sábado, 30 de outubro de 2010

Nutrindo Alguma Esperança. Uma Utopia do Meu Coração.

Depois de simplesmente um tumor de 5 centimetros desaparecer na minha esposa e vendo uma equipe médica perplexa e dizendo que um milagre havia acontecido, o meu coração se comove diante de Deus.
Fora da igreja institucional temos muito a fazer.




Muito bom
Daniel de Souza

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Quem é tua cobertura?

 
“Afinal, quem é tua cobertura?”


Esta é a pergunta concisa feita por muitos cristãos modernos em toda parte aos que se reúnem fora da igreja institucional. Mas, o que há no âmago desta pergunta? Qual sua base bíblica? É disto que nos ocuparemos neste livro.

Sustento que o ensino moderno conhecido como “cobertura protetora” tem gerado uma enorme confusão e uma conduta cristã anômala. Este ensino afirma que os cristãos estão protegidos do erro doutrinal e do fracasso moral quando se submetem à autoridade de outro crente ou organização.

A dolorosa experiência de muitos me levou a concluir que o ensino da “cobertura” é um assunto que perturba grandemente a Sião em nossos dias e exige uma reflexão crítica.

Nas páginas a seguir, tento abrir caminho a través da névoa que rodeia aos temas difíceis vinculados com este ensino. Refiro-me a temas tão espinhosos como o da liderança da igreja, a autoridade espiritual, o discipulado e a responsabilidade de prestar contas. Ademais, busco bosquejar um modelo integral que nos permita entender como opera a autoridade na ekklesia (igreja).

A “Cobertura” está Coberta pela Bíblia?

É surpreendente que a palavra “cobertura” apareça apenas uma vez em todo o NT. É usada referindo-se à cabeça coberta da mulher (1 Cor. 11:15). Ao passo que o Antigo Testamento (AT) utiliza pouco este termo, sempre o emprega referindo-se a uma peça do vestuário natural. Nunca é utilizado de maneira espiritual ligando-o a autoridade e submissão.

Portanto, a primeira coisa que podemos dizer acerca da “cobertura” é que há escassa evidencia Bíblica para construir-se uma doutrina. Não obstante, incontáveis cristãos repetem como papagaios à pergunta “quem-é-tua-cobertura?” e insistem nela como se fosse a prova do ácido que mede a autenticidade de uma igreja ou ministério.

Se a Bíblia silencia com respeito à idéia da “cobertura” o que é que se pretende dizer com a pergunta, “Quem é tua cobertura”? A maioria (se insistíssemos) formularia esta mesma pergunta em outras palavras: “A quem você presta contas?”.

Mas isso suscita outro ponto difícil. A Bíblia nunca remete a prestação de contas a seres humanos, mas exclusivamente a Deus! (Mat. 12:36; 18:23; Luc. 16:2; Rom. 3:19; 14:12; 1 Cor. 4:5; Heb. 4:13; 13:17; 1 Ped. 4:5).

Por conseguinte, a sadia resposta Bíblica à pergunta “a quem prestas contas?” É bem simples: “presto contas à mesma pessoa que você, a Deus”. Assim, pois, é estranho que tal resposta provoque tantos mal entendidos e falsas acusações.

Deste modo, embora o tom e o timbre do “prestar contas” difira apenas da “cobertura”, a cantilena é essencialmente a mesma, e sem dúvida não harmoniza com o inconfundível canto da Escritura.

Trazendo à Luz a Verdadeira Pergunta que se Esconde Atrás da Cobertura

Ampliemos um pouco mais a pergunta. Que é que se pretende realmente dizer na pergunta acerca da “cobertura”? Permito-me destacar que a verdadeira pergunta é, “Quem te controla?”.

O (maléfico) ensino comum acerca da “cobertura” realmente se reduz a questões acerca de quem controla quem. De fato, a moderna igreja institucional está construída sobre este controle.

Conseqüentemente, a gente raras vezes reconhece que é isto que está na base da questão, pois se supõe que este ensino esteja bem ancorado nas Escrituras. São muitos os cristãos que crêem que a “cobertura” é apenas um mecanismo protetor.

Assim, pois, se examinarmos o ensino da “cobertura”, descobriremos que está baseado em um estilo de liderança do tipo cadeia de comando hierárquico. Neste estilo de liderança, os que estão em posições eclesiásticas mais altas exercem um domínio tenaz sobre os que estão debaixo deles. É absurdo que por meio deste controle de direção hierárquica de cima para baixo se afirme que os crentes estejam protegidos do erro.

O conceito é mais ou menos o seguinte: todos devem responder a alguém que está em uma posição eclesiástica mais elevada. Na grande variedade das igrejas evangélicas de pós guerra, isto se traduz em: os “leigos” devem prestar contas ao pastor. Que por sua vez deve prestar contas a uma pessoa que tem mais autoridade.

O pastor, tipicamente, presta contas à sede denominacional, a outra igreja (muitas vezes chamada de “igreja mãe”), ou a um obreiro cristão influente a quem considera ter um posto mais elevado na pirâmide eclesiástica.

De modo que o “leigo” está “coberto” pelo pastor, e este, por sua vez, está “coberto” pela denominação, a igreja mãe, ou o obreiro cristão. Na medida que cada um presta contas a uma autoridade eclesiástica mais elevada, cada um está protegido (“coberto”) por essa autoridade. Esta é a idéia.

Este padrão de “cobertura-responsabilidade em prestar contas” se estende a todas as relações espirituais da igreja. E cada relação é modelada artificialmente para que encaixe neste padrão. É vedada qualquer relação fora disto – especialmente dos “leigos” com respeito aos “líderes”.

Mas esta maneira de pensar gera as seguintes perguntas: Quem cobre a igreja mãe? Quem cobre a sede denominacional? Quem cobre o obreiro cristão?

Alguns oferecem a fácil resposta de que Deus é quem cobre estas autoridades “mais elevadas”. Mas esta resposta enlatada demanda outra questão: O que impede que Deus seja diretamente a “cobertura” dos “leigos”, ou mesmo do pastor?

Sem dúvida, o problema real com o modelo “Deus-denominação-clero-leigos” vai bem além da lógica incoerente e danosa a que esta conduz. O problema maior é que este modelo viola o espírito do Novo Testamento, porque por trás da retórica piedosa de “prover da responsabilidade de prestar contas” e de “ter uma cobertura”, surge ameaçador um sistema de governo que carece de sustento bíblico e que é impulsionado por um espírito de controle.


