quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Indignação do Caio diante de um Camaleão




Coisas como essas se tornam mais fortes  do que  nos. Nao questiono o peso das palavras , pois conheço o Caio desde1989, e estive junto no café em Copacabana.


Nao fácil conviver com a safadeza que estão fazendo com a  instituição chamada Igreja .

Cada um julgue como quiser, e que Deus seja o árbitro sobre que vai ver e sobre o juízo que cada um fizer.


Um abraço,

E que Deus tenha misericórdia de tudo isso.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

É VOCÊ UM PAGÃO QUE ADORA O “JESUS/IGREJA”?



Na mente dos cristãos uma das maiores dificuldades é entender por que Jesus é de um modo e a igreja de outro completamente diferente Dele.

Quando tal “diferença” aparece na pratica diante do crente, em geral ele pensa que Jesus era como os evangelhos nos contam, mas que agora Ele se tornou como a “igreja”.

Ou seja: Jesus teria se desconvertido de Sua Graça e Amor e se tornado “cristão”.

Sim! Cristo virou apenas um grande Cristo, um Cristo Grandão; literalmente um “Cristão”.

Ora, o hibrido “Jesus/Igreja” é o “Deus misto” da maioria dos cristãos. E é bem grandão, pois, crêem de fato Jesus virou um Cristão.

Assim, se não há sublimidade em tal “Sagrado Hibrido”, também não há muita inspiração que demande que a existência transcenda o que os homens chamam de “minha vida”.

Desse modo, tal “Jesus/Igreja” é amado pelos crentes com a fidelidade de quem ama a Jesus mesmo, porém, devotando tal amor a um ente que é, muitas vezes, a total negação do que Jesus diz que vale o nosso amor.

Os “sacerdotes” da “religião de Jesus”, o Cristianismo, precisam que os crentes amem a “igreja” com o amor com o qual só deveriam amar a Jesus, e a nada mais.

E por que eles precisam que seja assim?

Ora, é que na “igreja” os “sacerdotes/pastores” se tornam os “Jesuses” dos crentes, posto que na falta de Jesus na “igreja”, é do “sacerdote” que vem a oferta de amor pessoal; ou seja: amar e reverenciar o “sacerdote” é como amar e servir a Jesus.

Tal possibilidade, todavia, não é fácil para todos; pois, poucos têm intimidade com o “Jesus” da “igreja”: o sacerdote. Desse modo, para os “demais” sobra o “átrio dos gentios”, que é a atividade na “igreja”.

O “Jesus” da “igreja”, o “sacerdote/pastor”, diz que seus objetivos de expansão e crescimento são projetos de Jesus para a Igreja. E, assim, o “Jesus/sacerdote” da “igreja” ganha o poder da cruz e da ressurreição a fim de motivar os crentes a trabalharem pelo Baú da Felicidade que o “Jesus/sacerdote” definiu como projeto de parceria com Deus.

É tudo tão perverso e tão obvio que somente apelando para o diabo se pode entender tal cegueira na mente dos crentes!

Se você é um dos “sacerdotes/pastores” que vive do engano ensinado e praticado por você, abra mão disso hoje. Ainda é tempo de deixar de ser bruxo desse paganismo perverso feito em nome de Jesus, como algo que o representa, mas que é o pior engano do diabo no mundo e o maior inimigo do Evangelho na Terra.

Se você é dos enganados seguidores, olhe para Jesus, segundo o Evangelho, ame-o de todo o coração, sirva-o, ame os que confessam o Seu nome e também até mesmo os que odeiam o Seu nome. No entanto, deixe de tentar amar e seguir a Jesus nesse caminho humano e hibrido, no qual se tem coisas do Jesus do Evangelho apenas como isca; sendo que o restante é mandamento e megalomania do “Jesus/sacerdote”, o qual é segundo a imagem e semelhança do “Jesus/Igreja”, que é uma besta de muitas denominações e cabeças, e com ofertas para todos os gostos de pagãos.

