terça-feira, 30 de junho de 2009

Ladeira a Baixo




Ladeira a baixo





Estamos seguindo ladeira a baixo. Saímos do cristianismo para a cristandade, da cristandade para o protestantismo, do protestantismo para o evangelicalismo, do evangelicalismo para o denominacionalismo, do denominacionalismo para o comunidadismo, e do comunidadismo para o institucionalismo. Isso começou a acontecer quando Constantino tornou o cristianismo religião oficial do império. Dali em diante, os templos e o clero passaram gradativamente a funcionar como aparelhos políticos de manutenção e extensão do poder de Roma. Os guias espirituais já não eram homens de confiança de Deus (se é que existem), mas do imperador. Os templos ficaram mais próximos de prefeituras do que das casas de oração. A coisa degringolou numa mistura de sexo, dinheiro e poder.
Lá pelos anos de 1500, além do Cabral, outros personagens faziam história. Ao tempo que era descoberta a Terra Brasilis, a cristandade também descobria o protestantismo. Lutero, Calvino e seus navegadores levaram a nau da igreja para um movimento de antítese à cristandade.
O protestantismo foi um movimento de protesto, e não de proposta. Foi uma reação à cristandade com suas cruzadas, seus cofres e suas inquisições. E foi uma reação teológica, conceitual, que aos poucos desembocou em propostas e experiências comunitárias. É aí que nasce o denominacionalismo.
Saímos do cristianismo para a cristandade, daí para o protestantismo e logo passamos para o denominacionalismo. E o carrinho vai descendo a ladeira. Agora já não falamos de fé cristã, mas de presbiterianismo, metodismo, batistismo, assembleiismo e outros ismos mais. Aos poucos, Deus vai perdendo vela na procissão. Cada denominação com sua declaração doutrinária, opção de governo e estrutura clerical, seu código de ética, seu centre de poder e sua volúpia expansionista. A luta subliminar é para ver quem tem na mão a melhor versão do cristianismo.
No entanto, na carona do liberalismo, demos outro salto, ou melhor, uma escorregada. Chegamos à livre iniciativa e à regulamentação do mercado versão gospel, e as denominações começaram a se fragmentar, vítimas da multiplicação de empreendedores religiosos, assim o sonho da ovelha classe média e deixar de ser ovelha e se tornar pastor, ou bispo, ou apóstolo, ou rei – quem sabe?
Do denominacionalismo, chegamos ao comunidadismo, o fenômeno caracterizado pela infinidade de igrejas independentes. Os empreendedores da religião, adeptos radicais da livre iniciativa, rompem com as multinacionais e megacorporações da fé e iniciam a própria microempresa religiosa – sua igreja, ou melhor, sua comunidade. São líderes espirituais autonomeados que reúnem pessoas em redor de si, de sua doutrina-opinião, sua visão-idéia brilhante, seu carisma-personalidade e suas doenças-doenças mesmo.
A partir de então surge a necessidade de defender suas distinções, isto é, as razões porque romperam com as igrejas de origem. Ficam obcecados em defender os pontos de discordância, e aos poucos o que era antítese vira tese; o que era aspecto secundário ao Evangelho vira aspecto essencial da doutrina da nova e emergente comunidade. A necessidade e afirmação, de fazer vingar a nova visão, geram vaidade disfarçada de piedade, em que o nome da comunidade passa a ser mais valorizado do que sua mensagem. E quando alguém abre os olhos, a vaca já foi para o brejo: o que era comunidade virou estação-grife.
Deste ponto em diante, os testemunhos deixam de ser “antes e depois de Cristo”, e passam a ser “antes e depois da igreja A”, “antes e depois da igreja B”. Os apelos financeiros se tornam necessários não para evangelização real, mas para que o Brasil tenha a oportunidade de ouvir “a visão que deus nos deu”. Chegamos ao institucionalismo, o pé da ladeira. E se você pensa que este é o pior cenário, ainda não ouviu falar dos filhos do institucionalismo.
O primeiro é o Dogmatismo, a absolutização de uma versão doutrinária em detrimento da própria verdade que se pretende interpretar. Nasceu quando a defesa e um credo foi tão contumaz que a declaração de fé substituiu a necessidade de revelação. O que antes era uma interpretação provável da Palavra de Deus, nas mãos e uma instituição passa a ser uma única verdade possível.
O segundo é o Moralismo, a absolutização da moral em detrimento da vida de santidade. Veio ao mundo pelas mãos da necessidade de padronização de identidade. É para quem deseja a uniformidade das consciências, nada melhor do que padronizar comportamentos.
O terceiro é o ritualismo, a absolutização de um processo litúrgico em detrimento da devoção do coração. A expressão devocional fica engessada no conjunto dia-hora-endereço-liturgia. Para falar a verdade, uma grande sacada: o que pode ser mais poderoso do que o universo simbólico e o rito para aprisionar fiéis? Esses três primeiros filhos do institucionalismo vêm com sobrenome bíblico – ou, se você preferir, com CIC e RG espiritual, ou seja, livro-capítulo-versículo, pois é possível justificar doutrina, moral e culto, com a Bíblia na mão.
O quarto é o tradicionalismo, a absolutização de uma experiência histórica em detrimento da liberdade do Espírito. Aquela de que “aqui sempre fizemos assim” é, na verdade, a afirmação sutil de que o Espírito parou de soprar desde que “discernimos nossa visão”, ou seja, “plantamos nossa instituição”. Espírito deixa de ser um vento, que não se sabe da onde vem nem para onde vai, para se tornar um ventilador barato, que na maioria das vezes nem chegar a girar. Claro, quem partiu para o caminho autocentrado e independente não pode mudar de opinião, rever conceitos, pois fazê-lo significa necessariamente questionar a gênese. Quem questiona processo histórico questiona uma sucessão de cooperadores, e quem questiona a própria história questiona a si mesmo: “Guru autonomeado nunca está errado”.
O quinto é o sectarismo, a absolutização de um grupo de adeptos em detrimento do corpo de Cristo – os filhos do Reino. Os sectários dizem que: “se você não crê como nós, não se comporta como um de nós, não cultua a Deus do nosso jeito, então não é um dos nossos. E se você não é um dos nossos, e nós temos a verdade, então você tem a mentira, esta no erro, ou em rebeldia contra a visão e a unção e a unção que Deus nos deu. Nesse caso, você deve se tornar um de nós, senão vai para o inferno”.
O sexto é o proselitismo, a absolutização do marketing religioso institucional em detrimento do ministério do Espírito Santo que convence do pecado e revela o Cristo.
Uma espiritualidade dissociada da vida e encravada no solo da religião institucionalizada conspira contra os interesses do reino de Deus e certamente contra as intenções de Jesus ao convidar pessoas a andar com ele na simplicidade do discipulado, em que os compromissos radicais diziam respeito ao ser, e ser em Deus, o Pai nosso. Compromissos que não se destinavam a uma instituição, mas ao Reino de Deus; não privilegiavam o universo religioso, mas a vida, o mundo, a Terra, e clamavam que fosse feita a vontade de Deus; não sobreviriam à custa do sectarismo proseletista dos padrões dogmáticos, moralista e ritualistas, mas no fundamento do perdão e da graça de Deus, possíveis apenas na mesa fraterna onde se reparte o pão de cada dia, o pão de todo dia; enfim, compromissos que se rebelavam contra toda e qualquer dominação e exploração do ser humano, pois o Reino de Deus é Reino onde somos livres do mal, do maligno e da malignidade, onde quer que se manifeste.

