quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Reverência e Aversão Perante a Palavra de Deus


Reverência e Aversão Perante a Palavra de Deus

Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso de sua beleza e de sua transcendência. Preciso delas contra a vulgaridade do mundo. Quero erguer o meu olhar para seus vitrais brilhantes e me deixar cegar pelas cores etéreas. Preciso do seu esplendor. Preciso dele contra a gritaria no pátio da caserna e a conversa frívola dos oportunistas. Quero escutar o som oceânico do órgão, essa inundação de sons sobrenaturais. Preciso dele contra a estridência ridícula das marchas. Amo as pessoas que rezam. Preciso de sua imagem. Preciso dela contra o veneno traiçoeiro do supérfluo e da negligência. Quero ler as poderosas palavras da Bíblia. Preciso da força irreal de sua poesia. Preciso dela contra o abandono da linguagem e a ditadura das palavras de ordem. Um mundo sem essas coisas seria um mundo no qual eu não gostaria de viver.

Mas existe ainda um outro mundo no qual eu não quero viver: um mundo em que se demoniza o corpo e o pensamento independente e onde as melhores coisas que podemos experimentar são estigmatizadas e consideradas pecado. O mundo em que nos é exigido amar os tiranos, os opressores e assassinos, mesmo quando seus brutais passos marciais ecoam atordoantes pelas vielas ou quando se esgueiram, silenciosos e felinos, como sombras covardes pelas ruas e travessas para enterrar, por trás, o aço faiscante no coração de suas vítimas. Entre todas as afrontas que se lançaram do alto dos púlpitos às pessoas, uma das mais absurdas é, sem dúvida, a exigência de perdoar e até de amar essas criaturas. Mesmo se alguém o conseguisse, isso significaria uma falsidade sem igual e um esforço de abnegação desumano que teria que ser pago com a mais completa atrofia. Esse mandamento, esse desvairado e absurdo mandamento do amor para com o inimigo, serve apenas para quebrar as pessoas, para lhes roubar toda a coragem e toda a autoconfiança e para torná-las maleáveis nas mãos dos tiranos, para que não consigam encontrar forças para se levantar contra eles, se necessário, com armas.

Venero a palavra de Deus, pois amo a sua força poética. Abomino a palavra de Deus, pois odeio a sua crueldade. Este amor é um amor difícil, pois tem que distinguir constantemente entre o brilho das palavras e a subjugação verborrágica a uma divindade presumida. Este ódio é um ódio difícil, pois como é que podemos nos permitir odiar palavras que fazem parte da própria melodia da vida nessa parte da Terra? Palavras que para nós foram dadas como finais, quando começamos a pressentir que a vida visível não pode ser toda a vida? Palavras sem as quais não seríamos aquilo que somos?

Mas não nos esqueçamos: são palavras que exigem de Abraão que sacrifique o seu próprio filho como se fosse um animal. O que fazer com a nossa ira quando lemos isto? Um Deus que acusa Jó de disputar com ele quando nada sabe e nada entende? Quem foi que o criou assim? E por que seria menos injusto quando Deus lança alguém no infortúnio sem motivo do que quando um comum mortal o faz? E Jó não teve todos os motivos para a sua queixa?

A poesia da Palavra divina é tão avassaladora que cala tudo e reduz toda e qualquer contestação a um uivo lastimável. É por isso que não se pode simplesmente pôr a Bíblia de lado, mas ela deve ser jogada fora assim que estejamos fartos de suas exigências e do jugo que ela nos impõe. Nela, manifesta-se um Deus avesso à vida, sem alegria, um Deus que quer restringir a poderosa dimensão de uma vida humana – o grande círculo que descreve quando está em plena liberdade – a um só e limitado ponto de obediência. Carregados com o fardo da mágoa e o peso do pecado, ressequidos pela subjugação e pela falta de dignidade da confissão, a testa marcada pela cruz de cinza, devemos marchar em direção à sepultura, na esperança mil vezes contestada de uma vida melhor a Seu lado; mas como pode ser melhor ao lado de alguém que antes nos privou de todos os prazeres e de todas as liberdades?

E, no entanto, as palavras que vêm de Deus e para ele se dirigem são de uma beleza avassaladora. Como as amei nos tempos de coroinha! Como me embriagaram no brilho das velas do altar! Como pareceu claro, tão claro quanto a luz do sol, que aquelas palavras fossem a medida de todas as coisas! Como parecia incompreensível, para mim, que as pessoas dessem importância também para outras palavras, quando cada uma delas não podia significar mais do que dispersão desprezível e perda da essência! Ainda hoje paro quando escuto um canto gregoriano, e durante um instante irrefletido fico triste que este estado de embriaguez tenha dado lugar irremediavelmente à rebelião. Uma rebelião que se ateou em mim como uma labareda quando, pela primeira vez, escutei estas palavras: sacrificium entellectus.

Como podemos ser felizes sem a curiosidade, sem questionamentos, dúvidas e argumentos? Sem o prazer de pensar? As duas palavras que são como um golpe de espada que nos decapita não significam nada menos senão a exigência de vivenciar nossos sentimentos e nossas ações contra o nosso pensar, são um convite para uma dilaceração ampla, a ordem de sacrificar precisamente o núcleo da felicidade: a harmonia interior e a concordância interna de nossa vida. O escravo na galé está acorrentado, mas pode pensar o que quiser. Mas o que Ele, o nosso Deus, exige de nós, é que interiorizemos com nossas próprias mãos a escravidão nas profundezas mais profundas e que, ainda por cima, o façamos voluntariamente e com alegria. Pode haver escárnio maior?

Em sua onipresença, o Senhor é alguém que nos observa dia e noite, que a cada hora, cada minuto, cada segundo registra nossas ações e nossos pensamentos, nunca nos deixa em paz, nunca nos permite um momento sequer em que possamos estar a sós conosco. Mas o que é um ser humano sem segredos? Sem pensamentos e desejos que apenas ele próprio conhece? Os torturadores, os da Inquisição e os atuais, sabem: corte-lhe a possibilidade de se retirar para dentro, nunca apague a luz, nunca o deixe a sós, negue-lhe o sono e o sossego, e ele falará. O fato de a tortura nos roubar a alma significa: ela destrói a solidão com nós mesmos, da qual necessitamos como do ar para respirar. O Senhor, nosso Deus, nunca percebeu que, com sua desenfreada curiosidade e sua repugnante indiscrição, nos rouba uma alma que, ainda por cima, deve ser imortal?

Quem é que realmente quer ser imortal? Quem quer viver por toda a eternidade? Como deve ser tedioso e vazio saber que não tem a menor importância o que acontece hoje, este mês, este ano, pois ainda sucederão infinitos dias, meses, anos. Infinitos no sentido literal da palavra. Alguma coisa ainda contaria, neste caso? Não precisaríamos mais contar com o tempo, não perderíamos mais oportunidades, não teríamos mais que nos apressar. Seria indiferente se fizéssemos alguma coisa hoje ou amanhã, totalmente indiferente. Diante da eternidade, negligências milhões de vezes repetidas se tornariam um nada e não faria mais sentido lamentar alguma coisa, pois sempre haveria tempo para recuperar. Não poderíamos nem mesmo nos entregar à simples fruição do dia, pois essa sensação de bem-estar decorre da consciência do tempo que se esvai, o ocioso é um aventureiro perante a morte, um cruzado contra o ditado da pressa. Onde ainda existe espaço para o prazer em esbanjar tempo quando existe tempo sempre, em todo lugar, para tudo e para todos?

Um sentimento não é idêntico quando se repete. Tinge-se de outras nuances pela percepção do seu retorno. Cansamo-nos dos nossos sentimentos quando se repetem muitas vezes ou duram demais. Na alma imortal surgiria, portanto, um tédio gigantesco e um desespero gritante perante a certeza de que aquilo nunca acabará, nunca. Os sentimentos querem evoluir, e nós com eles. São o que são porque repelem o que já foram e porque fluem em direção a um futuro onde mais uma vez se afastarão de nós. Se esse caudal desaguasse no infinito, milhares de sensações teriam que surgir dentro de nós, que, acostumados a uma dimensão limitada de tempo, nunca conseguiríamos imaginar. De modo que, pura e simplesmente, nem sabemos o que nos é prometido quando ouvimos falar da vida eterna. Como seria sermos nós próprios na eternidade, sem o consolo de podermos, um dia, vir a ser redimidos da obrigação de sermos nós? Não o sabemos, e o fato de nunca o virmos a saber representa uma bênção. Pois uma coisa podemos estar certos: seria um inferno, esse paraíso da imortalidade.