Frank Viola

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pr. Cesar Moisés da Conselhos aos "atalaias e apologetas". rsrsrsrs

11 CONSELHOS PARA QUEM EDITA (OU QUER EDITAR) UM BLOG


Com o espantoso crescimento do número de blogs cujos editores são bem jovens, resolvi publicar esse post e espero preveni-los de alguns males comuns aos seres humanos (todos, indistintamente, candidatos a vaidosos). Como existem blogueiros mais experientes, devo adverti-los que a lista é sucinta e pode ter acréscimos e contribuições, portanto, fique a vontade para comentar. Ah, outra coisa, escrevi o post, mas não tenho a pretensão de estar falando a “verdade absoluta”, pois desde os tempos de academia sigo o conselho dado por Rubem Alves em Entre a Ciência e a Sapiência, quando ele disse que o convicto é pior que o mentiroso. O raciocínio é simples: o último precisa tomar vergonha e parar de mentir, mas o primeiro, mesmo depois de lhe ser provado que madeira não é ferro, insiste no ponto, pois acha que sua estupidez é saber...




1. Se você trabalha, não use o horário do expediente para escrever algum post, pois você é pago para produzir e isso, além de antiético, é pecado;

2. Se você optar por escrever um blog polêmico, esteja aberto a críticas, discordâncias e contestações (se você tiver uma tendência inflexível e hiper-convicta, escolha outro gênero);

3. Se você é daqueles que “pensam bastante para falar” (e escrever), mas cujo pensamento é unilateral, ou seja, só pensa em uma única direção; exercite a capacidade de pensar de maneira mais abrangente, pois a internet é uma “estrada onde transitam” pessoas de diferentes capacidades intelectuais (pense bem, pois é feio ficar mudando o que você escreveu sem avisar quem já comentou dando a entender que você já havia considerado a possibilidade do comentarista... além de ser antiético, fica parecendo que você quer maliciosamente transferir para os comentaristas o erro que eles levantaram em seu post. Nunca trate dessa forma quem lhe honrou com uma participação em seu blog);

4. Se você norteia-se pelo aspecto quantitativo mais do que pelo qualitativo, pense bem, pois certamente se tornará estigmatizado e possuirá determinado rótulo, sendo depois complicado mudar a imagem anteriormente formada de si mesmo;

5. Se você gosta de denunciar erros (mesmo que isso seja algo sincero e não simplesmente para se auto-promover achando que ser taxado de guardião da sã doutrina e da boa ordem é elogio), é bom que não tenha nascido depois de Adão, pois qualquer deslize será o estopim para que você seja tratado com a mesma rigorosidade com que trata as pessoas (e aí não adianta ficar choramingando pelos cantos, pois isso pega mal...);

6. Se você depende de elogios para sobreviver, seja sutil; mas se quer verdadeiros amigos, esteja disposto a suportar a opinião contrária sem apelar para manipulações baratas ou desqualificação pessoal (a não ser que você seja um acadêmico respeitado, que tenha formulado uma tese que ainda não foi superada em uma academia de respeito, mesmo assim, os maiores e melhores pensadores sabem ― até mesmo por força do ofício ― conviver com a dialética e o confronto...);

7. Se você tem uma opinião muito elevada acerca de si mesmo, ou uma autocrítica muito positiva em relação a sua própria pessoa (a redundância aqui é intencional), faça de tudo para que isso não transpareça, seja discreto, pois é impossível agradar a todos (não caia na bobagem de ficar acusando de invejosos àqueles que já perceberam sua hybris, isso o tornará insuportável, pois dará a nítida impressão que você não é apenas narciso, mas também estulto, pois quer algo que até Deus não possui: 100% de adesão!);

8. Se você quiser audiência, procure discutir assuntos diferentes (ou corriqueiros de maneira diferente). Agora se você quiser muita audiência mesmo, se você quiser ser pop, certamente terá que se tornar alguma coisa do tipo medíocre, irrelevante e polarizador (Ao deglutir um assunto diferente do que está na “crista da onda” ― certamente você deve ficar incomodado quando a sua audiência está meio “caidinha” em relação aos blogs “concorrentes” ―, arrisque algo inusitado, mas tome cuidado para não cair em contradição com o que você defende em outras instâncias ou momentos, pois isso estraga “os negócios”...);

9. Se você é do tipo que não se dá ao luxo de ouvir outras pessoas (não aquelas que você elegeu como seus “referenciais”, pois essas podem esconder-se em sua paixão por elas e é lógico que você ― até por uma questão de interesse próprio ― fechará os olhos em relação as suas ambiguidades) e queira derrubar uma tese muito bem arraigada, é bom embasar-se suficientemente e reunir conhecimento para tal empreitada, pois do contrário isso apenas lhe gerará problemas e não novos admiradores e fãs que é o seu alvo (Além disso, se a sua profissão não é a mesma daqueles bonachões que fazem a alegria da garotada no circo, evite que o pessoal da academia leia algo que você escreveu com pretensão de desconstruir uma tese epistemologicamente fundamentada, e fique rindo ― não apenas de sua tresloucada performance ―, mas de todo o grupo de pessoas do qual você é parte);

10. Se você é ciumento, possessivo e acha que todo o mundo tem que ser apenas amigo seu e não dos outros, só pode elogiar o seu trabalho e não o dos outros, precisa aceitar tudo o que você diz acriticamente, como vaquinha de presépio, então coloque a moderação em seu blog, só libere comentários elogiosos e, de vez em quando, “unzinho” assim mais crítico que é para os seus pares lincharem o camarada e disfarçar seu egocentrismo (Agora, não seja infantil de querer ficar colocando barreiras nos blogs alheios, pois aí a coisa fica muito descarada e certamente as pessoas não vão aceitar o cerceamento...);

11. Finalmente... se você for coerente, esqueça todos esses conselhos, pois terá maturidade suficiente de, em caso de erro ou equívoco, se retratar, pedir desculpas e continuar o seu caminho consciente do que disse (pois o seu maior árbitro, que é a sua consciência, não lhe deixará em paz), mas não tentará ficar maquiando a esparrela postada (Na realidade, esse último conselho, serve também para você que incorre em todos os outros acima, pois atualmente dá uma moral danada bancar o humilde: “Sou o melhor, para a glória de Deus”...).