Pense muito nisso, porque eu estou pensando e olhando bem pra dentro de mim mesmo.

Outra Espiritualidade
Ed René Kivitz


Wagner

domingo, 28 de junho de 2009

O Homem de Intenção Impura


O Homem de Intenção Impura

O Homem de intenção impura não vê claramente que ele se engana a si mesmo. Cegado pelo próprio egoísmo, não vê se quer a sua própria cegueira. A hesitação que o divide entre a verdade própria e a divina não é completamente clara. Ela não envolve uma escolha prática entre duas alternativas manifestamente distintas. Ela mergulha-o numa confusão de escolhas duvidosas, num reboliço e possibilidades. Se ele tivesse suficiente paz interior para ouvir a consciência, escutála-ia dizer que ele não sabe realmente o que está fazendo. Verifica obscuramente que, se melhor se conhecesse, estaria menos inclinado a aludir-se a si próprio. Compreende que é às próprias idéias que ele está seguindo cegamente, sob a capa de motivos que não se apressou a examinar. Mas a verdade é que ele não quer examiná-los porque, se o fizesse, poderia descobrir que sua vontade e a vontade de Deus estão diretamente opostas uma a outra. Poderia acabar por descobrir que nenhuma outra alternativa lhe resta senão fazer a vontade de Deus, que de fato não deseja fazer.