É fácil saber se digo a verdade. Basta ler os evangelhos e ver se falo do Jesus ali descrito ou se falo do Jesus criado para ser seguido enquanto se odeia e se vive a morte como salvação, segundo o desevangelho do “Jesus/Igreja”.


Eis meu desafio a você:

Leia o Evangelho de Jesus e depois me julgue como bem entender!

Você tem essa coragem?

Quem me dera você a tivesse!


Nele,
Caio

domingo, 19 de setembro de 2010

A INVENÇÃO DA GENTILEZA


Nisso, tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se firmaram e, dando um salto, pôs-se em pé. Começou a andar e entrou com eles no templo, andando, saltando e louvando a Deus. Todo o povo, ao vê-lo andar e louvar a Deus, reconhecia-o como o mesmo que estivera sentado a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e todos ficaram cheios de pasmo e assombro pelo que lhe acontecera. Apegando-se o homem a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles, ao pórtico chamado de Salomão.

A disciplina da inclusão envolve mais do que um lançamento contábil; envolve mais do que fazer com que o que era contado como de fora passe a ser contado como de dentro. Em cada caso, cada vez que uma pessoa se dispõe a abraçar incondicionalmente uma outra, há um verdadeiro trajeto a ser vencido: um percurso a ser primeiro encontrado e depois percorrido. Ser salvo é ser salvo das distâncias, e arrepender-se é passar a agir deliberadamente de modo a transpô-las.

Vencer em regime definitivo a distância entre eu e o outro é o sentido da cruz e da salvação. É também, ao que tudo indica, a chave do reino de Deus.

Neste caso exemplar, um homem curva-se para estender a mão, e outro homem ergue-se firmando pela primeira vez sobre os próprios pés. No momento seguinte são iguais, olhando-se formidavelmente no mesmo nível. Encontraram-se lá em cima, e o mundo ganhou mais um cavaleiro andante.

Os antigos mestres da humanidade não desconheciam o autoconhecimento e o altruísmo, e os melhores entre eles não se limitavam a recomendá-los com palavras; porém foram necessários primeiro Jesus, depois a sua ausência, para introduzir os rigores da gentileza nas corredeiras do mundo dos homens.

O amor, como inventado ou apresentado por Jesus, não é apenas severo, absolutamente inflexível em sua disposição de favorecer e de integrar; é também consistentemente gentil – embaraçosamente gentil. De fato, sua severidade fica demonstrada no caráter inabalável de seu cavalheirismo.

Há algo de inerentemente ridículo no cavalheirismo, e é sem dúvida preciso ser um homem um pouco ridículo para ensinar – de fato ensinar – abraçando crianças, defendendo donzelas em perigo e lavando os pés de seus subordinados. A inclusão irrestrita e a defesa dos mais fracos nos parecerá invariavelmente embaraçosa, e os homens se mostrarão sempre mais prontos a abraçar o sacrifício do que o ridículo. Estamos prontos a pagar pelo heroísmo, mas menos dispostos a cobrir os custos da gentileza, porque a gentileza é a ultrajante manifestação de um amor resolutamente cavalheiresco – aquela estirpe peculiar de amor a que o Novo Testamento dá o nome de graça.

Muito declaradamente, não queremos ter nada a ver com a graça, que é por definição uma espécie voluntária de beleza. A graça é para deuses e dançarinos – isto é, é para homens, e sempre que possível preferimos nos manter abaixo desse patamar.

Porém Jesus, que tinha o sonho de semear homens de modo a colher o reino de Deus, não se contentava em exigir e oferecer menos do que o amor exuberantemente cavalheiresco – isto é, arbitrário, incondicional, anárquico, todo-inclusivo.