É a morte que confere o instante a sua beleza e o seu pavor. Só através da morte é que o tempo se transforma num tempo vivo. Por que e que o Senhor, Deus onisciente, não sabe disso? Por que nos ameaça com uma imortalidade que só poderia significar um vazio insuportável?

Não quero viver num mundo sem catedrais. Preciso do brilho de seus vitrais, de sua calma gelada, de seu silêncio imperioso. Preciso das marés sonoras do órgão e do sagrado ritual das pessoas em oração. Preciso da santidade das palavras, da elevação da grande poesia. Preciso de tudo isso. Mas não menos necessito da liberdade e do combate a toda a crueldade. Pois uma coisa não é nada sem a outra. E que ninguém me obrigue a escolher.



Uma linda poesia
Postagen no Blog do Ricardo Gondin

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Apocalipse é Profético Mas Não Transcendente


Apocalipse é profético mas não transcendente


Primeiro é importante saber que o escritor estava preso, não podia falar claramente porque a carta escrita seria lida pelos romanos e provavelmente o escritor seria morto. Esse é exatamente o motivo pelo qual ele escreveu por símbolos em que a comunidade entenderia mas os soldados não conseguiriam entender a linguagem.


Todos os símbolos têm um significado para os destinatários, uma comunidade simples, mas que entendiam claramente a linguagem do autor.

Cada símbolo tem seu significado histórico, sendo primeiro entendido assim, para depois descobrir seu significado profético, mas nunca transcendente.
O problema na interpretação do apocalipse, é que a maioria dos autores consegue ver chifre em cabeça de cavalo e fazem do símbolo algo literal, dificultando o entendimento porque todo juízo vem de cima, com uma ação de Deus que de repente age para trazer o seu juízo sobre a terra, julgando os ímpios, as nações, o Diabo, os crentes e etc.

Eu prefiro enxergar o homem como instrumento desse juízo e nessa perspectiva, nós somos os responsáveis por tudo que acontece aqui. O Apocalipse então serve como pedagogia para nós; é como se Deus deixasse o livro para nos avisar das coisas e para nos lembrar que nós somos o próprio opositor, os destruidores e executores do juízo contra nós mesmos.

Não estamos conseguindo salvar a terra; o consumismo e a depreciação dos recursos naturais. O Apocalipse nos mostra em nossas ações, os selos sendo abertos todos os dias na nossa cara, mas o desejo de lucro e consumo fala mais alto do que a preservação.

Um dos selos quando aberto tira a paz na terra. Quem são os instrumentos da guerra e da maldade entre os homens senão os próprios homens.

Outro selo, se instala a pobreza, gerado por um capitalismo maldito onde poucos detêm os recursos da terra.

Outro selo, morte provocada pelas guerras e até guerras urbanas, pela fome e pela doença

Outro selo fala do clamor pela justiça e o sofrimento do justo vivendo num mundo de injustos, onde a injustiça parece prevalecer.

Assim como os selos, as trombetas também são potencializadas pelo fruto das nossas ações e também provocados por tragédias naturais. Deus está no controle, nos avisa e nos responsabiliza como cuidadores dessa grande mãe.
Infelizmente, o caminho será de dor mas de perseverança e vitória. A vida não será fácil para a maioria dos seres humanos. O egoísmo e a maldade serão muito maior, até pela falta de recursos e recursos centralizados em alguns privilegiados.
Não tenho esperança para as próprias gerações, porque nós somos destruidores dos poucos recursos naturais. A coisa básica como água potável que já é escassa, ninguém se preocupa em poupar; os líderes mundiais não conseguem nenhum acordo. A terra já está esgotando seus recursos, já ultrapassando em 25% na capacidade de se auto renovar. Hoje são instintas mais de três mil e quinhentas espécies por ano. É uma tragédia!


E nós estamos discutindo teologia.
Pare e pense
Wagner

domingo, 27 de dezembro de 2009

Dar a Luz a Si Mesmo ... Continuação



No judaísmo tradicional, o primogênito, em hebraico o rompedor de matriz, pertencia a Deus. “IHWH falou a Moisés: Consagra a mim todos os primogênitos, todo aquele que por primeiro sai do útero materno entre os filhos de Israel, tanto dos homens como dos animais: ele pertencerá a mim” (Ex 13,1-2) e ainda “você reservará para IHWH todos os primogênitos do útero materno; e a IHWH pertencerá todo primogênito do sexo masculino, também dos animais que você possuir” (Ex 13,12).

Se a criança não fosse deixada a serviço de Deus no templo, deveria ser resgatada, re-comprada, pelos pais, mediante um sacrifício. “Os primogênitos humanos, porém, você os resgatará sempre. Amanhã quando seu filho lhe perguntar: Que significa isso? Você lhe responderá: Com mão forte IHWH nos tirou do Egito, da casa da servidão. O faraó se obstinou e não queria deixar-nos partir; por isso, IHWH matou todos os primogênitos do Egito, desde do primogênito do homem até o primogênito dos animais. É por isso que eu sacrifico a IHWH todo primogênito macho dos animais e resgato todo primogênito de meus filhos” (Ex 13.15).

Nesse rituais ricos de simbolismos, presente em muitas culturas, os filhos machos são circuncidados. Na cerimônia da circun-cisão, um anel de carne é retirado do prepúcio do pênis. Eis que o sexo sai também do envelope que o envolvia. Simbolicamente o prepúcio tem um aráter feminino; dentro dele o pênis se move. Presente em outras culturas, além da judaica, a prática da circuncisão torna alegoricamente o homem-mulher em homem. Torna-o carente de um anel feminino. Esse pênis, agora descoberto pela mulher, pelo feminino que lhe falta.

Deus escolhe para marcar o homem no seu Ser, na sua carne, seu sexo, seu lugar de união íntima com a mulher. Trata-se realmente de uma cisão e não somente de uma marca. Essa cisão é diferenciadora sexual (diferenciação terciária) e paradigmática da união sexual com a mulher e não de uma circum-separação. Essa cisão cria a marca da união, a busca da aliança, esse anel símbolo do casamento que divide o dedo em dois.

A Jesus correspondia plenamente a lei judaica: era macho e primogênito de Maria e José. Pertencia a Deus, e seus pais têm que re-comprá-lo, resgatá-lo no Templo. Lá Simeão o toma nos braços, louva a Deus, maravilha a todos com suas palavras, mas diz a Maria: “Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma” (Lc 2,27.33). Como, fora da tradição islâmica e judaica, refletir e agir simbolicamente sobre os filhos como algo que não nos pertence de forma não diferenciadora como na circuncisão?

Como já foi evocado, Esaú simboliza também a humanidade com sua túnica de pele, em sua animalidade. Todos somos homens-prepúcio. Simbolicamente, todos somos chamados a circuncisão. Todos somos chamados a nos cingir do Homem revestido de pele e de suas muletas parentais, símbolo da dualidade. Não é simples sair do labirinto do molde e da matriz parental. A saída esta no centro, no centrar-se em si mesmo, em seu Ser.
Na simbologia, o tema do labirinto e da orientação espacial tem sua plenitude na estrutura interna dos ouvidos, na “cabeça” do ouvido, constituída pelos labirintos ossosos e membranosos.

O umbigo exprime um primeiro ponto na arquitetura do corpo humano. Mas a transformação do eu, que se opera no centro do labirinto, afirma-se definitivamente no dia do fim da viagem. A marca da vitória é a superação das dicotomias entre trevas e luz, perecível e eterno, inteligência e instinto, saber e violência cega. É na luta e na dor, que damos a luz a nós mesmos, pois as marcas da sujeição parental podem ser terríveis, e o umbigo é uma cicatriz indelével do vínculo parental.