Pensando nisso, já vi muita gente que quando teve uma situação muito boa, não demonstrou ser humilde, não demonstrou desapego ao dinheiro, quando teve algum êxito ministerial se tornou uma pessoa soberba, quando por necessidade, precisou inflingir as leis de Deus, não titubiou, quando Deus operava em sua vida, não deixou de valorizar sua própria glória.
Em outras palavras, é muito fácil só bater nos outros e principalmente quando se está fora do benefício e da glória que esse "ótimo" evangelho oferece pra muita gente. A VERDADE IRMÃOS: SE ESTIVESSEM LÁ, TALVEZ FOSSEM PIORES DO QUE TODOS ESSES DENUNCIADOS PELOS SENHORES.
Para terminar, tenho visto muita gente mudar o discurso quando as mesmas situações privilegiam a elas mesmas. Pessoas mais "santas", "éticas", "bem intencionadas", e que denunciam os "erros dos outros", na realidade, é só o vômito da frustração de não fazer parte disso.

Homem algum é uma Ilha
Thomas Merton

Pense e reflita
Wagner

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Poder Pastoral e a Exclusão do Corpo


O Poder Pastoral e a exclusão do Corpo (igreja).

Por mais que isso possa irritar os atuais detentores do poder eclesiástico, devemos constatar que a Igreja-instituição não passou pela prova do poder. Poderíamos ter esperado que ela exerceria uma forma de poder e governo, conforme os apelos do evangelho. O exercício de poder na igreja seguiu os critérios do poder pagão em termos de dominação, centralização, marginalização, triunfalismo, hibris humana sob capa sagrada.
O cristianismo perdeu o seu sal escatológico e se tornou uma ideologia que justifica as ordens de dominação que são dadas. Desta maneira, só aumenta a dicotomia entre o particular e o universal, evitando sua reconciliação numa sociedade mais livre. Tornou-se reacionário. Não basta argumentar: deve-se entender a história com os critérios de tempo.
A igreja instituída perdeu a chance de encarnar uma maneira nova de relacionamento entre os homens pelos caminhos do poder como pura função de serviço ao bem de todos e não pela gestão e alimentação de elites desfrutadoras e marginalizadoras.
Por essas e por outras razões, o cristianismo vai se tornando cada vez mais dispensável como ideologia da sociedade moderna secular e pragmática. Ele não é mais chamado, como antes na história, e servir de fator integrador e legitimador dos poderes afluentes. A própria consciência cristã esta se dando conta do impasse profundo concernente as instituições eclesiásticas. Examinando a atual igreja e se pergunta: até que ponto ela poderia ser outra em nossos dias?
O exercício da hierarquia compartilhada deve ser pensado, desenvolvido, porque todos estão sensíveis a uma participação efetiva lá onde se elaboram as decisões. Há um desejo de não oferecer apenas sugestões aos que decidem, mas decidir com os que decidem.
Os lideres que não observam e não compreendem esse tempo, não estão assimilando e nem percebendo os sinais, deixando de trabalhar para o futuro da igreja.
Hegel disse: “Quem não reconhece os erros do passado está condenado a repeti-los”
Impõe-se uma releitura da fé, com os olhos de quem já abandonou a perspectiva de poder. O poder eclesiástico, da ortodoxia, da tradição, de preservar mais do que criar, de moralizar mais do que profeticamente proclamar. Para uma igreja que busca uma presença nova no mundo e não que repetir os erros produzidos dia a dia pela sua forma de liturgia e governo, é imprescindível a centralidade de Jesus Cristo e da presença do Espírito na Igreja.

Livros:
O Último Degrau da Liderança
Um Novo Cristianismo para um Novo Mundo
Igreja: Carisma e Poder