Ah, já ia me esquecendo: Qualquer identificação com os elementos desse post (visto que são assuntos bem abrangentes e que se encaixam naquela categoria dos reveladores que diante de uma multidão afirma que alguém ali “tem um problema de estômago”), não será surpresa. A única coisa que não dá, é sentir-se tão importante, a ponto de pensar que tudo que se escreve na blogosfera é para “pegar em você”. Tem gente que é como o cara que estava indo para uma festa e entrou em uma rua na contramão. Os carros começaram a desviar dele e os motoristas buzinavam e acenavam, mas incrivelmente ele colocou a cabeça para fora e perguntou: “A festa já acabou?”. Assim, em vez de assumir uma postura conspiracionista (“Todo o mundo está contra mim”) ou autocomiserativa (“Como eu sou perseguido”), é melhor emendar-se e verificar o porquê de como tudo que se escreve nessa linha parece lhe atingir...


Pr. Cesar Moisés
http://marketingparaescoladominical.blogspot.com/search?updated-max=2010-10-17T03%3A34%3A00-02%3A00&max-results=7

sábado, 23 de outubro de 2010

Rejuvenecer como águias

Ao pensar nisso, lembrei-me de um mito da antiga cultura mediterrânea sobre o rejuvenescimento das águias. De tempos em tempos, reza o mito, a águia, como a fênix egípcia, se renova totalmente. Ela voa cada vez mais alto até chegar perto do sol. Então as penas se incendeiam e ela toda começa a arder. Quando chega a este ponto, ela se precipita do céu e se lança qual flecha nas águas frias do lago.

Através desta experiência de fogo e de água, a velha águia rejuvenesce totalmente. Volta a ter penas novas, garras afiadas, olhos penetrantes e o vigor da juventude. Seguramente este mito constitui o substrato do salmo 103 quando diz:"O Senhor faz com que minha juventude se renove como uma águia".

Fogo e água são opostos. Mas quando unidos, se fazem poderosos símbolos de transformação. O fogo simboliza o céu, a consciência e as dimensões masculinas no homem e na mulher. A água, ao contrário, a terra, o inconsciente e as dimensões femininas no homem e na mulher. Passar pelo fogo e pela água significa, portanto, integrar em si os opostos e crescer na identidade pessoal. Ninguém ao passar pelo fogo ou pela água permanece intocado. Ou sucumbe ou se transfigura, porque a água lava e o fogo purifica.

A água nos faz pensar também nas grandes enchentes que com sua força tudo carregam, especialmente o que não tem consistência e solidez. São os infortúnios da vida. E o fogo nos faz imaginar as fornalhas que queimam e acrisolam tudo o que não é essencial. São as notórias crises existenciais. Ao fazermos esta travessia pela "noite escura e medonha", como dizem os mestres espirituais, deixamos aflorar nosso eu profundo. Então amadurecemos para aquilo que é autenticamente humano. Quem recebe o batismo de fogo e de água rejuvenesce como a águia do mito antigo.

Mas abstraindo das metáforas, que significa concretamente rejuvenescer como águia? Significa entregar à morte tudo aquilo que de velho existe em nós para que o novo possa irromper e ser integrado. O velho em nós são os hábitos e as atitudes que não nos engrandecem, como a falta de solidariedade para com os pobres, o desinteresse pelo bem comum, a vontade de ter razão e vantagem em tudo, o descuido para com o lixo, o desperdício da água e o desrespeito para com a natureza. Tudo isso deve ser entregue à morte para podermos inaugurar uma forma sustentada de convivência entre os humanos e com os demais seres da criação. Numa palavra, significa morrer e ressuscitar.

Rejuvenescer como águia significa também desprender-se de coisas que um dia foram boas e de ideias que foram luminosas mas que lentamente se tornaram ultrapassadas e incapazes de inspirar o caminho da vida.

Rejuvenescer como águia significa ter coragem para recomeçar e estar sempre aberto a escutar, a aprender e a revisar.


Pare e pense

Que o Spiritus Creator nunca nos falte!
Leonardo Boff

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A PASTORAL DO MEDO





Há um bom motivo pelo qual o alarmismo é contagioso e irresistível, e se espalha como a peste pelas veias da internet; há um motivo pelo qual os pregadores invariavelmente demonizam seus adversários, e afirmam haver gigantes insaciáveis onde ficará demonstrado haver moinhos de vento: semear o medo torna as pessoas vulneráveis, e gente vulnerável pode ser manipulada.

O medo só é capaz de dominar quem tem alguma coisa a perder; quem não tem nada a perder não tem a nada temer. Esta é uma equação delicada, especialmente num país como o Brasil, em que a distribuição de renda está entre as dez mais desiguais do mundo (e é um mundo grande): há sempre o risco de que os que não tem nada a perder se levantem contra os que tem tudo a perder.

Em todo o mundo, mas especialmente num país com a nossa história, a classe média ocupa mais ou menos o espaço que ocupava a nobreza nos tempos medievais e coloniais. E, como sabemos o que aconteceu à nobreza em insurreições como a Revolução Francesa, a classe média adentrou a era moderna imbuída de um medo que lhe é absolutamente característico e essencial: o medo da perturbação social.

A classe média sabe desejar o progresso e é capaz de assimilar a mudança, porém (exatamente como a nobreza antes dela) tem absoluto horror à desordem. Seu mundo de shopping centers, de ambientes de ar condicionado e de seguranças na porta (a fim de manter os incompatíveis à distância) deve ser resguardado a todo custo. Passeatas, quebra-quebras, invasões de sem-terra, ladrões que levam o iPad e revoluções de gente faminta devem pertencer ao domínio ilustrativo dos filmes de zumbi. Na verdade, já o constrangimento de ser abordado por uma criança de rua na esquina deve ser aplacado pelo uso preventivo de carros blindados e vidros escuros.

A estabilidade social, entendida como a manutenção de um estado de coisas em que uma minoria administre e se beneficie de recursos que são de todos, é o valor por excelência da classe média. Não há outra verdade eterna que ela esteja disposta a defender.

O medo da perturbação social, no entanto, é genérico demais e precisa encontrar ícones que os encarnem de modo satisfatório. É preciso pulverizar o nosso medo essencial atribuindo-o a culpados e demônios.