Corpo
Evaristo Eduardo de Miranda

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A CEIA DO SENHOR



A ceia do Senhor







O desejo de Deus é que comparemos o que chamamos de religião com aquilo que Ele chama de “lugar da minha habitação”. Entenda quem puder... Quem tem ouvidos para ouvir ouça.

A Igreja não é um lugar aonde se vai... A igreja é gente que gosta de se encontrar, e que se encontra em torno de Jesus Cristo.


Introdução:

Antes de tudo, é importante que o nosso coração esteja desarmado de qualquer conceito e pré-conceito a respeito desse assunto. Sejamos como aqueles que examinam todas as coisas. O fato de falar contra a ortodoxia, não quer dizer necessariamente uma heresia. Vamos caminhar juntos e vamos refletir sobre o assunto de forma madura e fundamentando todas as coisas nos textos bíblicos e no contexto histórico.



Ceia (como a igreja faz) ou Ágape (como a Igreja fazia)

Alguns textos no Novo Testamento falam de um rito chamado de “fração do pão”.
1Cor 10.16,17; Lucas 24.30,35; Atos 2.42,46; Atos 20.7,11.

As refeições formais e as refeições como um ato de comunhão ligado ao sagrado eram muito comuns entre os judeus e nas comunidades protocristãs. Os participantes recebiam uma participação no poder divino mediante a refeição em comum, que representava sua união com a divindade.

Nada era mais representativo para promover a união entre os homens e entre o homem e Deus do que o comer e beber. O pão e o vinho nos fazem lembrar uma refeição familiar num lar judeu. Partir e distribuir o pão era procedimento normal para começar a refeição num lar judeu daquele período, assim como compartilhar uma taça de vinho era a maneira usual de terminar a refeição. Para cada gesto eram pronunciadas bênçãos.

Refeições Compartilhadas
Alguns elementos importantes na tradição da refeição em comum são tanto refeição real como refeição compartilhada. Há uma ênfase, não simplesmente no pão, mas no ato de partir o pão e isso é simbólico da comunhão, passando-o para todos. O pão não está simplesmente sobre a mesa. É partido e passado para todos. O vinho da mesma forma deve ser compartilhado por todos em um cálice comum.

A tradição da refeição comum envolvia originalmente uma refeição completa transformada em ritual, precisamente como tal. As transformações rituais pão/vinho ou corpo/sangue não tinham o propósito de remover essa realidade e não deveriam tê-lo feito. Isso não aconteceu para Paulo, mas aconteceu para os ricos coríntios. Em tudo isso, a questão não é se as transformações rituais são feitas antes, durante ou depois da refeição, mas sim se a própria refeição é parte intrínseca do simbolismo da ceia. Pão e vinho devem resumir não substituir a ceia; do contrário, isso já não é mais a Ceia do Senhor.

A comunidade compartilhava toda comida que tinha disponível, que simbolizava e transformava em ritual, mas também realizava e materializava a justiça igual do Deus judaico. A ceia cristã nas igrejas de hoje se resume num pouco de pão e vinho. Não é uma refeição real. Mas porque simbolizar a divindade por meio de um alimento que é não-alimento? Talvez o não-alimento simbolize um não-Jesus e um não-Deus.

O sentido da Ceia do Senhor é alimentar e sustentar a relação com Cristo, precisamente como relação comunitária/corporativa. Qualquer passo na prática da Ceia para uma celebração isolada (como se a Ceia do Senhor fosse simplesmente para alimentar o indivíduo com alimento espiritual) ou que a diminua como experiência compartilhada contraria a ênfase de Paulo e se afasta da sua cristologia do corpo de Cristo. Por isso não devemos levar um pedaço de pão e um pouco de suco de uva a ninguém que por qualquer motivo não pôde participar da Ceia do Senhor, como se estivéssemos levando para ela um alimento espiritual ou algo que tenha algum significado. Isso é reduzir a experiência da Ceia como uma refeição compartilhada.

O sacramento da ceia esta intimamente ligada a uma refeição ritual que nos identifica com aquele rito ou com aquela divindade (1 Corintios 10.16,17). Paulo mostra claramente uma refeição ritual ligada a um culto ou uma divindade. Se alguém nos convidar para comer uma refeição ritual, uma comida oferecida a outros deuses, não devemos participar por causa da consciência daquele que nos convidou.

Em 1Cor 10.16.17, Paulo, seguindo a tradição de uma refeição ritual, afirma que bebendo o cálice e comendo o pão, entramos em comunhão com o corpo e o sangue de Cristo.

Quem participa da refeição ritual, se identifica com aquele rito. Por isso, não podemos participar da mesa do Senhor e participar da mesa dos demônios.
Paulo parece querer afastar definitivamente os coríntios da idolatria e fazê-los abominar os sacrifícios pagãos. É nesse contexto que ele insiste, sobre o aspecto sacrificial da Ceia. Paulo identifica os deuses do paganismo aos demônios; os sacrifícios pagãos colocam seus fiéis em contato com o mundo demoníaco e este contato os contamina. Trata-se, pois, duma comunhão profunda.

Falando de comunhão
Antes de qualquer coisa ou qualquer superficialidade no sacramento da Ceia, existe um Jesus que disse: " Desejei muito comer convosco esta páscoa antes do meu sofrimento" (Aqui se revela o coração de Jesus). Assim como os discípulos estamos brigando entre nós para saber quem será o maior. (aqui se revela a verdadeira motivação dos discípulos; estavam na expectativa de um reino temporal)

Cada um interpreta para si mesmo segundo a sua própria consciência.

A resposta de Jesus traz um significado enorme para aqueles que como eu erra o tempo todo, mas com a consciência de tentar pelo menos acertar. Disse Jesus: "Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sereis assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa seja como quem serve. Pois qual é maior, quem está a mesa, ou quem serve? Não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve" (Lucas 22,25-27).

" Jesus, sabendo que o pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois colocou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se de Simão Pedro (pode ser qualquer um de nós) que lhe disse: Senhor, tu vais lavar os meus pés? Respondeu Jesus:
O que eu faço não o sabe agora, mas compreenderá depois. Disse Pedro: Nunca me lavará os pés (tentando acertar). Respondeu Jesus: Se eu não te lavar não tens parte comigo.

Respondeu Simão Pedro: Senhor, não apenas os pés, mas também as mãos e a cabeça (tentando acertar, mas errando o tempo todo). “Disse Jesus: Aquele que já se banhou não necessita de lavar senão os pés; no mais está todo limpo”. Eu vejo um significado muito mais existencial do que qualquer outra coisa. Para mim é muito mais importante a essência do sacramento da Ceia do que o seu ritual.
Quem tem coração para ouvir ouça; ouvir o evangelho se ouve primeiro com o coração.

Até o segundo século, não havia separação entre as duas refeições, o Ágape e a Eucaristia.
Quem participava do rito, se identificava com aquele rito. Se as pessoas queriam participar da mesa do Senhor, e se identificar com o Senhor, elas não eram excluídas da mesa, pelo fato de não serem batizadas (portanto não eram membros da Igreja). Paulo em momento algum disse que se as pessoas quisessem participar do nosso rito não poderiam participar, disse apenas que nós não devemos nos identificar com outros ritos (mesa dos demônios) por causa da consciência do outro.
1 Cor 10.16,17, Paulo afirma que bebendo o cálice e comendo o pão, entramos em comunhão com o sangue e o corpo de Cristo.
“Já que há um único pão, nós, embora muitos somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão”.
O sentido é claro: como o pão da ceia é um só, assim também todos aqueles que nesse pão comem formam um único corpo em Cristo.

A ceia do Senhor é ordenada para tornar intimamente efetiva e exteriormente visível a realidade da comunidade cristã estarem (seus membros) tão unidos a Cristo, que formem seu “corpo”.
Obs: Lembrando que Cristo não instituiu o sacramento da ceia... Ele estava participando de uma refeição.

Quando nós participamos da ceia, há uma identificação com o Senhor; e quando nos relacionamos com o próximo, o mandamento ganha vida e a essência do que Jesus falou se torna vida e benção para todos aqueles que participam da mesa do Senhor.
A ceia do Senhor não é ceia do Senhor se não unir a comunidade participante em mútua responsabilidade pelos outros.

