domingo, 5 de setembro de 2010
A Fé Não é Muleta
Uma das acusações mais comuns feitas à fé religiosa é que ela não passa de uma muleta para pessoas fracas demais para erguer o corpo e encarar a vida. “A religião é boa para aqueles que precisam de uma muleta para enfrentar a vida.” Nada poderia estar mais distante da verdade, claro, quando se trata de fé autêntica.
A verdade plena é que tanto a fé como a opção de viver sem fé podem ser muletas, Para algumas pessoas, a fé – ou antes, uma forma imatura de fé – é, de fato, uma muleta. Porém, para algumas pessoas, a escolha de viver sem fé também é uma muleta. Em ambos os casos, estou falando de pessoas dispostas a erguer a cabeça e viver a vida com os pés no chão. Alguns usam a religião como uma muleta, outros usam o agnosticismo, o ateísmo, a indiferença religiosa ou o ceticismo como muleta.
Qualquer uma dessas coisas pode ser uma muleta, e qualquer uma delas pode ser uma posição honesta de coragem. Não querer ter nada a ver com a religião ou dizer que a religião não passa de uma muleta para os fracos, é negligenciar o fato de que qualquer postura de vida ou visão de mundo pode ser usada como muleta. A diferença esta em como a pessoa compreende e se relaciona com a religião, ou com o agnosticismo, o ceticismo e assim por diante.
Se a sua religião o seu agnosticismo é uma presença desafiadora em sua vida, que o inspira a assumir riscos e a continuar a crescer, não é uma muleta. Se sua religião ou sua indiferença religiosa servem de base para uma posição de vida de superioridade presunçosa ou de impotência servil, ela é uma muleta. Em outras palavras, não-crentes acusarem crentes de precisar de uma “muleta”é, melhor das hipóteses, uma atitude pouco sincera. Qualquer visão de mundo ou concepção de vida pode ser uma muleta se for usada para proteger da realidade.
Essa é uma perspectiva. Outra poderia se dizer que, bem, algumas pessoas não têm outra opção a não ser usar uma muleta para se locomover. Sem a muleta, elas não seriam capazes de se deslocar. Se uma pessoa tem uma perna quebrada ou um tornozelo torcido, por exemplo, ela precisa de uma muleta, e quem vai negar a essa pessoa o uso da muleta? Algumas pessoas precisam usar uma muleta ou um par de muletas o tempo todo por serem portadoras de alguma deficiência.
Qualquer um que diga que pessoas que precisam usar muletas são fracas é insensível e irrealista.
Algumas – talvez muitas – pessoas podem usar a fé como uma muleta espiritual, uma forma de ajudá-las a se locomover pelo mundo pelo fato de não terem outra escolha. Suas deficiências espirituais ou emocionais tornam isso necessário. Se esse é o caso, isso certamente não significa que a fé dessas pessoas não seja autêntica. Significa apenas que a metáfora da muleta tem sérias limitações. Uma muleta é o meio de apoio para compensar um meio natural de apoio – como uma perna ou tornozelo – que, por alguma razão, se encontra enfraquecido.
Nesse sentido, pode não ser justo acusar a religião de ser uma muleta para aqueles incapazes de ficar em pé e encarar a vida por seus próprios meios. Na verdade, a maioria das pessoas não é capaz de encarar a vida sem nenhuma assistência. Para a maior parte das pessoas, é mais uma questão de onde elas escolhem obter ajuda. A questão é entre escolher obter ajuda de uma fonte que escraviza ou de uma fonte que liberta, de uma fonte que limita a visão ou de uma fonte que amplia os horizontes. Muitas pessoas apóiam-se em dependências em busca de suporte, dependências de tudo, desde comida a álcool ou nicotina, de uma busca interminável de segurança econômica.
A diferença entre tudo isso e a fé religiosa autêntica e que a fé, se for real, é uma fonte de segurança apenas por paradoxo. A fé proporciona segurança por levar à renúncia da segurança. A fé oferece conforto ajudando a abandonar a necessidade de conforto. A fé torna-se uma rede de segurança apenas quando se pula no vazio. A fé proporciona certeza só quando se esta disposto a viver com a incerteza. A fé é uma muleta apenas quando se ergue a cabeça e se caminha sem nenhum meio de apoio visível.
Será que somos fabricantes de muletas?
Será que somos dependentes de uma religião adoecida?
Pense nisso!
O que a fé não é
Mitch Finley
Wagner
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Muito bom... parabéns pela descrição!
ResponderExcluirBy: Dionísio Belisário