E, se quisesse manipular nos nossos dias uma burguesia absolutamente aterrorizada diante da possibilidade de perturbações sociais, que alvos você elegeria? Deixe-me ajudá-lo: elejamos os homossexuais, os que defendem o aborto, os sem-terra, os comunistas.

Cada uma dessas categorias representa, à sua maneira, uma formidável possibilidade de perturbação social; cada uma, à sua maneira, materializa uma ameaça à tranquilidade sanitizada do indefectível universo burguês, em que nada é sujo, nada é feio, nada é controverso e nada é constrangedor.

E que ameaça maior do que um mundo em que a união civil entre homossexuais denuncie diariamente o caráter relativo e historicamente determinado de soluções de convívio que a sociedade toma por normativas? O que parecerá mais perturbador do que um mundo em que gente do sexo masculino ouse definir a sua relação mútua pela afetividade e não pela agressividade e pela competição? Um mundo em que mulheres ousem prescindir do homem para encontrar a sua satisfação sexual e emocional?

Do mesmo modo, será preciso avaliar a ameaça de um mundo em que o aborto exista sequer como possibilidade. Porque este mundo irá postular como legítimo que a mulher exerça controle sobre seu próprio corpo e sobre seu próprio prazer, e esses domínios pertencem por tradição ao âmbito do seu homem.

E que dizer dos sem-terra e dos comunistas, que blasfemam do próprio capitalismo e querem virar o mundo do avesso, ignorando os privilégios milenares da propriedade, da classe social e do lucro, e isso em favor de uma ameaça tão declarada quanto a “igualdade social”? O que pode ser mais inaceitável do que esse ataque direto à estabilidade – à própria existência – do mundo entrincheirado da burguesia?

Se é para preservar o presente mundo das perturbações sociais, será necessário negar qualquer igualdade de direitos civis aos homossexuais, chamando sua demanda de ditadura gay; será preciso abominar o aborto acenando com a bandeira pró-vida, ao mesmo tempo em que escondemos atrás dela os recursos que financiam a morte nas guerras e o horror das crianças vivas que passam fome patrocinada pelo capitalismo; será preciso rejeitar qualquer iniciativa que altere desfavoravelmente (para nós) a distância de segurança entre as castas, tachando-as de paternalismo, assistencialismo, compra de votos e introdução gradual da doutrina comunista.

Pelo menos desde a Idade Média o papel da igreja foi fundamental na definição e na propagação de medos expiatórios como esses. Num sentido muito profundo, a igreja vive de elencar os medos que a sociedade deve ter. Coube tradicionalmente a ela fornecer os demônios cuja execração garanta a continuidade do estado de coisas – e resguarde, no mesmo pacote, a influência que a própria igreja exerce sobre as pessoas.

Aqui está Jean Delumeau, notável mapeador de medos, falando da cidade sitiada que era a sociedade medieval:

Os homens da igreja levantaram os males que [Satã] é capaz de provocar e a lista de seus agentes: os turcos, os judeus, os heréticos, as mulheres (especialmente as feiticeiras). Operaram uma triagem entre os perigos e assinalaram as ameaças essenciais, isto é, aquelas que lhes pareceram tais, levados em conta sua formação religiosa e seu poder na sociedade. Uma ameaça de morte viu-se assim segmentada em medos, seguramente temíveis, mas “nomeados” e explicados, porque refletidos e aclarados pelos homens da igreja. Essa enunciação designava perigos e adversários contra os quais o combate era, se não fácil, ao menos possível, com a ajuda da graça de Deus. Desmascarar Satã e seus agentes e lutar contra o pecado era, além disso, diminuir sobre a terra a dose de infortúnios de que são a verdadeira causa. Essa denúncia se pretendia, pois, liberação, a despeito – ou melhor por causa – de todas as ameaças que fazia pesar sobre os inimigos de Deus desentocados de seus esconderijos.

Basta que se troquem os rótulos – saem turcos, judeus, heréticos e feiticeiras e entram comunistas, homossexuais, feministas e muçulmanos – para que se veja que a igreja permanece elegendo “ameaças essenciais” de modo a beneficiar-se do pavor que a sociedade tem de perder os privilégios da familiaridade.

A igreja formal contemporânea dispõe de uma parcela de poder infinitamente menor do que a medieval, mas isso não torna os seus esforços menos enfáticos. Ao contrário, para resguardar o pouco poder que lhe resta, os homens da igreja se entregarão com paixão inquisitorial à tarefa de elencar demônios e exercer sua faculdade autoimposta de polícia social. E, como observado por Delumeau, parte essencial dessa estratégia é manter os cristãos com uma certa dose de medo de si mesmos – medo de serem contados entre o inimigo, medo de não defenderem com suficiente ardor uma pureza nominal, medo da rejeição institucional e de seus preços.

O problema de uma comunidade dominada pelo medo é que ela pode ser manipulada a ceder a gravíssimas injustiças em nome da preservação de sua tranquilidade idealizada. Dessa forma a Alemanha abraçou de bom grado o discurso nazista, por medo das perturbações sociais encarnadas na ameaça do comunismo e numa suposta dominação judaica mundial. Dessa forma a Itália dobrou-se servilmente ao fascismo e o Brasil à ditadura militar, porque esses autoritarismos berravam ameaças de uma impensável sublevação e de um horrendo nivelamento societário. E, como era de se esperar, esses movimentos de terror contaram com o apoio aberto – e, em alguns casos, o constrangido silêncio – da igreja.

Em que somos menos manipuláveis do que a Alemanha nazista, se tememos as mesmas coisas? Os nazistas temiam que os judeus imprimissem no mundo seus valores, sua supremacia e sua estética, e nós tememos que os homossexuais implantem nele a sua agenda; os nazistas temiam que os comunistas aplainassem as classes ao ponto de uma completa descaracterização nacional, e nós tememos a mesma coisa. Somos nós a cidade sitiada, e o que nos conforta são os gritos do clero explicando o que devemos temer – e assim o que devemos odiar.

A ironia da participação da igreja na disseminação desses terrores está em que o movimento cristão nasceu e se desenvolveu num ambiente caracterizado por formidáveis perturbações sociais. Jesus ganhou fama de rei numa Palestina ocupada em que vinham periodicamente à tona levantes e guerrilhas dirigidas contra os romanos e sua opressão imperialista. O Templo dos judeus não sobreviveu ao sangrento confronto do ano 70 desta era, e poucas décadas mais tarde os próprios cristãos viram levantar-se contra o seu mundo uma longa e implacável perseguição.