A gentileza, será preciso repetir, não é menos severa do que o amor. Não é uma manifestação de polidez ou de civilidade mascarada como tolerância. Não tem nenhuma relação com aquilo que costumamos chamar de “boa educação”, e que se destina a permitir a convivência ao mesmo tempo em que perpetua e valida a distância entre as pessoas. Ao contrário, a verdadeira gentileza é selvagem em sua obsessão de incluir, e saberá mostrar-se pouco gentil para com os que sonegam a graça e patrocinam a exclusão. A gentileza não ignora que é uma modalidade de anarquia e de revolução; não ignora que o seu próprio regime de violações (“Eu não condeno você”, Jesus ousou dizer à mulher adúltera, nisso transgredindo pelo menos tanto quanto ela) exige uma completa revisão dos critérios dos homens. O único mundo que a gentileza é capaz de conceber, e nisso insistirá até a morte voluntária, é um mundo em que todos se conformem a ela mesma.

Pedro e João, num único gesto, trazem para junto de si um homem que todos tomavam por definitivamente excluído dos canais aceitáveis da sociedade. E, trazendo-o para junto de si, trazem-no imediatamente para dentro – aqui está ele nos átrios do templo, saltando como um bailarino imbuído de uma nova graça, uma beleza inconcebível que transtorna todos que são submetidos a ela. O que estivera sentado à porta pedindo esmolas está agora dançando aqui dentro; o excluído a que todos negavam a graça agora a derrama com mais gosto do que todos que assistem.

Essa transgressão da gentileza é terrível demais para ser contemplada sem horror. Um universo que pode assim facilmente ser transtornado pelo amor e pela inclusão, um mundo assombrado dessa forma pela graça, é um mundo em que os homens terão de abrir mão de todas as suas seguranças. Diante dessa possibilidade, todos são tomados de terror e de perplexidade.

É aqui, diante desta glória, que devemos decidir não discutir o cessacionismo, a doutrina que postula que os milagres da era apostólica deixaram (ou não, discute-se) de acontecer nos nossos dias. Porque aqui está absolutamente declarado, escancarado além de qualquer dúvida, que a inclusão não foi resultado do milagre; a inclusão foi em si mesma o milagre – “e reconheceram-no como o mesmo que estivera sentado à porta do templo”.

Todos os milagres de Jesus e dos apóstolos devem ser entendidos retroativamente a partir dessa chave de compreensão. Jesus, que recusou-se diante da tentação a produzir sinais que tornassem evidentes o seu poder e a glória da sua vocação, não recusou-se a cuspir na terra para fazer lama e a tocar a pele crestada de um leproso a fim de fazer brotar a inclusão. Em termos estritos, os milagres de Jesus não são manifestações de poder: são instâncias de inclusão. Conhecendo a glória da nossa vocação, Jesus foi capaz de dizer sem exagero que seus discípulos fariam “sinais maiores do que esses” – porque nosso chamado é o de implantar um mundo inclusivo que Jesus em seus milagres apenas sugeriu.

Deve ficar portanto entendido que milagres só acontecem quando o amor é colocado em prática, e que milagres são o amor colocado em prática. A gentileza é por excelência a manifestação do poder de Deus, e é também o único verdadeiro sinal que Jesus dignou-se a apresentar.

Basta ao discípulo ser como o mestre: o sinal divino e o divino selo são a inclusão do outro, pelo que os milagres só cessam de acontecer quando deixamos de incluir. O cessacionismo depende, para ser válido, da nossa omissão. Arrepender-se é mudar o mundo, e pecar é omitir-se.

Mas neste ponto o homem agraciado para de repente de cantar e de saltar e corre para se abrigar entre seus amigos. Ele entendeu que não está mais sozinho e que nisso consiste a dádiva que recebeu, e compreende ao mesmo tempo que nada há de mais sério do que ganhar um presente.


PAULO BRABO

quinta-feira, 9 de setembro de 2010




COMENTÁRIO BÍBLICO MOODY - VOLUME 1




NOVA EDIÇÃO. A Editora Batista Regular em um projeto que demandou quase dois anos, volta a apresentar para os seus leitores o Comentário Bíblico Moody com uma série de modificações que visam agradar ao público fiel e cativo desta completa obra.

