domingo, 3 de outubro de 2010

A morte da metáfora.




A decomposição da espiritualidade ocidental em um moralismo incolor pode ser atribuída parcialmente a um esforço meticuloso e contínuo da cristandade no sentido de silenciar a metáfora. É a marcha da Igreja cristã evoluindo sob os escombros ocidentais da espiritualidade.

Quando a cristandade transforma a metáfora em fato histórico – e o faz com assustadora freqüência, inflige um câncer mortal a espiritualidade. A metáfora, qual um submarino, é o veículo que nos conduz às profundezas abissais do Ser, ao Reino de Deus (Lc. 17:21), onde ziguezagueiam peixes brilhantes e habitam terríveis dragões marinhos.

Quando interpretada como fato histórico a metáfora não pode mais falar do Tempo Primordial, pois perdeu sua linguagem divina, não pode mais nos transportar até ele, pois encontra-se aprisionada nos cárceres da história.

Destruída a metáfora resta-nos suportar a trágica âncora que nos faz cativo em um porto triste e medíocre, ironicamente aberto ao profundo e infindo e inexplorado oceano. Resta-nos uma imagem desbotada de Deus, mas jamais o peito vivo e apaziguado do Mestre, onde podemos recostar nossa cabeça em ebulição (Jo 21:20).


Alysson Amorin

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