Então a benção é para o corpo e não para o individuo que participa. Ninguém é abençoado pelo fato de participar da ceia, a não ser que ao participar se identifique na vida do próximo.

A ceia é um ato de comunhão e agregamento de pessoas que se identificam na necessidade mútua (corpo). A ceia exalta o mandamento de “amar o próximo como mim mesmo”. Tudo que se fazer fora disso é apenas uma religião engessada que valoriza mais o sacramento do que a essência dele. Lembrar do Senhor, é lembrar dos nossos relacionamentos, é lembrar de que não deve haver fome entre nós, é lembrar da desigualdade dentro da própria igreja, é lembrar que eu tenho muito, enquanto muitos não tem nada, é olhar pra gente e afirmar que nem amigos nós somos, é lembrar que não vivemos em comunhão e que não vivemos como membros do mesmo corpo.

Fazer isso até que ele venha, é simplesmente ser igreja.
Assim como aquele Samaritano que ia de viagem se compadeceu daquele homem que foi assaltado; aproximou-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhe azeite e vinho. Então pondo-o sobre a sua cavalgadura levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. Partindo no outro dia, tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: "Cuida dele, e tudo o que de mais gastares com ele te pagarei quando voltar”. A pergunta é: Quem foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Nesses dois dias que são como mil anos, deveríamos estar fazendo o mesmo antes que ele venha e nos pegue como disse Paulo: “vocês se reúnem para pior e não para melhor”.


Em que ambiente acontece a ceia do Senhor? Lucas 22.14,24; Mateus 26.17,30.

Jesus estava indo para cruz, e como homem estava angustiado. Em Lucas 22.15, nos revela o seu coração e o desejo de estar com seus discípulos pela última vez antes do seu sofrimento. Se você notar, Jesus não esta instituindo a ceia, ele está participando da sua última páscoa com os discípulos Lucas 22.15. A páscoa era uma refeição ritual que lembrava como Deus com mão forte tirou o povo do Egito. O que quero dizer? Eu quero dizer que até aqui não vejo nenhuma instituição de ceia, e sim uma refeição ritual comum recheada de sentimento revelado pelo que Jesus disse: “Desejei muito comer convosco essa páscoa, antes do meu sofrimento”.
O que havia até então eram refeições comuns que nos identificava com o dono da casa e as refeições rituais que nos identificava com aquele rito.


Algumas perguntas devem ser feitas para chegarmos a algumas conclusões interessantes:

O que Jesus quis dizer aos apóstolos?
Como Paulo interpretou Jesus a respeito da ceia.

Uma coisa quero ressaltar.
O ambiente é bem diferente, mas as pessoas são as mesmas, carregando dentro de si as mesmas doenças existenciais, tomadas pelo desejo de poder, pela avareza, pela discriminação, capazes de dividir o corpo pela sua religiosidade hipócrita, fazendo que esse ambiente se torne apenas o ambiente da religião sem vida e sem significado (1 Corintios 11.17).

O que Jesus quis dizer aos apóstolos?

Jesus em algumas ocasiões se reuniu exclusivamente com os apóstolos, para lhes revelar verdades espirituais.
Em algumas ocasiões quando ele explicou parábolas, quando subiu ao monte da transfiguração (subiu apenas com 3), e na última páscoa, ele queria revelar verdades espirituais, que seriam transmitidas à igreja pela liderança dos apóstolos.
O fato de ele só ter chamado os doze, apesar de não ter como discípulos só os doze, só se explica nesse fato, senão Jesus estaria cometendo o mesmo erro com que Paulo estava repreendendo a igreja de Corinto (acepção de pessoas).
Como Jesus excluiria Maria, Marta e Lázaro da Sua última ceia antes de ele morrer, (se ele amava profundamente essa família).

Ele esta na páscoa comendo (Mateus 26.26 diz: “Enquanto comiam”) e bebendo (Lucas 22.17 diz: “Jesus tomou o cálice, deu graças e disse: Tomai-o e reparti-o entre vós”). Esse cálice não é o cálice que representará o seu sangue, e apenas para eles beberem. O cálice da Nova Aliança está no versículo 20.

Qual seria a verdade que Jesus queria revelar aos discípulos antes da sua morte?
Creio que seria algo a respeito da união mística dos discípulos, que pela sua morte não mais seriam doze, mais seriam apenas um só corpo nele. Para isso ele aproveita o momento da páscoa e usa dos próprios alimentos na mesa para revelar essa verdade.
Jesus disse: “Isto é o meu corpo e isto é o meu sangue”.

O que Jesus estava querendo dizer?

Se Jesus estava revelando a verdade que os discípulos não mais seriam doze, mas apenas um só corpo e um só pão como disse Paulo em Corintios 11.16,17, precisamos repensar a nossa interpretação a respeito da ceia, porque se o pão partido apenas revela que todos somos parte desse corpo místico, o corpo do senhor não é Jesus que foi partido, mas a igreja ali representada apenas pelos doze, que hoje são milhões de pães partidos que fazem parte de um só pão e são parte de um só corpo.
Jesus pega o pão inteiro que significa a plenitude da igreja (segundo Paulo), e parte entre os doze dizendo fazei isto em memória de mim. Eucaristia quer dizer: O bem que se faz a alguém que não merece. É a mesma raiz da palavra grega ca,rij, que quer dizer graça...Favor imerecido.

Jesus disse: repartam com todas as pessoas, cuidem das pessoas, não deixem que haja fome entre vocês, me faça conhecido não pelo discurso de vocês, mas pelas ações de amor e pela vida que se entrega a favor do bem ao próximo.
A igreja entendeu o que Jesus queria dizer. Paulo sabendo de toda avareza e discriminação que estava acontecendo na igreja de Corinto repreende a igreja dizendo que eles fazendo assim, não estão discernindo o corpo do Senhor, que segundo Paulo é a igreja do Senhor.

Como Paulo interpretou Jesus a respeito da ceia?
Precisamos entender a revelação... Não pode haver nenhuma contradição entre o pensamento Paulino e o que Jesus disse.
A teologia Paulina a respeito de corpo de Cristo, sempre aponta para a igreja, e nunca para o corpo de Cristo literalmente falando (1 Cor 6.19); (1.10,16,17); (1 Cor 11.27,29); (1 Cor 12.12,27); (Ef 1.22,23); (Ef 2.16); (Ef 3.6); (Ef 4.4); (Ef 4.12); (Ef 4.16); (Col 1.18); (Col 1.24). Sendo assim, o que Jesus quis dizer, deve ser exatamente o que Paulo disse.

Se Paulo entende igreja como o corpo místico de Cristo, Jesus nos evangelhos estava querendo dizer a mesma coisa. Se Jesus realmente quis dizer que aquele pão que estava na sua mão era a plenitude da igreja, então Jesus quis dizer: Este pão representa todos vocês...E quando ele partiu o pão entre eles, representava que eles individualmente seriam parte desse corpo e que deveriam compartilhar ou alimentar as pessoas. Ele disse: “Fazei isto em memória de mim”. A igreja por muito tempo interpretou erradamente esse dito de Jesus... Sempre se acreditou que Jesus estava dizendo que nós deveríamos partir o pão que simboliza o seu corpo (corpo dele e não a igreja), e deveríamos fazer isso em memória dele até que ele venha.

Vamos nos reportar ao ambiente da páscoa, onde Jesus estava com seus discípulos.
Jesus em determinado momento pega um pão qualquer e diz: “isto é o meu corpo (igreja) que é partido por vós (cada um individualmente... os doze seriam partes do mesmo pão, sendo um só em Cristo”). Fazei isto em memória de mim. Repartam o pão com as pessoas, compartilhem com aquele que não tem, e façam isto até que eu venha. Quando Paulo fica sabendo que a igreja de Corinto estava dividida e discriminando os mais pobres, ele repreendeu a igreja por sua prática religiosa sem nenhum significado... Ele disse: “Vocês se reúnem para pior e não para melhor”. É preciso entender que Jesus em todo tempo que esteve aqui, se preocupava sempre com as pessoas... Ele priorizava sempre as pessoas e raramente se envolvia com outra coisa.
Paulo quando repreende a igreja em Corinto, não repreende por causa de um erro na liturgia na refeição do ágape, mas por causa dos pobres que estavam sendo discriminados na igreja... Os mais abastados levavam o alimento, mas não gostavam de dividir com aqueles que não levavam nada. O espírito de avareza continua sendo o mesmo... Hoje temos mesas de diretoria, mesas só para os líderes, alimentos diferenciados onde só comem os mais abastados, os pobres continuam sendo desamparados porque não sobra nada e nem recursos para ajudá-los e nós continuamos com os nossos ritos sem vida e sem essência nos reunindo para pior e não para melhor.