Ainda mais paradoxal é reconhecer que, se devemos dar crédito ao Novo Testamento, a maior e mais radical fonte de perturbação social naqueles anos foi o próprio movimento cristão. Dos apelos de João Batista por justiça social até as mesas comunitárias do livro de Atos, passando pelos confrontos de Jesus com todas as elites do seu tempo, o movimento do reino representou uma intransigente e contínua sublevação societária.

Em conformidade com a herança de seu mestre (e causando o mesmo tipo de constrangimento), os colonos do reino levavam por onde passavam as demandas por justiça, por fraternidade universal e pelo amor incondicional entre os homens. Quando a boa nova chegou a Tessalônica, na pessoa de Paulo e Silas, seus adversários não poderiam ter escolhido melhor as palavras para descrever a ameaça de perturbação social que representavam: “esses que estão virando o mundo de cabeça para baixo chegaram também aqui”.

Quando adotamos o discurso do medo, portanto, estamos tentando imprimir sobre a proposta impoluta e subversiva do reino marcas que são incompatíveis com a sua essência e com a sua herança. Porque o Novo Testamento não deixa espaço para dúvida: igreja não é quem teme a perturbação social, mas quem a provoca. Igreja não é quem promove o medo, mas quem o aplaca e o anula pela inclusão e pelo amor. “O amor lança fora todo o medo”, ousou proclamar a provisão imprudente do Espírito.

E nós, o que fazemos? Enquanto a igreja exemplar do livro de Atos aprendia, passo a passo, a incluir o diferente e o tido previamente como inaceitável (a mulher, o aleijado, o eunuco, o gentio), nós demonizamos como inaceitável o homossexual. Enquanto a igreja exemplar do livro de Atos adotava todo o tipo de medidas distributivas e postulava um reino definido pela equidade, nós condenamos como comunismo e como Satanás a mínima provisão que vise apenas desbastar os abismos da distribuição de renda.

E nisso, que fique muito claro, vamos escolhendo aqueles medos que nos mantenham a salvo da nossa vocação.

Paulo Brabo

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Michel Temer é Satanista?


Introdução

Michel Temer é satanista? Muitos atualmente fazem esta pergunta. Tanto que até o Google já faz a associação do seu nome com a palavra satanismo quando você procura informações sobre ele. Porém acompanhe neste artigo informações sobre onde, como e porque surgiu isto e assim tire suas próprias conclusões diante dos fatos.

Quem é Michel Temer?

Michel Miguel Elias Temer Lulia nasceu em Tietê (SP), no dia 23 de setembro de 1940. Sua família, católica, imigrou de Betabura, na região de El Koura, Norte do Líbano, em 1925. Temer é formado em Direito pela tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Doutorou-se pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e dirigiu o curso de pós-graduação da Faculdade de Direito da PUC-SP.

Iniciou a carreira política como oficial de gabinete de seu ex-professor Ataliba Nogueira, secretário de Educação de Adhemar de Barros. Michel Temer foi procurador-geral do Estado em 1983 e deixou o cargo para ser secretário de Segurança Pública de São Paulo.

Elegeu-se deputado constituinte pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e participou ativamente da Assembléia Nacional Constituinte, tendo se destacado pela posição moderada, sóbria e pelo grande conhecimento de direito constitucional. Após a Constituinte, foi reeleito deputado federal e já exerce o seu sexto mandato – todos pelo PMDB.

Foi escolhido três vezes presidente da Câmara dos Deputados, em 1997, 1999 e 2009 e em 2010 Michel Temer lançou-se como candidato a Vice-Presidente na chapa de Dilma.

Na edição 34 (Julho/2009) da Revista Rolling Stone Brasil, Temer foi entrevistado como sendo o possível vice da Dilma e por fim respondeu a seguinte pergunta: “Há sites evangélicos que afirmam que o senhor é satanista. Tem conhecimento disso? Sim, tenho conhecimento. Falei com vários evangélicos. Eles acham uma loucura. Na internet dizem que sou filho de Satã, que me filiei a uma corrente satanista. Deve ser coisa de algum inimigo meu.” ( Cf. http://www.rollingstone.com.br/edicoes/34/textos/3833/ ).

Entretanto antes dessa entrevista, deve-se perguntar onde e como surgiu essa informações.

Sabe-se que parte desse rumor deve-se a um e-mail de origem desconhecida que circulou na internet em Março de 2009 dizendo que Neuza Itioka, líder evangélica do Ministério Ágape Reconciliação, conhecida por ministrar seminários de Batalha Espiritual no meio evangélico brasileiro, estava sendo ameaçada por Michel Temer; Nesse e-mail encontra-se a afirmação que Michel Temer juntamente com Sarney, Dantas, Dirceu e até Kassab são satanistas, sendo dito também que Michel Temer seria o pai de Daniel Mastral, o polêmico escritor de livros evangélicos e suposto ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica secreta, chamada de Irmandade (Cf. http://www.pavablog.com/2009/03/10/bocejo-47/ ).

Sabe-se entretanto que logo após a circulação desse e-mail entre os evangélicos, a autoria dele e seu conteúdo foi negado pelo Ministério Ágape Reconciliação, o qual em nota divulgada em seu site oficial disse se tratar de boato usando o nome da Dra. Neuza Itioka. Infelizmente essa nota já foi retirada do site, contudo ainda é possível encontrar no Google um vestígio dela ( Cf. http://www.google.com.br/webhp?hl=pt-BR#hl=pt-BR&source=hp&q=%22Correm+muitos+boatos+com+o+nome+da+Dra+Neuza+Itioka%22&aq=f&aqi=&aql=&oq=&gs_rfai=&fp=33600a501c3879ff ). Click na imagem:

Neuza Itioka e Daniel Mastral possuem desde 1998 uma relação de afinidade, uma vez que foi ela quem o apresentou como sendo ex-satanista de uma poderosíssima organização satânica. Entretanto sabe-se também que ultimamente ela não presta mais apoio ao ministério do Mastral.

O real motivo para tal separação ministerial entre eles não se sabe oficialmente, pois ambos preferem se silenciarem sobre o caso, contudo observa-se que Mastral não conta mais com o apoio ministerial de Neuza Itioka e não se nota mais entre eles aquela indicação recíproca que havia antes.