Procuramos nesta edição atualizar o português baseado no novo modelo ortográfico, diagramação com mais espaçamentos entre linhas e novo tamanho de letra afim de proporcionar estudos e pesquisas mais confortáveis para nossos leitores. Este primeiro volume (Velho Testamento), abrange os livros de Gênesis à Malaquias - Por Charles F. Pfeiffer - Formato 16x23cm - 1294 págs. Desconto de 35%. De R$ 143,98 por R$ 93,60







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Teodicéia



Acho que Epicuro foi quem formulou a questão a respeito da relação entre a onipotência e a bondade de Deus. A coisa é mais ou menos assim: se Deus existe, ele é todo poderoso e é bom, pois não fosse todo-poderoso, não seria Deus, e não fosse bom, não seria digno de ser Deus. Mas se Deus é todo-poderoso e bom, então como explicar tanto sofrimento no mundo? Caso Deus seja todo-poderoso, então ele pode evitar o sofrimento, e se não o faz, é porque não é bom, e nesse caso, não é digno de ser Deus. Mas caso seja bom e queira evitar o sofrimento, e não o faz porque não consegue, então ele não é todo-poderoso, e nesse caso, também não é Deus. Escrevendo sobre a Tsunami que abalou a Ásia, o Frei Leonardo Boff resume: “Se Deus é onipotente, pode tudo. Se pode tudo porque não evitou o maremoto? Se não o evitou, é sinal de que ou não é onipotente ou não é bom”.

Considerando, portanto, que não é possível que Deus seja ao mesmo tempo bom e todo-poderoso, a lógica é que Deus é uma impossibilidade filosófica, ou se preferir, a idéia de Deus não faz sentido, e o melhor que temos a fazer é admitir que Deus não existe.

Parece que estamos diante de um dilema insolúvel. Mas Einstein nos deu uma dica preciosa. Disse que quando chegamos a um “problema insolúvel”, devemos mudar o paradigma de pensamento que o criou. O paradigma de pensamento que considera o binômio “onipotência/bondade” como ponto de partida para pensar o caráter de Deus nos deixa em apuros. Existiria, entretanto, outro paradigma de pensamento? Será que as palavras “onipotência” e “bondade” são as que melhor resumem o dilema de Deus diante do mal e do sofrimento do inocente? Há outras palavras que podem ser colocadas neste quebra-cabeça?

Este problema foi enfrentado por São Paulo, apóstolo, em seu debate com os filósofos gregos de seu tempo. A mensagem cristã era muito simples: Deus veio ao mundo e morreu crucificado. Pior do que isso: Deus foi crucificado num “jogo de empurra” entre judeus e romanos, isto é, diferentemente dos outros deuses, o Deus cristão foi morto não por deuses mais poderosos, mas por homens. Sendo Deus, jamais poderia ser morto por mãos humanas, e sendo o Deus onipotente, jamais poderia nem mesmo ser morto. Paulo, apóstolo, estava, portanto, diante de um dilema semelhante ao proposto por Epicuro: Deus era uma impossibilidade filosófica.

Foi então que os apóstolos surgiram com uma resposta tão genial que os cristãos acreditamos que foi soprada pelo Espírito Santo: antes de vir ao mundo ao encontro dos homens, Deus se esvaziou da sua onipotência[i], isto é, abriu mão do exercício de sua onipotência, e por amor[ii], deixou-se matar por eles[iii]. (Eu disse que “Deus abriu mão do exercício de sua onipotência”, bem diferente de “Deus abriu mão de sua onipotência”).

O apóstolo Paulo admitia que não era possível pensar em Deus sem considerar o binômio bondade/onipotência. Optou pela palavra amor, assim como o apóstolo João, que afirmou “Deus é amor”[iv]. Jesus de Nazaré foi Deus encarnado na forma de Amor, e não Deus encarnado na forma de Onipotência.