O que Paulo quis dizer a Igreja de Corinto?

Os mais ricos chegavam mais cedo e faziam uma refeição completa antes que os mais pobres chegassem e encontrassem apenas pão e vinho simbólicos. A prática coríntia dava, já nos anos 50, os primeiros sinais claros de separação entre refeição completa e ação ritual.

O que exatamente Paulo responde a igreja de Corinto? Qual é exatamente a lógica da resposta de Paulo na tradição já dada a eles, mas agora repetida por causa do problema atual? Observemos como a transformação ritual do pão e a transformação ritual paralela do vinho acontece antes e depois da refeição.

Paulo insiste que a seqüência não é, como na prática coríntia, refeição + ritual de pão/corpo e cálice/sangue, mas sim, como na tradição pré-paulina, ritual de pão/corpo + refeição + ritual de cálice/sangue. Em outras palavras, não há para Paulo nenhum meio de separar a refeição ritual. A Ceia do Senhor é plenamente refeição e plenamente ritual.

O próprio Jesus instituiu esse processo e ordenou que fosse feito dessa maneira "em memória dele". Paulo estava absolutamente correto ao insistir que simbolismo e realidade deveriam ficar juntos, que a Ceia deveria envolver uma refeição compartilhada completa.

Quero caminhar pelo texto sempre respeitando a interpretação coerente e dentro do contexto de 1Cor 11 dos Evangelhos e da tradição.

1º - O que quer dizer a palavra grega para ceia?
Eucaristia quer dizer: O Favor que é oferecido a alguém que não merece... É a mesma raiz da palavra traduzida como graça. O ágape era uma refeição ritual que identificava a todo aquele que participava com aquele rito ou com aquela divindade. Todos participavam da refeição e a igreja agregava todos aqueles excluídos e discriminados pela sociedade. O problema da igreja em Corinto era de uma comunidade socialmente estratificada. É particularmente evidente que a tensão era basicamente entre cristãos ricos e cristãos pobres, isto é, entre os que tinham comida e bebida suficiente em suas próprias casas (11,21-22) e os que nada tem (11,22).

Os abastados eram os que se adiantavam com suas refeições antes da chegada dos membros mais pobres (11,33). Paulo introduz sua exortação dizendo que “vocês se reúnem para pior e não para melhor”. Evidentemente, as divisões e o partidarismo foram a principal preocupação na carta como um todo, e era na reunião para comer a ceia que a divisão se manifestava mais claramente. Paulo, sabendo da discriminação e a acepção de pessoas, repreende duramente os mais abastados da igreja por fazerem do sacramento da ceia apenas um ritual sem vida onde a essência já havia sido perdida, sobrando apenas uma religião que segundo Paulo não servia para nada, sendo melhor que eles não se reunissem.

Tiago realça as tensões que surgiram dentro de uma comunidade primitiva entre ricos e pobres. O autor sugere que “glorie-se o irmão de humilde condição na sua exaltação, mas o rico na sua humilhação” (Tg 1,9). Aos poucos a carta fica mais sutil, à medida que Tiago a igreja por demonstrar favoritismo pelos que comparecem as reuniões com anéis de ouro e com ricas vestes (2,2-3). Sem acusar os cristãos ricos de abuso, Tiago descreve os membros da classe endinheirada em geral como predadores: ”Não são os ricos que vos oprimem, os que vos arrastam aos tribunais? Não são eles que blasfemam contra o nome sublime que foi invocado sobre vós?” (2,6-7). A referência aos ricos que “blasfemam contra o nome sublime” é coerente com Judas, 2ª Pedro e outros escritos cristãos primitivos que associam a busca da riqueza à transigência blasfema.

A questão era de um espírito de avareza comum nas comunidades protocristãs onde as pessoas mais abastadas gozavam de favorecimentos e proeminência nas “igrejas”.
Precisamos ler 1ª Corintios 11, percebendo todo esse contexto, para entendermos exatamente o porque de Paulo repreender a igreja em sua prática eucarística.

Paulo entende corpo do Senhor como sendo a igreja, portanto a igreja que cumpre apenas o ritual da ceia sem discernir o corpo do senhor (igreja), participa indignamente dela. Se nós entendermos que nas igrejas havia mais pobres do que ricos, a discriminação e a exclusão eram muito grandes, a ponto das pessoas excluídas ficarem fracas e doentes e até morrerem.

Participar indignamente como Paulo disse, é excluir pessoas, é ser avarento, é favorecer os mais abastados, é não discernir o corpo do Senhor (igreja), é participar apenas de forma ritual da ceia sem respeitar a essência dela. Examine-se, pois o homem a si mesmo e coma. Um chamado à reflexão, um chamado a uma introspecção. Precisamos olhar pra dentro de nós mesmos e percebermos se somos participantes apenas de um ritual sem vida.
Quem somos nós dentro desse contexto?
Quem sou eu?
Quem é você?
Com que espírito participamos da ceia?
Discriminamos as pessoas?
Damos preferências aos que tem mais condição financeira?
Excluímos as pessoas do nosso convívio?
Compartilhamos da mesa com todos ou temos uma mesa diferente para os líderes?
Gostamos de compartilhar do que temos com os mais pobres?
A igreja cuida dos mais pobres? “Se não, somos piores do que os incrédulos”.


Examine-se, pois o homem a si mesmo e coma. Não está falando em momento algum sobre examinar o outro, até porque Deus não nos deu a prerrogativa de julgar outra pessoa.

Fazer em memória de mim é muito mais do que partir um pedaço de pão ou tomar um cálice de vinho. Ceia aponta para a comunhão que não exclui ninguém. Ceia é repartir com os excluídos até que ele venha “fazei isso em memória de mim”. Nada mais é significativo do que Jesus ser conhecido não pelo discurso da igreja, mas pelas obras que ela pratica “fé sem obras é morta”. Os discípulos não mais seriam doze mais seriam um em Cristo e seriam parte de um só corpo, e deveriam compartilhar sobre Jesus com todos aqueles que quisessem ouvir a respeito dele.

Paulo falando aos fariseus disse: o discurso deles era um e a prática era outra. O mesmo acontece com a igreja hoje... O mundo já não agüenta mais o nosso discurso hipócrita sem vida e sem verdade em nós “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós”.

Somos religiosos que cumprimos apenas com rituais...Se não admitirmos isso enquanto é tempo, seremos pegos em nossa própria religião e não seremos diferentes de nenhuma outra religião, apenas um pouco pior do que as outras, porque conhecemos a verdade e não vivemos.

Pense nisto
Wagner



Continua....

Bem...Mal... Quem é Você?


BEM...MAL... QUEM É VOCÊ?



Há pessoas que se sentem bem praticando o mal, como há pessoas que se sentem mal praticando o bem, como também existem aqueles que praticam o bem no afã derecebê-lo como troca, sem saberem que desta forma estão fazendo o pior mal quepodem fazer a si mesmos, o mal do ato de se enxergar como uma vitima por praticar o bem e não o receber de volta.

Não podemos deixar de citar também aqueles que sentem orgasmos em ver o mal acontecer com aqueles que para eles são ruins, estes, estão tão certos de suas verdades e se sentem tão bons, que já fizeram do bem um mal, pois para eles somente um certo tipo de gente merece o bem.

Nem sempre é bom fazer o bem, nem sempre faz bem fazer o bem, nem sempre praticar o bem é sinônimo de bondade, pois o pior bem a ser praticado é aquele que carrega consigo o tão desgraçado sentimento chamado obrigação, pois é justamente ele que nos faz vestir às mascaras, nos deixando mal consigo mesmo, até quando se estar praticando o bem, pois nos força a ser o que não somos.