Wagner

sábado, 20 de junho de 2009

LEIGOS, DEVERIAM OUVIR MAIS E FALAR MENOS



Mentalidade e Atitudes

O grego contempla o mundo e admira-o; o hebreu olha-o e aproxima-se, escuta-o e fala-lhe. O grego diz o que é algo como tal; o hebreu diz o que percebe e como o sente. Para o grego, o sentido mais importante é a vista; para o hebreu é o ouvido. Por isso, a arte grega era para ser contemplada, a hebraica é para ser vivida. De fato, o hebreu é uma pessoa eminentemente prática, o que se vê na cerâmica: não se interessava por sua beleza, mas por sua utilidade. A cerâmica grega, ao contrário, caracteriza-se por sua admirável beleza mais do que por sua utilidade, produto da mente inclinada à contemplação e à harmonia.
A mentalidade grega é eminentemente lógica; pergunta-se pela origem das coisas, de si mesmo, e por sua razão de ser. Pergunta-se pelas essências das coisas. Por isso, a filosofia está associada à Grécia. O hebreu, por sua parte, se pergunta pelo que as coisas fazem, é eminentemente prático e relacional. Conhecimento para o grego equivale a definir as realidades; para o hebreu, é interagir com elas. A verdade para o grego é intelectual, ele a discute, a deduz; para o hebreu, é relacional, “se faz” (Jo 3.21). O grego busca objetividade e exatidão; o hebreu predomina em subjetividade e afetividade. O grego busca a compreensão de algo, o hebreu busca sua significação. Com esta mentalidade cada um escreveu a “história” e, por isso, nos custa entender as narrativas bíblicas.
O grego analisa, quer compreender, definir, sistematizar, aponta para a perfeição nas formas de conduta, busca a harmonia. (É o que nós fazemos). A mentalidade hebraica move-se antes pela ação: é dinâmica e eminentemente relacional. Não busca tanto conhecer o mundo, mas dominá-lo. Por isso, Paulo observou que, a propósito do evangelho da cruz, “os judeus pedem sinais (milagres), e os gregos pedem sabedoria” (1 Cor 1.22).
O hebreu tende a exagerar, e muito; já o grego não é assim, pois se prende aos fatos e busca objetividade. Assim, a afirmação de que “Abraão viveu cento e sessenta e cinco anos”(Gn 25.7) ou de que Matusalém viveu “novecentos e setenta e nove anos”(Gn 5.27) significa em semítico, que era um homem abençoado por Deus, pois a vida é dom de Deus, e não literalmente viveu tantos anos. Quando lemos a advertência de Jesus “se alguém vem a mim e não odeia seu pai e sua mãe...” (Lc 14.26), devemos compreender que não se trata de odiar, mas de amar menos, como precisamente lemos no paralelo em (Mc 2.17), devemos compreender que não se trata de exclusões, mas de prioridades, no sentido de “não tanto a – como a”.
É importante entender o sentido de textos de corte histórico e os de aparência jurídica, entre outros.
É meus amigos, precisamos estudar bem mais.
Bíblia sem Mitos
Eduardo Arens

Wagner

domingo, 14 de junho de 2009

Hipocrisia


O QUE DIRIAM DE JESUS?

Jesus estava passando por uma cidade samaritana chamada Sicar, onde ali havia uma fonte chamada a fonte de Jacó. Jesus estando com sede, assentou-se junto à fonte para beber água. Uma mulher samaritana veio tirar água, Jesus disse-lhe: Da-me de beber. A partir daí começa um papo onde os dois estão inteiramente sozinhos, já que seus discípulos tinham ido a cidade comprar comida. O que se pensaria a respeito de Jesus sozinho conversando com uma mulher que já tivera cinco maridos e o que ela tinha agora, não era dela? Os Samaritanos e Judeus não falavam. Como interpretaríamos a atitude de Jesus conversando com essa mulher? Ele estaria na aparência do mal? Como nós julgaríamos um pastor conversando com uma mulher que já tivera várias relações e a que tinha agora não era dela? Imagina um pastor conversando sozinho com uma prostituta. Qual juízo de valores faríamos desse pastor? Conhecendo a cabeça de muita gente, no mínimo, achariam que esse pastor estava tranzando com essa mulher.

A atitude de Jesus para mim é libertadora, porque ele não estava nem aí para o que pensavam dele. Ele não estava preocupado com a aparencia do mau, até porque ele fazia sempre isso; chutava os cambistas do templo, escolhia um cobrador de impostos para o seu ministério, comia com pecadores, foi acusado de beberrão, se deixava tocar por prostitutas e etc. A grande questão é: Como você julgaria as atitudes de Jesus? Como você julgaria a atitude de um pastor conversando sozinho com uma prostituta? Você escolheria Mateus, um cobrador de impostos para o teu ministério? Tem certeza que você não diria que Jesus estava comendo aquela mulher?

A impressão que eu tenho é que os nossos discursos são frutos da nossa frustração, da falta de conhecimento e pelo fato de não fazermos parte do benefício que advém da igreja instituída.

Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros (Aletinói no grego) quer dizer, verdade no íntimo. Adoradores (de tal tipo) adorarão o Pai em espírito e em verdade ( a verdade expressa, não é uma questão de certo e errado, mas a verdade plantada no interior). Aí se reconhece o sepulcro caiado.


Pense nisso!
Wagner