Isso não quer dizer que são inimigos e que agora se odeiam. De forma alguma, mas a separação ministérial é notável.

Mas nada disso também é sem razão. Daniel Mastral, cujo nome real é Marcelo Agostinho Ferreira, tem sido questionado pela Igreja quanto a veracidade do seu testemunho publicado em seus livros.

A exemplo de Davi Silva, ex-vocalista do Ministério Casa de Davi, que criou, se apropriou e mentiu a respeito do seu testemunho de vida e recentemente teve a atitude louvável de vir a público para pedir perdão, suspeita-se também que os livros de Daniel Mastral sejam uma mistura de ficção com realidade.

Para fundamentar tais suspeitas sobre a veracidade do testemunho do Mastral, algumas pessoas que conhecem de perto aquilo que ele publicou, elas prestaram depoimento público no site de relacionamentos Orkut, sendo isso do conhecimento de todos que acompanham tais comunidades.

Para aqueles que possuem acesso ao site de relacionamentos orkut, ali poderão conhecer o testemunho da “Camila”, a ex-noiva do Mastral, citada com este pseudônimo por Mastral em seus livros: http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs?cmm=1443894&tid=5345978388333144602

Eu, juntamente com mais duas pessoas, nós a conhecemos pessoalmente em julho/2009, no Anhagabaú em SP. E segundo ela publicou no orkut e também nos relatou pessoalmente, Mastral é filho do mesmo pai que seus outros irmãos, o sr. Laércio Bastos Ferreira (in memorian).

“Camila”, que possui ainda contato com a mãe do Mastral, a sra. Regina Agostinho Ferreira, ela diz que segundo a própria mãe dele, trata-se de um completo absurdo o filho publicar um livro dizendo que ela adulterou e que para piorar isso aconteceu com um satanista.

De acordo com “Camila”, a mãe do Mastral não entende porque o filho está fazendo isso com ela. E lamentavelmente, desde a publicação desses livros ela deixou a igreja e sofre muito com essa injustiça e humilhação.

Desse modo presumi-se ser inverdade a afirmação que Mastral faz a respeito de sua paternidade advir de um suposto satanista na política, que no livro ganha o pseudônimo de “Marlon”; Sendo que nesse caso compete ao Mastral provar suas afirmações contra sua mãe demonstrando que verdadeiramente não é filho do mesmo pai que seus irmãos; E isso pode ser feito atualmente por meio de exame de DNA, sendo que nos casos do pai ser falecido, a tecnologia atual mostra que não há mais necessidade de exumação de cadáveres. ( http://www.laboratoriogene.com.br/?area=testePaternidadePai ).

É verdade que Mastral não apresenta nomes reais, nem tão pouco afirma ser Michel Temer seu pai biológico, fruto do suposto adultério com sua mãe, mas valendo-se de uma certa semelhança física, Mastral diz em seus seminários que o símbolo do partido político do “Marlon” apresenta um foguinho, algo que é prontamente indetificando como sendo o símbolo do PMDB e que o mesmo faz aniversário no final de Setembro, que é uma data importante para os satanistas (23/09).

Tudo isso então induz, instiga e leva as pessoas a concluírem por conta própria que o suposto pai satanista de Daniel Mastral se trata de Michel Temer.

É como jogar uma pedra para o alto esperando que ela caia na cabeça de alguém previamente escolhido e depois que a pedra acerta tal pessoa, o autor da pedrada tenta ainda se eximir da culpa dizendo que não mirou para acertar em ninguém, uma vez que não citou o nome de ninguém.

Se de fato o objetivo do Mastral não é causar confusão e nem expor pessoas, então para que tantas “pistas” que inevitavelmente levam as pessoas apontarem para determinada pessoa, sendo que isso ele mesmo não confirma, nem desmente nada, gerando assim muita confusão, divisão na igreja e uma suspeita generalizada.

É absurdo, pois parece todos são suspeitos até que se prove o contrário, bastando como “prova” o testemunho desse escritor, o qual até o momento nunca apresentou prova alguma do que diz. Acusações sem fundamento também foram levantadas sobre a capelã Eleny Vassão, algo que causou transtornos a capelania hospitalar evangélica em São Paulo. (Cf. http://iceuniao.sites.uol.com.br/capelaniahcusp.htm ). E ainda outras acusações desse tipo também são levantadas contra todos aqueles que de uma forma ou de outra não concordam com essa atitude.

Isso tem que acabar! Logo é preciso dizer com toda honestidade que até o momento não existe materialidade para afirmar que Michel Temer é satanista, exceto tudo isso que ora apresentei.

É verdade que Temer tem sido citado como sendo membro da Maçonaria ( Cf. http://www.solbrilhando.com.br/Sociedade/Maconaria/Macons_Famosos_por_Categoria.htm ), contudo é bastante temerário afirmar que o mesmo seja satanista por causa disso e muito menos fazer isso baseando-se num escritor que afirma ser filho de um político satanista, sendo que ele faz isso sem apresentar prova concreta alguma de suas afirmações, entrando inclusive em contradição com sua própria mãe.

E também não é possível dizer que Temer seja satanista baseando-se num e-mail que foi classificado como boato pelo próprio Ministério Ágape Reconciliação de Neuza Itioka que disse ter seu nome envolvido indevidamente nessa confusão.

Conclusão

Quero deixar claro que diante dos fatos noticiados cada um deve tirar sua própria conclusão e eu não tenho por objetivo propor voto em canditato algum nessas eleições, nem tão pouco ser o advogado de Michel Temer, até mesmo porque não possuo sua procuração pra isso; Ademais ele é doutor na área e bem pode fazer isso sozinho sem precisar da ajuda de um teólogo e simples bacharelando em Direito.

Outrossim é importante também dizer que devemos ter muito cuidado com os discursos religiosos que tentam legitimar ideologias e convicções políticas. Aproveito e trago a memória de todos o discurso religioso dos grandes evangelistas na época da guerra fria no final do Sec. XX, os quais afirmavam categoricamente que o comunismo era do diabo e que comunistas comiam criancinhas. Nota-se que muitos usam a religião para justificar ideologias políticas.

No Brasil vivemos um Estado Democrático de Direito e pela Graça de Deus temos condições de votar e eleger diretamente nossos políticos; Logo vamos fazer isso sem ceder a pressão de discursos religiosos de líderes que acabam pintando uns como “diabólicos” para que outros sejam vistos como “guerreiros da luz” e assim sejam eleitos pelos evangélicos.