A bondade e o ato de fazer o bem como comportamento possuem sempre configurações diferentes conforme o tempo que estão sendo praticados, portanto, que fazer o bem seja sempre uma expressão de bondade, ainda que faça mal, mas que o bem seja sempre praticado, pois o maior bem acontece com quem o pratica e não comquem o recebe, visto que quem o recebe o recebe por estar mal, e quem o pratica, o pratica por estar bem.

Ninguém é tão mal que não consiga praticar o bem e não existe uma pessoa tão boa que não faça o mal. Conseqüentemente se a bondade é sempre fruto do tempo que se é praticada podemos dizer que bondade e fazer o bem são categorias diferentes, assim sendo, o ato em si nunca passará de um ato, pois o que realmente tem valor é a pessoa que e o estar pondo em pratica, aliás, que tipo de pessoa você é?

Pare e pense

Wagner

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sem Contabilidade


SEM CONTABILIDADE


Uma pessoa tinha comprado casas centenárias, onde cada morador havia pintado a casa de acordo com o seu gosto. Assim, ele não queria pôr vestido novo sobre vestido velho. Foram necessárias varias raspagens, para que a parede original aparecesse.


Nós. Casas. Vão-nos pintando pela vida afora até que memória não mais existe do nosso corpo original. O rosto? Perdido. Máscaras de palavras. Quem somos? Não sabemos. Para saber é preciso esquecer, desaprender.

Nós só vemos aquilo que somos. Ingênuos, pensamos que os olhos são puros, dignos de confiança, que eles realmente vêem as coisas tais como elas são. Puro engano. Os olhos são pintores: eles pintam o mundo de fora com as cores que moram dentro deles. Olho luminoso vê mundo colorido; olho de trevas vê mundo negro.

Nem Deus escapou. Mistério tão grande que ninguém jamais viu, e até se interditou aos homens fazer sobre ele qualquer exercício de pintura, segundo mandamento, ”não fará para ti imagens”, tendo sido proibido até, com pena de morte, que seu próprio nome fosse pronunciado. Mas os homens desobedeceram. Desandaram a pintar o grande mistério como quem pinta a casa. E, a cada nova demão de tinta, mais o mistério se parecia com a cara daqueles que o pintavam. Até que o mistério desapareceu, sumiu, foi esquecido, enterrado sob a montanha de palavras que os homens empilharam sobre o seu vazio. Cada um pintou Deus do seu jeito.
Disse Angelus Silesius: o olho pelo qual Deus me vê é o mesmo olho através do qual eu vejo Deus. E assim Deus virou vingador que administra um inferno, inimigo da vida que ordena a morte, eunuco que ordena a abstinência, juiz que condena, carrasco que mata, banqueiro que executa débitos, inquisidor que acende fogueiras, guerreiro que mata os inimigos, igualzinho aos pintores que o pintaram.

E aqui estamos nós diante desse mural milenar gigantesco onde foram pintados rostos que os religiosos dizem ser rostos de Deus. Deus não pode ser assim tão feio. Deus tem de ser bonito. Feio é o cremulhão, o cão, o coisa-ruim, o demo. Retratos de quem pintou, isso sim. Menos que caricatura. Caricatura tem presença. Máscaras. Ídolos. Para se voltar a Deus, é preciso esquecer, esquecer muito, desaprender o aprendido, raspar a tinta.
Os que não perderam a memória do mistério se horrorizaram diante dessa ousadia humana. Denunciaram. Houve um que gritou que Deus estava morto. Claro. Ele não conseguia encontrá-lo naquele quarto de horrores. Gritou que nós éramos os assassinos de Deus. Foi acusado de ateu. Mas o que ele queria, de verdade, era quebrar todas aquelas máscaras par poder de novo contemplar o mistério infinito.

Outro que fez isso foi Jesus.”Ouviste o que foi dito aos antigos; eu porem vos digo...” O deus pintado nas paredes do templo não combinava com o Deus que Jesus via. O deus sobre o que ele falava era horrível às pessoas boas e defensoras dos bons costumes. Dizia que as meretrizes entrariam no reino à frente dos religiosos. Que os beatos eram sepulcros caiados: por fora brancura, por dentro fedor. Que o amor valia mais do que a lei. Que as crianças são mais divinas que os adultos. Que Deus não precisa de lugares sagrados – cada ser humano é um altar, onde quer que esteja.

Ele fazia isso de forma mansa. Contava estórias. Uma delas, os pintores de parede lhe deram o nome de Parábola do Filho Pródigo. É sobre um pai e dois filhos. Um deles, o mais velho, todo certo, de acordo com o figurino, cumpridor de todos os deveres, trabalhador.

O outro, mais novo, malandro, gastador irresponsável. Pegou sua parte da herança adiantada e se mandou pelo mundo, caindo na farra e gastando tudo. Acabou a dinheiro, e veio à fome, foi tomar conta de porcos. Aí se lembrou da casa paterna e pensou que lá os trabalhadores passavam melhor do que ele. Imaginou que o seu pai bem poderia aceitá-lo como trabalhador, já que não merecia mais ser tido como filho. Voltou. O pai o viu de longe. Saiu correndo ao seu encontro, abraçou-o e ordenou uma grande festa com música e churrasco. Para os pintores de parede a estória poderia ter terminado aqui. Boa estória para exortar os pecadores a se arrepender. Deus perdoa sempre. Mas não é nada disso. Tem a parte do irmão mais velho. Voltou do trabalho, ouviu a música, sentiu o cheiro do churrasco, ficou sabendo do que acontecia, ficou furioso com o pai, ofendido, e com razão. Seu pai não fazia distinção entre credores e devedores. Fosse o pai como um confessor e o filho gastador teria, pelo menos, de cumprir uma penitência.

A parábola termina num diálogo suspenso entre o pai e o filho justo. Mas o suspense se resolve se entendermos as conversas havidas entre eles. Disse o filho mais moço ao pai: ”Pai, peguei o dinheiro adiantado e gastei tudo. Eu sou devedor e tu és credor”.Respondeu-lhe o pai: ”Meu filho, eu não somo débitos”.Disse o filho mais velho ao pai:”Pai, trabalhei duro, não recebi meus salários, não recebi minhas férias e jamais me deste um cabrito para me alegrar com meus amigos. Eu sou credor, tu és devedor.” Respondeu-lhe o seu pai:”Meu filho, eu não somo créditos.”

Os dois filhos eram iguais um ao outro, iguais a nós: somavam débitos e créditos. O pai era diferente. Jesus pinta um rosto de Deus que a sabedoria humana não pode entender. Ele não faz contabilidade. Não soma nem virtudes nem pecados. Assim é o amor. Não tem porquês. Sem razões. Ama porque ama. Não faz contabilidade nem do mau nem do bem. Com um Deus assim, o universo fica mais manso. E os medos se vão. Nome certo para a parábola: ”Um pai que não sabe somar”.Ou: ”Um pai que não tem memória...”.

Rubens Alves

Nele.
Que não soma créditos e nem débitos.
Wagner

Resposta Sobre Dovórcio


Maledicência
1 Qualidade de quem é maledicente ou maldizente
2 Ação ou hábito de dizer mal dos outros; difamação, detração, maldizer.

Eu gostaria de perguntar aos exegetas. Estou errado?

Existem princípios de interpretação, (e quero falar especificamente sobre divórcio) que devem ser observados para não cairmos no extremismo.
Para a interpretação bíblica, qualquer assunto que existem mais de uma interpretação ou correntes teológicas que em alguns pontos diferem entre si, não podemos dizer que a nossa posição é a única correta. Existem posições diferentes para vários temas da bíblia e inclusive sobre divórcio, porque existem biblicamente concessões que precisam ser avaliadas, a cultura que precisa ser muito bem estudada e a aplicação (hermenêutica), precisa abordar inclusive questões atuais para uma melhor atualização e entendimento do referido tema.

Dito isto:

Não posso afirmar nada sobre qualquer pessoas divorciada e casada de novo, e inclusive afirmar biblicamente que ela é adúltera por ter contraído novo casamento e nem dizer que não pode exercer qualquer função ministerial.