Isso faz todo o sentido. Um Deus que viesse ao encontro das pessoas em trajes onipotentes chegaria para se impor e reivindicar obediência irrestrita, impressionando pela sua majestade e força sem iguais. Jung Mo Sung adverte que “a contrapartida do poder é a obediência, enquanto a contrapartida do amor é a liberdade”. Também assim pensou o apóstolo Paulo, ao afirmar que o que constrange as pessoas a viver para Deus é o amor de Deus (demonstrado na morte de Jesus na cruz)[v], e nunca o poder de Deus.

Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao decidir criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor dá liberdade para que o outro seja livre, inclusive para rejeitar o amor que se lhe quer dar.

André Comte-Sponville é um ateu confesso (sei que vou levar pedradas) que discorre a respeito do amor divino como poucos que já li. Acredita que o amor divino é um ato de diminuição, uma fraqueza, uma renúncia. Usa os argumentos de Simone Weil: “a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo, como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras” [vi].

Você já imagina onde quero chegar. Isso mesmo, entre a onipotência e a bondade de Deus existe a liberdade do homem, e o compromisso de Deus em respeitar esta liberdade. Isso ajuda a entender porque existe tanto sofrimento no mundo. O mal não procede de Deus e não é promovido ou determinado por Deus. O mal é conseqüência inevitável da liberdade humana, que teima em dar as costas para Deus e tentar fazer o mundo acontecer à sua própria maneira. Diante do mal e do sofrimento, o Deus com os homens, encarnado em Amor, também sofre, se compadece, tem suas entranhas movidas de compaixão[vii].

Mas você poderia perguntar por que razão Deus não acaba com o mal. Isso é simples: Deus não acaba com o mal porque o mal não existe, o que existe é o malvado. O mal não é uma entidade ao lado de Deus. O mal é o resultado de uma ação humana em afastar-se do Deus, sumo bem. O monoteísmo cristão afirma que há um só Deus, e que o mal é a privação da presença de Deus. Os cristãos não somos dualistas que postulamos a existência do bem e do mal. O mal é apenas a ausência do bem. Por isso, o mal não existe, o que existe é o malvado, aquele que faz surgir o mal porque se afasta de Deus, o supremo e único bem.

Ariovaldo Ramos me ensinou assim, e completou dizendo que “para acabar com o mal, Deus teria que acabar com o malvado”. Mas, sendo amor, entre acabar com o malvado e redimir o malvado, Deus escolheu sofrer enquanto redime, para não negar a si mesmo destruindo o objeto do seu amor. Por esta razão Deus “se diminui”, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor, fazendo nascer o sol sobre justos e injustos[viii], e mostrando sua bondade, dando chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo sustento com fartura e um coração cheio de alegria a todos os homens[ix].

É uma pena que Epicuro não tenha lido os apóstolos cristãos, não tenha corrido no parque ao lado de Ricardo Gondim, não tenha ouvido Ariovaldo Ramos pregar, e nem tenha assistido às aulas de Jung Mo Sung.

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[i] Carta aos Filipenses 2.6-8
[ii] Evangelho de João 3.16
[iii] Atos dos Apóstolos 2.23
[iv] Primeira Carta de João 4.7
[v] 2Coríntios 5.14,15
[vi] Comte-Sponville, André, Pequeno tratado das grandes virtudes, São Paulo: Martins Fontes, 1995, Capítulo 18: Amor.
[vii] Evangelho de São Mateus 9.36; 14.14
[viii] Evangelho de São Mateus 5.44,45
[ix] Atos dos Apóstolos 14.17\

Ed René Kivitz

domingo, 5 de setembro de 2010

A Fé Não é Muleta


Uma das acusações mais comuns feitas à fé religiosa é que ela não passa de uma muleta para pessoas fracas demais para erguer o corpo e encarar a vida. “A religião é boa para aqueles que precisam de uma muleta para enfrentar a vida.” Nada poderia estar mais distante da verdade, claro, quando se trata de fé autêntica.

