe por quais critérios, a recolocar seus eleitos no mercado de trabalho. Ganhei uma fé que luta por mais justiça nos chamados países emergentes, com bolsões miseráveis, onde bilhões sobrevivem com menos de 1 dólar por dia.
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Já me indispus com grandes segmentos religiosos. Noto, sim, as idealizações de um movimento que deseja ser tratado como o próprio reino de Deus. Inundado de insinuações de que estou em crise, crisolo, mudo de pele, revisto-me de maturidade. Repito o padrão paulino: "deixo as coisas de menino". Sei que muitos jargões piedosos cumprem o papel ideológico de afastar as pessoas da realidade empurrando-as para o delírio religioso. Mas nesse caso religião e ópio são iguais.

Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Adultério, Divórcio e Novo Casamento

A Bíblia fala em alguns textos sobre a necessidade de separação sem que necessariamente fosse por causa de relações sexuais ilícitas ou fornicação (porneia).

Como já é conhecido, Moisés deu carta de divórcio por causa da dureza de coração. Qual seria a dureza de coração para que se fizesse necessária a separação?

Vamos ler o texto de Deuteronômio?

Dt 24.1.4 Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta, logo depois, não encontrar mais graça a seus olhos, porque viu nela algo de inconveniente, ele lhe escreverá então uma ata de divórcio e a entregará, deixando-a sair de sua casa em liberdade. Tendo saído de sua casa, e se ela voltar a pertencer a outro, e se também este a repudia, e lhe escreve e lhe entrega em mãos uma ata de divórcio, e a deixa ir de sua casa em liberdade (ou se este outro homem que a tinha esposado vem a morrer) o primeiro que a tinha repudiado não poderá retomá-la como esposa, após ela ter-se tornado impura: isso seria um ato abominável diante do Senhor. E tu não deverias fazer pecar a terra que o Senhor teu Deus te dará como herança.

VEJA:

É por causa desse texto e de mais alguns que vou citar, que os Judeus lá no Novo Testamento repudiavam por qualquer motivo suas mulheres segundo a interpretação das escolas que estavam presentes com Jesus em Mt 19.

Vamos estudar um pouco sobre as escolas de Shammai e Hillel. Posso antecipar que um era mais conservador e outro mais liberal, e a partir desses influentes rabinos os fariseus interpretavam a Lei segundo as suas comodidades, a ponto de uma mulher poder ser repudiada por estar feia, de unha mal feita, queimasse a comida. Resumindo; por qualquer motivo.

Você percebeu que o marido que repudiou e a mulher repudiada poderiam casar de novo em Dt? Na discussão e interpretação bíblica não pode haver contradição entre Antigo e Novo Testamento (Primeiro e Segundo Testamento)

Ela podia pertencer a outro e o marido que a repudiou só não podia ficar com ela porque se tornara impura pelo fato de ter pertencido a outro. Que machismo maldito!

Já existe uma dificuldade no texto porque em Deuteronômio cap. 22.22 diz que a mulher adúltera e o homem com quem ela adulterou tinham que ser mortos. Lembre-se que a discussão lá no Novo Testamento está em torno destes textos aqui.

Como alguém poderia casar com uma mulher repudiada se ela tinha que ser morta pela lei?

Os Fariseus estavam ali para pegar Jesus em alguma contradição com a Lei. A Bíblia diz que eles foram ali para prová-lo. Veja, nem o homem que adulterou com ela estava ali, que segundo a lei, deveria ser morto junto com ela. Era uma armação clara contra Jesus. Lembre-se: Entre as escolas judaicas uma delas permitia o repúdio por qualquer motivo banal.

Lembre-se novamente que a discussão está acontecendo com os textos aqui, sendo o seu contexto.

Voltemos a Êxodo 34.16 quando Moisés fala de união mista (Israelitas com mulheres de outras nações), ele queria preservar a identidade do povo e a fé. A carta de divórcio foi por causa disso, levando-nos a considerar que a dureza de coração tinha ligação direta com isso.

Verifique o que estou dizendo em Esdras cap. 10.1,5, onde Esdras manda também que os israelitas se separem por causa de casamentos feitos com mulheres de outras nações.

Neemias é o caso mais grave porque se tratava da linhagem sacerdotal (Ne 13.23,31).

Vamos devagar para ver se dá para entender, e entendendo, continuamos.



Um Abraço

Wagner