Afirmar maldição ou dizer que alguém é isso ou aquilo, primeiro não compete a mim, e Deus não me dá esse direito de fazer isso com ninguém, não só porque estamos todos no mesmo barco, como também Deus avalia com categorias e critérios que transcende a minha capacidade de discernir e entender qualquer outra pessoa.

Para que eu afirme qualquer coisa sobre alguém biblicamente, esse assunto deve estar esgotado e definido teologicamente. Exemplo: (Jesus é o nosso salvador) (Jesus é nosso Senhor). Isso pode se afirmar porque é um assunto definido, fechado e é consenso em todas as correntes teológicas.
Sem que isso aconteça, não podemos dizer no caso específico (divórcio e novo casamento), que alguém está em adultério, porque não é um assunto fechado teologicamente e para muitos ainda não há consenso.

O perigo de dizer e rotular alguém pelo que diz ou por qualquer outra coisa sem que esse assunto esteja fechado, é MALEDICÊNCIA, principalmente uma maldade e PECADO. Quem pratica esse pecado FICARÁ DE FORA IGUAL AO ADÚLTERO segundo a bíblia.

Provérbio diz: Há seis coisas que o Senhor odeia, sete que sua alma abomina:
Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal; testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre os irmãos.

Pare e reflita
Wagner

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dar a Luz a Si Mesmo


Dar à Luz a Si Mesmo


O útero é a matriz do Ser por excelência. Em hebraico, réhem é a matriz, o seio interior, o útero da mulher. Ele envolve e acolhe a vida, fruto da união do masculino e do feminino, do homem e da mulher, numa só carne. No útero, o embrião é matriciado e desenvolve-se. Qual o significado do desenvolvimento da criança, do jovem e do adulto? A palavra desenvolvimento foi tão usada pela economia e pela sociologia e acabou contaminada. Entretanto, sua origem etimológica é evidente: desenvolver é o oposto de envolver. Quem se des-envolve, livra-se de envolvimentos e matrizes. O desenvolvimento da criança, do adolescente e da pessoa humana traz à lembrança a vocação desse processo, oposto às prisões, aos envolvimentos ilusórios e esterilizantes. Cada indivíduo deve buscar seu verdadeiro lugar na vida, rompendo com envolvimentos que limitam e confundem. Para se libertar do primeiro envelope, o ventre materno, as forças naturais bastam. Para se livrar dos envelopes verbais e imaginários, como prepúcios como tecidos em torno de nós pelos pais, familiares e sociedade, as forças sobrenaturais – simbólicas e espirituais – são necessárias.
O primeiro envelope, o do ventre materno, é essencial e necessário por nove meses. A matriz uterina recebe, mantém e da à vida. Numa perspectiva bíblica mais ampla, Deus é a matriz de cada uma de suas criaturas ao longo de nossa existência. Mas esse envelope material, no final da gravidez, torna-se prisão e limite. O desenvolvimento progressivo do embrião, do feto e do bebê leva ao abandono do envelope uterino e ao nascimento. No tempo certo, mas de forma inevitável, a criança nasce, “rompendo” a matriz abdominal da mãe. As condições do parto não são sem consequência sobre a psique e o destino do recém-nascido. Ao sair de um envelope, entra-se em outro: o organismo familiar, uma nova matriz “abdominal”. A criança precisa de alimentos sólidos e líquidos para viver. E é alimentada nessa nova matriz, a mais exposta do ser humano, a que se manifesta a maior exterioridade e a menor interioridade. O que deveria ser matriz manancial, nascente e fonte pode tornar-se rapidamente um projeto de molde e forma.

Continua ...


Corpo
Território do Sagrado
Evaristo Eduardo de Mirando

domingo, 20 de dezembro de 2009

Falando Pela Boca de Einstein


Falando pela boca de Einstein



Descrevendo três tipos de religiosidade:


“Entre os homens primitivos é o medo, acima de tudo, que provoca a religião – medo de fome, das feras, das doenças, da morte [...]. Os impulsos sociais são outra forma de cristalização da religião [...]. O desejo de ser guiado, de amor, de apoio, leva o homem a formar o conceito moral de Deus. Este é o Deus da Providência, que protege, dispõe recompensa e pune [...]. Este é o conceito moral ou social de Deus. A Bíblia judaica ilustra admiravelmente a passagem de uma religião de temor para uma religião moral, um processo que continua no Novo Testamento. As religiões de todos os povos civilizados, especialmente no Oriente, são primariamente religiões morais [...]. O que há de comum nessas formas de religião é o caráter antropomórfico do conceito de Deus [...].
Mas há um terceiro estágio da experiência religiosa que está presente nos anteriores, embora seja dificilmente encontrável em sua forma pura: Eu o denomino sentimento religioso cósmico [...]. O indivíduo sente a futilidade dos desejos e objetivos humanos e (sente) a ordem sublime e maravilhosa que se revelam na natureza e o mundo do pensamento [...]. [Este] sentimento religioso cósmico já aparece nos salmos de Davi e em alguns Profetas. O Budismo [...] contém isso de modo ainda mais forte. Os gênios religiosos de todos os tempos se distinguiram. Poe este tipo de sentimento religioso, que desconhece dogmas e um Deus conhecido como imagem do homem [....]. É precisamente entre os hereges [...] que nós encontramos homens [...] com o mais elevado sentimento religioso desta espécie [...] que eram considerados pelos seus contemporâneos muitas vezes como ateus e às vezes também como santos. Nesta perspectiva, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Espinoza estão muito próximos entre si”. ([124, apud [121}, PP. 36-38).

Pare e pense
Wagner

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes?


Alimentando as Ovelhas ou Divertindo os Bodes?



Existe um mal entre os que professam pertencer aos arraiais de Cristo, um mal tão grosseiro em sua imprudência, que a maioria dos que possuem pouca visão espiritual dificilmente deixará de perceber. Durante as últimas décadas, esse mal tem se desenvolvido em proporções anormais. Tem agido como o fermento, até que toda a massa fique levedada. O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada, como a dos puritanos; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo, e no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões.
Minha primeira contenção é esta: as Escrituras não afirmam, em nenhuma de suas passagens, que prover entretenimento para as pessoas é uma função da igreja. Se esta é uma obra cristã, por que o Senhor Jesus não falou sobre ela? .Ide por todo o mundo e pregue o evangelho a toda criatura. (Mc 16.15). Isso é bastante claro. Se Ele tivesse acrescentado. E oferecei entretenimento para aqueles que não gostam do evangelho, assim teria acontecido. No entanto, tais palavras não se encontram na Bíblia. Sequer ocorreu à mente do Senhor Jesus. E mais: .Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres. (Ef 4.11). Onde aparecem nesse versículo os que providenciariam entretenimento? O Espírito Santo silenciou a respeito deles. Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque se recusavam a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires.
Novamente, prover entretenimento está em direto antagonismo ao ensino e à vida de Cristo e de seus apóstolos. Qual era a atitude da igreja em relação ao mundo? .Vós sois o sal., não o .docinho., algo que o mundo desprezará. Pungente e curta foi à afirmação de nosso Senhor. Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. (Lc 9.60). Ele estava falando com terrível seriedade!
Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: Pedro vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira! . Jesus teve compaixão dos pecadores, lamentou e chorou por eles, mas nunca procurou diverti-los. Em vão, pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é. Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!. Qualquer coisa que tinha a aparência de brincadeira evidentemente foi deixada fora das cartas. Os apóstolos tinham confiança irrestrita no evangelho e não utilizavam outros instrumentos. Depois que Pedro e João foram encarcerados por pregarem o evangelho, a igreja se reuniu para orar, mas não suplicaram: .Senhor, concede aos teus servos que, por meio do prudente e discriminado uso da recreação legítima, mostremos a essas pessoas quão felizes nós somos.. Eles não pararam de pregar a Cristo, por isso não tinham tempo para arranjar entretenimento para seus ouvintes. Espalhados por causa da perseguição foram a muitos lugares pregando o evangelho. Eles transtornaram o mundo. Essa é a única diferença! Senhor limpe a igreja de todo o lixo e baboseira que o diabo impôs sobre ela e traga-nos de volta aos métodos dos apóstolos.
Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.
Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

Charles Haddon Spurgeon

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Abuso Espiritual



Abuso Espiritual






Caminhar sobre o solo do tema abuso espiritual exige cuidado e afeto. O solo é sagrado. Não é outro senão o coração de vítimas. As vítimas estão sempre fragilizadas e carregam consigo suas dores na carne e na alma. Jesus ensina a pisar no solo sagrado da intimidade das vítimas: com a cautela amorosa de quem não quer apagar o pavio que fumega nem esmagar a cana trilhada. Implica o sopro singelo para que as chamas se recupere desde das cinzas e o carinho necessário para que as feridas encontrem o caminho da cura.
Ao longo dos anos, tenho experimentado o privilégio de oferecer meu ombro para o pranto, os ouvidos para o lamento, e os joelhos para suportar a intercessão aqueles que de alguma maneira foram feridos em nome de Deus. Carrego comigo o fardo das culpas e vergonhas (as vítimas tendem a se enxergar como responsáveis pelo abuso que sofreram), decepções e frustrações, ódios e ressentimentos, desdém e indiferenças (fingir que nada aconteceu ou que o ocorrido foi de somenos importância é uma espécie de fuga), desconfianças e inseguranças, além da inevitável crise de fé, aquela necessária revisão de tudo que foi assimilado como verdade e é colocado em suspeição no tribunal a consciência desperta e do bom senso recuperado. O dia seguinte ao abuso é sempre dia de choro. E nem todos conseguem discernir ao certo os motivos de suas lágrimas. É por essa porta entreaberta que dá acesso a um labirinto de pensamentos e de sentimentos que o pastor entre pisando leve e falando baixo, com cuidado para que o último fôlego de vida não se perca.
No quarto escuro em que os feridos em nome de Deus provisoriamente se recolhem, encontrei apenas vítimas. Confesso que inicialmente me deixei contaminar pelo ímpeto de quem clama por justiça e pelas descrições ácidas que caricaturavam os autores de abuso como monstros inescrupulosos – e infelizmente não duvido que alguns o sejam. Mas aos poucos fui percebendo e discernindo que na cirando do abuso espiritual não existem algozes ou vítimas, mas normalmente apenas vítimas, cada qual a sua maneira e própria dimensão.
As vítimas de abuso sofrem porque de repente seus olhos se abrem a enxergam quanto foram usurpadas: física, emocional, material e espiritualmente, pois o abuso nunca afeta uma área da vida, senão todas, em diferentes proporções – o abuso é sistemático. Os autores do abuso, por sua vez, também foram ou estão sendo vítima de abuso: ou reproduzem o dano que sofreram ou estão sendo manipulados como instrumentos para causar danos – por trás do abuso está o espírito daquele que vem para matar, roubar e destruir.

Prefácio do Livro Feridos em Nome de Deus
Ed René Kivitz

Seria bom que alguns se olhassem no espelho
Wagner

Pentecostalismo? Esse? Qual?


Pentecostalismo? Esse? Qual?


O pentecostalismo contraria a tendência da intelectualização do protestantismo. É menos racional, e é isso que as pessoas buscam. Nele, o seu contato com Deus no culto é mais importante do que a vida civil, como ocorreria no protestantismo clássico, que construiu, por exemplo, a civilização norte-americana.

Como explica o sociólogo da religião Antônio Flávio Pierucci, o protestantismo traz muito poder ao culto porque é ali que se manifestam os dons do Espírito Santo, as profecias, o falar em línguas estranhas, o que leva as pessoas a sentirem que Deus se agrada delas. E isso já basta. Não é como no protestantismo original, em que a salvação precisava ser demonstrada na prática, por meio de uma vida íntegra.


Feridos em Nome de Deus
Marília de Camargo César

O fogo que vem de cima para baixo (de Deus) aquece primeiro o interior, transformando o homem de dentro para fora. O genérico, que vem de baixo, só mexe na casca, sem nenhum significado na vida daquele que o experimenta.

Pense nisto
Wagner

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Deixando as Coisas de Menino


Crescer na Graça e no Conhecimento

“Não deis aos cães as coisas santas, nem atireis vossas pérolas aos porcos; para que eles não as pisem com os pés e, voltando contra vós, vos despedacem” (Mt 7,6)... Diria Jesus a cada um de nós!

Infelizmente é mesmo por este caminho que os poderosos de hoje fabricam as suas “marionetes” de Deus. Uma coisa é formar as pessoas, outra coisa é querer uniformizá-las assim tão cegamente. É uma pena que infelizmente, até mesmo esta simples palavra, este “Amém”, tão espontâneo por muitos de nós, tenha sido manipulado, rotulado, institucionalizado, transformado em grito de guerra. Ele está tornando-se ultimamente em si, numa espécie de chavão de consumo, dentro de certas religiões, pelos constantes fazedores do mal e do poder centralizador, uniformizando assim, pessoas seduzidas por este “canto da sereia” próprio do momento presente, que é esta atual globalização maquiada num tipo de sagrado, com sabor New Age.

Este tipo de articulação indevida acaba em si gerando aqui um certo modelo de opressão, deixando de fora muitas boas pessoas daquilo que verdadeiramente é a própria dinâmica do Reino. Por isso, neste nosso contexto de Fé e Vida, é necessário, antes de tudo, amadurecer a razão, a emoção e o poder que temos, para não sermos então totalmente enganados pela religião que facilite a teologia da retribuição em oposição à devida teologia da comunhão que é essencial na Revelação Trinitária. “Quem procura uma religião de retribuição está em busca de uma religião de resultados, onde este tipo de mentalidade nos revela aquilo que é próprio do mercado consumista” como diria Pe. Vitor Galdino Feller.

Daí a importância desta nossa mesa na integração da Fé com a Vida, para que a teologia enquanto tal seja aqui em si uma possível teologia de comunhão, e, não da retribuição manipulada, própria do mercantilismo neoliberal. A mesa deve colaborar para quebrar o dualismo existente entre ambas. Pois, no constante jogo consumista destes “pseudo poderosos”, o “amém”, funciona muito bem, delimitando então esta verdadeira integração de nossa Fé com a própria Vida.

Muitos desses tais deuses e deusas, opressores e opressoras deste e do “outro mundo”, geralmente, se aproveitam muito bem desta nossa constante ingenuidade em matéria de “religião”. Pois sem uma fé perfeitamente adulta, acabamos mesmo dominados, principalmente, os mais pequeninos, através daquela costumeira propagação que circula entre nós de uma certa doutrina sobre o ‘pecado’, que está disfarçada entre nós, como “Guerra Santa” e amor cego a um certo fundamentalismo religioso. Pois, essas mesmas arenas religiosas, ao invés de salvarem pessoas, acabam inconscientemente, favorecendo a nossa já tão conhecida Cultura de Morte com suas diversas modalidades, que no caso desta já desenfreada religião de mercado, poderemos então até chamá-la aqui, de ‘terrorismo espiritual’. Nesta tal doutrina do ‘pecado’, infelizmente, o que predomina muitas vezes é aquela antiga lei do “olho por olho” e “dente por dente”, fora de seu devido contexto, propagando assim uma indevida idéia de um Deus meramente justiceiro, o que impede o favorecimento da verdadeira ação da lei da “não violência”, e, da revelação de um Deus de ternura, que na sua constante ausência é mesmo permissível, à origem desta possível Cultura Mortífera.

Teologia da Mesa
Damasceno

Wagner

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

São João da Cruz


“À nossa vida é como uma pomba dentro de uma gaiola que tem a porta aberta por causa da liberdade que nos foi oferecida pelo próprio Deus. A pomba colocada ali está pronta para voar. Mas, por causa do nosso egoísmo não queremos sair de dentro dela. Nos acomodamos e deixamos surgir na porta da gaiola (em sua entrada) uns finíssimos fios como de aranha dourados que são os nossos pecados de estimação. Infelizmente, passamos então a nossa vida inteira contemplando esses mesmos fios dourados e iludidos deixamos de sair da nossa gaiola egoísta para voar até Deus e aos irmãos”.


Apenas Reflita
Wagner