A verdade plena é que tanto a fé como a opção de viver sem fé podem ser muletas, Para algumas pessoas, a fé – ou antes, uma forma imatura de fé – é, de fato, uma muleta. Porém, para algumas pessoas, a escolha de viver sem fé também é uma muleta. Em ambos os casos, estou falando de pessoas dispostas a erguer a cabeça e viver a vida com os pés no chão. Alguns usam a religião como uma muleta, outros usam o agnosticismo, o ateísmo, a indiferença religiosa ou o ceticismo como muleta.

Qualquer uma dessas coisas pode ser uma muleta, e qualquer uma delas pode ser uma posição honesta de coragem. Não querer ter nada a ver com a religião ou dizer que a religião não passa de uma muleta para os fracos, é negligenciar o fato de que qualquer postura de vida ou visão de mundo pode ser usada como muleta. A diferença esta em como a pessoa compreende e se relaciona com a religião, ou com o agnosticismo, o ceticismo e assim por diante.

Se a sua religião o seu agnosticismo é uma presença desafiadora em sua vida, que o inspira a assumir riscos e a continuar a crescer, não é uma muleta. Se sua religião ou sua indiferença religiosa servem de base para uma posição de vida de superioridade presunçosa ou de impotência servil, ela é uma muleta. Em outras palavras, não-crentes acusarem crentes de precisar de uma “muleta”é, melhor das hipóteses, uma atitude pouco sincera. Qualquer visão de mundo ou concepção de vida pode ser uma muleta se for usada para proteger da realidade.

Essa é uma perspectiva. Outra poderia se dizer que, bem, algumas pessoas não têm outra opção a não ser usar uma muleta para se locomover. Sem a muleta, elas não seriam capazes de se deslocar. Se uma pessoa tem uma perna quebrada ou um tornozelo torcido, por exemplo, ela precisa de uma muleta, e quem vai negar a essa pessoa o uso da muleta? Algumas pessoas precisam usar uma muleta ou um par de muletas o tempo todo por serem portadoras de alguma deficiência.

Qualquer um que diga que pessoas que precisam usar muletas são fracas é insensível e irrealista.

Algumas – talvez muitas – pessoas podem usar a fé como uma muleta espiritual, uma forma de ajudá-las a se locomover pelo mundo pelo fato de não terem outra escolha. Suas deficiências espirituais ou emocionais tornam isso necessário. Se esse é o caso, isso certamente não significa que a fé dessas pessoas não seja autêntica. Significa apenas que a metáfora da muleta tem sérias limitações. Uma muleta é o meio de apoio para compensar um meio natural de apoio – como uma perna ou tornozelo – que, por alguma razão, se encontra enfraquecido.

Nesse sentido, pode não ser justo acusar a religião de ser uma muleta para aqueles incapazes de ficar em pé e encarar a vida por seus próprios meios. Na verdade, a maioria das pessoas não é capaz de encarar a vida sem nenhuma assistência. Para a maior parte das pessoas, é mais uma questão de onde elas escolhem obter ajuda. A questão é entre escolher obter ajuda de uma fonte que escraviza ou de uma fonte que liberta, de uma fonte que limita a visão ou de uma fonte que amplia os horizontes. Muitas pessoas apóiam-se em dependências em busca de suporte, dependências de tudo, desde comida a álcool ou nicotina, de uma busca interminável de segurança econômica.

A diferença entre tudo isso e a fé religiosa autêntica e que a fé, se for real, é uma fonte de segurança apenas por paradoxo. A fé proporciona segurança por levar à renúncia da segurança. A fé oferece conforto ajudando a abandonar a necessidade de conforto. A fé torna-se uma rede de segurança apenas quando se pula no vazio. A fé proporciona certeza só quando se esta disposto a viver com a incerteza. A fé é uma muleta apenas quando se ergue a cabeça e se caminha sem nenhum meio de apoio visível.



Será que somos fabricantes de muletas?

Será que somos dependentes de uma religião adoecida?


Pense nisso!


O que a fé não é

Mitch Finley


Wagner