Sob pretexto algum vamos permitir que a Igreja seja usada como curral eleitoral. Não somos massa de manobra! Este é o recado que dou aos líderes que tem barganhado com políticos os votos dos evangélicos.

Quero também lembra-los que infelizmente ainda circula na internet um outro e-mail boato dizendo que no Congresso Nacional tramitam leis contra a liberdade religiosa Igreja. Saibam que o conteúdo deste e-mail é mentiroso e absurdo. Eu mesmo pesquisei e a maioria dos supostos projetos de leis que dizem estar tramitando não existe, outros não tratam do que dizem estar tratando. Saibam quais são os projetos de lei fictícios (Cf. http://noticias.gospelmais.com.br/leis-que-tramitam-em-brasilia-contrarias-a-igreja-de-deus.html ).

Portanto isso sim que é coisa de satanista, afinal o pai da mentira é satanás e quem a usa torna-se inevitavelmente filho dele!

E isso sim deve ser repudiado pela Igreja, afinal nada justifica o uso da mentira entre cristãos e filhos de Deus. Nem mesmo quando os objetivos são nobres, justos e plausíveis.

Saibam todos que Deus é Deus e que satanista algum tem autoridade se do alto não lhe for concedida. Ademais, as escrituras vão se cumprir e o relógio de Deus não será atrasado por mais que a igreja pense estar oferecendo resistência para a vinda do filho da perdição. O dia e a hora somente Ele sabe, mas a verdade é que tudo já está marcado na agenda de Deus e que ninguém mudará isso.

Sendo assim, recomento a todos que façam aquilo que Ele nos ordenou: Preguem o evangelho a toda criatura, afinal esta sim é a sua missão.

Oro para que nesse tempo haja clara separação entre luz e trevas, entre aquele que serve a Deus e aquele que não serve a Deus, pois não acredito que alguém possa servir a Deus por meio da mentira e meias verdades manipuladoras.

Agindo de maneira mentirosa, a pessoa pode ganhar o mundo inteiro, mas no fim perder a própria alma, afinal Deus salva os outros tão somente pela Graça, sendo que Deus usar alguém não quer dizer que Ele esteja aprovando a vida daquela pessoa.

Em hipótese alguma Deus aprova a mentira, mesmo que ela seja utilizada para atrair pessoas para Cristo ou tomarem uma atitude supostamente correta, tal como votar neste ou naquele político de Deus.

Volto a repetir que nada, absolutamente nada explica, justifica ou legitima o uso da mentira! Portanto se alguém é satanista, isso deve ser exposto com base em fatos reais, não em boatos. E se alguém merece ser eleito nessas eleições, seu voto deve ser decidido com base em sua capacidade político-administrativa do canditato e não porque tal pessoa é um “irmão ou irmã” ou porque foi “profetizado” algo sobre ele.


Igreja não é curral eleitoral! Lembre-se disso!

Texto Publicado no Blog Entrada Proibida

Pare e pense
Wagner

domingo, 10 de outubro de 2010

Palavra de Grande Inquisidor...



De tudo que Dostoiéviski escreveu em Os irmãos Karamazov, o que mais me impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas. Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe, o Grande Inquisidor o observava no meio da multidão e ordenou que ele fosse preso e levado à sua presença. Então, diante do prisioneiro silencioso, proferiu a sua acusação:

Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana de uma vez por todas mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: A liberdade.

Agiste, pois, como se não amasse os homens... Em vez de apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda eternidade.

O Grande Inquisidor estava certo. Ele conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo e se trancam em gaiolas.

Um bando de patos selvagens que voavam nas alturas. Lá em cima era o vento, o frio, os horizontes sem fim, as madrugadas e os poentes coloridos. Tudo tão bonito! Mas era uma beleza que doía. O cansaço do bater das asas, o não ter casa fixa, o estar sempre voando e as espingardas dos caçadores... Foi então que um dos patos selvagens, olhando lá das alturas para a terra aqui em baixo, viu um bando de patos domésticos. Eram muitos. Estavam tranquilamente deitados à sombra de uma árvore. Não precisavam voar. Não havia caçadores. Não precisavam buscar o que comer: o seu dono lhes dava milho diariamente.

 E o pato selvagem invejou os patos domésticos e resolveu juntar-se a eles. Disse adeus aos seus companheiros, baixou o vôo e passou a viver a vida mansa que pedira a Deus. E assim viveu por muitos anos. Até que... Até que, um ano como os outros, chegou o tempo da migração dos patos. Eles passavam nas alturas, no fundo azul do céu, grasnado, um grupo após o outro. Aquelas visões dos patos em vôo, as memórias de alturas, aquelas grasnadas de outros tempos começaram a mexer com algum lugar esquecido dentro do pato domesticado, o lugar chamado saudade.

Uma nostalgia pela vida selvagem, pelas belezas que só se vêem nas alturas, pelo fascínio do perigo... Até que não foi mais possível agüentar a saudade. Resolveu voltar a ser o pato selvagem que fora. Abril as asas, bateu-as para voar, como outrora... mas não voou. Caiu. Esborrachou-se no chão. Estava gordo demais. E assim passou o resto da vida: em segurança, protegido pelas cercas, e triste por não poder voar.

Somos assim. Sonhamos o vôo, mas tememos as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas e isto que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas das gaiolas estivessem abertas. A verdade é o oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas ao vôo. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam.

Deus dá a nostalgia pelo vôo.

As religiões constroem gaiolas.

As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o Pássaro Encantado. E não percebem que o pássaro que tem presos nas suas gaiolas de palavras é um pássaro empalhado. É por isso que, no Antigo Testamento, era proibido falar o nome de Deus. Hoje, ao contrário, os religiosos não só falam o nome sagrado como também escrevem tratados de anatomia e fisiologia divinas. E proclamam que o pássaro só pode ser encontrado dentro de suas gaiolas. Religiões: uma enorme feira onde se vendem pássaros engaiolados de todos os tipos.

Os hereges que as religiões queimam e matam não são assassinos, terroristas, ladrões, adúlteros, pedófilos, corruptos. Esses são pecados suaves, que podem ser curados pelo perdão e pelos sacramentos. Os hereges, ao contrário, são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas, para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor.


O infinito na Palma da Sua Mão
Rubem Alves

Depois de ter lido isso, Nunca mais serei engaiolado.
Sem medo da liberdade.

Wagner

domingo, 3 de outubro de 2010

A morte da metáfora.




A decomposição da espiritualidade ocidental em um moralismo incolor pode ser atribuída parcialmente a um esforço meticuloso e contínuo da cristandade no sentido de silenciar a metáfora. É a marcha da Igreja cristã evoluindo sob os escombros ocidentais da espiritualidade.

Quando a cristandade transforma a metáfora em fato histórico – e o faz com assustadora freqüência, inflige um câncer mortal a espiritualidade. A metáfora, qual um submarino, é o veículo que nos conduz às profundezas abissais do Ser, ao Reino de Deus (Lc. 17:21), onde ziguezagueiam peixes brilhantes e habitam terríveis dragões marinhos.

Quando interpretada como fato histórico a metáfora não pode mais falar do Tempo Primordial, pois perdeu sua linguagem divina, não pode mais nos transportar até ele, pois encontra-se aprisionada nos cárceres da história.

Destruída a metáfora resta-nos suportar a trágica âncora que nos faz cativo em um porto triste e medíocre, ironicamente aberto ao profundo e infindo e inexplorado oceano. Resta-nos uma imagem desbotada de Deus, mas jamais o peito vivo e apaziguado do Mestre, onde podemos recostar nossa cabeça em ebulição (Jo 21:20).


Alysson Amorin

O colapso do Movimento Evangélico

Dois pastores paulistas se fantasiam de Fred e Barney. Isso mesmo, fantasiados de Flintstone, entre gracejos ridículos, acreditam que estão sendo "usados por Deus para salvar almas". Na rádio, um apóstolo ordena que tragam todos os defuntos daquele dia, pois ele sente que Deus o "ungiu para ressuscitar mortos".

Os jornais denunciam dois políticos de Minas Gerais, "eleitos por suas denominações para representar os interesses dos crentes", como suspeitos de assassinato. O rosário se alonga: oração para abençoar dinheiro de corrupção; prisão nos Estados Unidos por contrabando de dinheiro, flagrante de missionários por tráfico de armas; conivência de pastores cariocas com chefões da cocaína .

Fica claro para qualquer leigo: O movimento Evangélico brasileiro se esboroa. O processo de falência, agudo, causa vexame. Alguns já nem identificam os evangélicos como protestantes. As pilastras que alicerçaram o protestantismo vêm sendo sistematicamente abaladas pelo segmento conhecido como neopentecostal. Como um trator de esteiras, o neopentecostalismo cresce passa por cima da história, descarta tradições e liturgias e se reinventa dentro das lógicas do mercado. É um novo fenômeno religioso.

É possível, sim, separá-lo como uma nova tendência. Sobram razões para afirmar-se que o neopentecostalismo deixou de ser protestante ou até mesmo evangélico.É uma nova religião. Uma religião simplória na resposta aos problemas nacionais, supersticiosa na prática espiritual, obscurantista na concepção de mundo, imediatista nas promessas irreais e guetoizada em seu diálogo cultural.

Mas a influência do neopentecostalismo já transbordou para o "mainstream" prostestante. O neopentecostalismo fermentou as igrejas consideradas históricas. Elas também se vêem obrigadas a explicar quase dominicalmente se aderiram ou não aos conceito mágicos das preces. Recentemente, uma igreja batista tradicional promoveu uma "Maratona de Oração pela Salvação de Filhos Desviados".

Pentecostais clássicos, como a Assembléia de Deus, estão tão saturados pela teologia neopentecostal que pastores, inadvertidamente, repetem jargões e prometem que a vida de um verdadeiro crente fica protegida dentro de engrenagens de causa-e-efeito. Os "ungidos" afirmam que sabem fazer "fluir as bênçãos de Deus". É comum ouvir de pregadores pentecostais que vão ensinar a "oração que move o braço de Deus”.

O Movimento Evangélico implode. Sua implosão é visceral. Distanciou-se de dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Ao afastar-se destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, permitiu que se abrisse essa fenda histórica com a tradição apostólica.

1. A teologia da Graça

Desde a Reforma, protestantes e católicos passaram a trabalhar a Graça como pedra de arranque de um novo cristianismo. O texto bíblico, “o justo viverá da fé”, acendeu o rastilho de pólvora que alterou a cosmovisão herdada da Idade Média. A Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “ garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.

Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido, à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.

Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. (É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos).

Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portras do céu”; “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.

2. A compreensão da Fé

“A Piedade Pervertida” (Grapho Editores) de Ricardo Quadros Gouvêa é um trabalho primoroso que explica a influência do fundamentalismo entre evangélicos.

“O louvorzão, assim como as vigílias e as reuniões de oração, e até mesmo o mais simples culto de domingo, muitas vezes não passam de um tipo de superstição que beira a feitiçaria, uma vez que ele é realizado com o intuito de ‘forçar’ uma ação benévola da parte de Deus, como se o culto e o louvor fossem um ‘sacrifício’, como os antigos sacrifícios pagãos. Neste caso, não temos mais liturgias, mas sim teurgias, nas quais procura-se manipular o poder de Deus” (p.28).

Ora, enquanto fé permanecer como uma “alavanca que move os céus”, as liturgias continuarão centradas na capacidade de tornar a oração mais eficaz. Antes dos neopentecostais, o Movimento Evangélico já se distanciara dos Místicos históricos que praticavam a oração com um exercício de contemplação e não como ferramenta de como tornar Deus mais útil.

Fé não é uma força que se projeta na direção do Eterno. Fé não desata os nós que impedem bênçãos. Fé é coragem de enfrentar a vida sem qualquer favor especial. Fé é confiança de que os valores de Cristo são suficientes no enfrentamento das contingências existenciais. Fé aposta no seguimento de Cristo; seguir a Cristo é um projeto de vida fascinante.

O neopentecostalismo ganhou visibilidade midiática, alastrou-se nas camadas populares e se tornou um movimento de massa. Por mais que os evangélicos conservadores não admitam, o neopentecostalismo passou a ser matriz de uma nova maneira de conceber as relações com o Divino.

A alternativa para o rolo compressor do neopentecostalismo só acontecerá quando houver coragem de romper com dogmatismos e com os anseios de resolver os problemas da vida pela magia.

O caminho parece longo, mas uma tênue luz já desponta no horizonte, e isso é animador.


Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria