sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Tempo de Quebrantamento



Tempo de Quebrantamento


Nada é mais difícil do que você estar envolvido (e ser obrigado a isso) com pessoas que pensam em total oposição a tudo aquilo que você acredita. Pessoas que reproduzem a acides de uma religião engessada, que lutam a qualquer custo pelo dogma, pelo seu pedaço no bolo, defendem “Jesus” contra a vida e contra todos, criam inimizades, dividem as pessoas, rotulam as pessoas, colocam placas, “discernem entre o bem e o mau”, as suas “igrejas” estão acima de qualquer coisa e não se quebrantam nem diante de Deus e nem diante de situações de tragédia.

Aparecem pessoas de todo tipo. Lideres, por exemplo, julgam a tragédia natural como juízo de Deus, apesar de que segundo a Bíblia o juízo começa pela casa do Senhor (que não são os templos), porque os templos já estão sob o juízo desde da sua fundação. Líderes que se estabelecem sobre pessoas apenas com intuito de se dar bem não só pelo dinheiro, mas pelo sistema chamado de “igreja”, pervertendo assim outras áreas da vida.
Por exemplo:
A sensação de poder tem pervertido muita gente “ética”. A vaidade é o caminho pra baixo na questão da espiritualidade. Deus resiste ao soberbo, toda altivez será abatida. O sistema tem levado muitos líderes “éticos” à prática do nepotismo. Muitos que são “honestos”, porque honestidade não é só na questão do dinheiro, mas até nas motivações interiores, porque aí se instala a falta de temor e a verdade de cada um.

Acho-me impotente diante de um quadro tão pessimista e desesperançoso, o que posso fazer de prático e que seja realmente pertinente a favor da vida. Qual será o legado a ser deixado?

Muitas vezes me pego chorando pela impotência, me pego oscilando entre dois pensamentos. Tem momentos que desejo o juízo sobre toda hipocrisia, sobre toda maldição maldita e amaldiçoada promovida por essa gente; incomodo-me com a resistência das pessoas que preferem ser enganadas a abraçarem a verdade. Em outro momento me vejo penalizado, desejoso que as coisas mudem, com pena daqueles que são manipulados, preferindo Barrabas, e gritando em alto e bom som CRUCIFICA-O!

A impotência diante de uma “igreja” que não se comove com mais nada, que se não se quebranta com a tragédia, que não choram com os que choram e onde o bem das pessoas serve apenas para alimentar a inveja de corações doentes e empedrados pela religião.

Choro por causa da fome e pela desesperança diante de um quadro irreversível. Choro porque a sensação é de que não há mais nada a fazer. Choro porque Deus nos deu muito e não tem quem deseje ardentemente ao genuíno leite espiritual que é a Palavra dita, e até a que não está dita (entenda quem puder). Choro diante de uma “igreja” que não se dobra, é altiva, engessada, amargurada, vingativa, sem amor ao próximo, capitalista, emburrecida, instrumento de maldição não só a respeito da vida, mas de toda a terra. Choro por uma Igreja (aí sim com letra maiúscula), que tem sua referência no prédio e não no dia a dia. Choro pela ambigüidade construída nos corações (são uma coisa na “igreja” e outra fora dela) e choro pela falta de referência que temos e pela falta de exemplo de vida daqueles que se intitulam líderes.

O que fazer?
O que esperar?

Não me venham com uma resposta simplista como: A Palavra está se cumprindo. Diante mão já quero dizer que é muito mais do que isso.

Pare e pense
Wagner

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Vendo o Evangelho, mas Enxergando a Mensagem




Vendo o Evangelho, mas Enxergando a Mensagem



Marcos foi o primeiro a lançar no papel a tradição a respeito de Jesus. Nele a figura do Jesus histórico aparece com maior nitidez. De todos os evangelistas, foi ele quem contou o maior número de milagres e as histórias de cura com mais detalhes. Seu Evangelho nos descreve e interpreta a história de Jesus.
Marcos mostra Jesus como Filho de Deus, como aquele que tem autoridade para anunciar uma nova doutrina e realizar milagres, e também como o homem impotente que é entregue aos pecadores. ''Se precisasse resumir minha visão da mensagem mais profunda do Evangelho de Marcos, diria simplesmente: confiança contra toda angústia, esperança contra todo desespero, luz contra toda escuridão, amor contra todo ódio.

Jesus não exige mais de mim do que posso dar; ele não me impõe um sistema de mandamentos. Ele não me chateia com ideologias piedosas.

Em Marcos, Jesus com seus embaraços e com sua maneira diferente de ser, ele me desafia constantemente a seguir o meu caminho, sem ter medo dos conflitos que me esperam, nem mesmo do fracasso que pode vir destruir a imagem que tenho de mim mesmo. Esse Jesus completamente desarmônico que acaba pregado na cruz me transmite uma confiança abismal: meu caminho desembocará na glória e no amor de Deus, seja qual for o julgamento e a avaliação que os homens fizerem do meu caminho''.

Para Mateus, ser cristão significa ser discípulo. Dessa forma, assim como os discípulos, os cristãos correm o risco de trair Jesus, de não o compreender, de vê-lo sob um ângulo errado ou de querer adaptá-lo à sua própria imagem e semelhança. Considerando que a lei de Deus foi interpretada de maneira errônea por alguns mestres judaicos, Mateus vê Jesus como aquele que interpreta autenticamente a Torá, para que os homens conheçam a vontade verdadeira de Deus. Em grande parte do mundo, reina hoje o medo.

Muitos se sentem dominados e paralisados pela angústia. Como Jesus, nós também podemos sentir a amargura da solidão, do abandono, do desespero, do medo e da impotência da morte. O Jesus do Evangelho de Mateus quer encorajar-nos, para que confiemos, como ele, no Deus em cujas mãos estamos. Em seu escrito, Mateus acentua o desafio ético da mensagem de Cristo: são sobre tudo o amor aos inimigos e a nova justiça que mostram ao mundo que Cristo trouxe a novidade capaz de transformá-lo e de saná-lo.

Hoje, quando o ódio só produz mais ódio, quando a violência se baseia freqüentemente em razões religiosas, o Evangelho de Mateus nos mostra como a inimizade pode ser superada pelo amor, como a violência pode ser vencida pela não-violência. Incentivando uma nova convivência segundo o espírito de Jesus, a Igreja poderá transformar-se em sinal de esperança, mostrando que a paz é possível...

Lucas, um homem culto, versado na filosofia e na literatura dos gregos, e conhecedor da tradição judaica, sentiu-se pessoalmente emocionado pela mensagem de Jesus e conseguiu descrevê-la de tal maneira que judeus e gregos entenderam o novo caminho para a vida que ele abriu na história humana e aprenderam a amá-lo.

O que Lucas conseguiu em seu tempo é tarefa da teologia de qualquer época: verbalizar a mensagem de Jesus de tal maneira que os contemporâneos se sintam atingidos e interessados por ela. Por isso, fascinado pela tentativa de Lucas de transpor a mensagem de Jesus para o horizonte de compreensão dos gregos, por ter sabido pintar de Jesus uma imagem atraente, muitos conseguem e prosseguem nesse esforço, interpretando os textos bíblicos preocupados com as necessidades e aspirações das pessoas e fazendo sua transposição para o caminho espiritual de cada um.

O Evangelho de João não pretende dar apenas informações sobre Jesus, mas apresentar sua figura como aquele que nos introduz na experiência mística do ''Deus Ternura'' no Meio de nós. João diz que Jesus é aquele que nos revela Deus, que o torna visível e experimentável neste mundo.

Na linguagem da mística de hoje, diríamos: Jesus nos introduz na experiência mística do Reino. Ele nos leva além da realidade imediata, revelando-nos a realidade propriamente dita, aquilo que realmente interessa, no visível ele quer fazer aparecer o invisível. João está convencido de que o homem se afastou de Deus e que, com isso, acabou-se afastando também de si próprio de seu núcleo divino, essa alienação fez com que ficasse preso dentro de si mesmo, tornando-se assim incapaz de amar.

A cura do homem consiste em sua religação com o divino, com a vida divina, ela o torna capaz de sair de si mesmo e de amar a Deus e ao homem juntamente com a Natureza.


Texto de Damasceno Penna

Precisamos repensar algumas afirmações nossas.

Nele,
De quem o Evangelho fala.

Wagner

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Peregrino a Caminho


O Peregrino a Caminho





Inumeráveis são os caminhos da peregrinação na cristandade toda, e, além dos caminhos tradicionais, há os peregrinos que viajam sem rumo definido, seguindo a própria inspiração.


A vida de Jesus foi uma peregrinação. O Evangelho de Lucas a apresenta literalmente como peregrinação (Lc 9.51), os outros Evangelhos o mostram da mesma maneira sem expressá-lo explicitamente. Jesus anda de povoado em povoado, percorrendo a Galiléia e subindo para Jerusalém, onde termina a peregrinação. No seu povo, a peregrinação a Jerusalém era parte fundamental da religião. Jesus toma também o caminho de Jerusalém, ainda que com outro projeto.


O que há na peregrinação que inspira a esperança? Pela peregrinação faz-se à inversão do movimento religioso tradicional antigo. Passa-se do ter para o ser. Nas religiões antigas as pessoas acorrem à divindade para receber. Trabalha, ora e viaja para receber. A sua preocupação é ter mais e a busca de Deus tem também por objetivo o ter mais. Na peregrinação o viandante não percorre o caminho para receber. No final do trajeto não recebe nada, mas é uma pessoa diferente. Torna-se nova pessoa.


A caminhada faz com que se transforme. Caminhando, o peregrino aprende a aproveitar tudo sem se apegar a nada, torna-se livre, aberto ao mundo e aos outros, menos apegado a si mesmo e mais entregue aos outros. Ele se torna despreocupado e vai adquirindo a qualidade de que fala Jesus quando alude aos lírios do campo. Essa é uma imagem da esperança, que não tem por objeto receber e nem considera a vida eterna como um ter ou uma posse de bens exteriores a si mesmo.


Na vida eterna não ambiciona nada, a não ser a plenitude do ser humano _ “plenitude humana” simplesmente como ser. A cada dia o peregrino vai avançando e se torna mais humano, porque menos proprietário, mas afastado de toda propriedade. Por isso a bíblia condena o amor ao dinheiro. Ser cristão não combina com o ser proprietário.


Na peregrinação não há nenhuma aquisição de propriedade. Mas, a cada dia a pessoa se sente mais ela mesma, mais forte, mais atenta, mais receptiva. Torna-se mais capaz de olhar, observar, ouvir e escutar. No caminho há o encontro com muitas pessoas, e cada uma delas vai fazendo com que o peregrino se torne mais humano _ a abertura aos outros o torna mais humano.


Na sua andança Jesus não busca nem adquire nada, mas encontra outras pessoas, oferece o que pode dar, aceita olhar, ouvir, escutar os outros que o chamam. Cada dia ele se torna mais humano, menos proprietário e mais entregue aos que encontra no caminho. Olha para o mundo que descobre, ao contrário do proprietário que olha para a sua propriedade.


Qual é o objeto da esperança? Ser outro: ser mais amor, ser mais livre, puramente humano, sem qualificativos. Os seres humanos se definem pela origem, pela família, pelas posses, pelo poder, pelas capacidades.


O peregrino não busca isso _ quer simplesmente ser mais humano a cada dia que passa, amar mais, sem nada de propriedade. Chega ao ponto final da sua peregrinação. Não tem mais nada e não vai receber nada, perdeu até os últimos bens que podia ter. Ele atinge o máximo da liberdade e do amor na afirmação do caminho de salvação até a morte.


A última etapa da peregrinação é a morte vivida como abertura para plenitude. Muitos que falam sobre a doutrina da prosperidade, e muitos que com razão a condena, provavelmente não estão dispostos a viver o evangelho na plenitude do desapego. Todo discurso dessa gente é só fantasia colocada para encobrir o verdadeiro eu.


A Teologia da Mesa
Damasceno Penna

Pense nisso.
Wagner

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MONASTERIUM, MISERICORDIUM, BACANORIUM, GRAÇORIUM E IGREJORIUM...


MONASTERIUM, MISERICORDIUM, BACANORIUM,
GRAÇORIUM E IGREJORIUM...



Alguns monastérios da Idade Média tinham regras tão rigorosas, neuróticas e restritivas quanto a tudo, mas também em relação à comida e à bebida... — preocupados que eram com o pecado da gula..., que, segundo se cria, abriria espaço para a lascívia, e assim por diante... —, que, depois de um tempo, não suportaram sua própria pressão de culto às regras..., e, assim, criaram dentro do ambiente do Monastério, num recanto meio projetado para fora da arquitetura original do lugar, um apêndice ao qual se tinha acesso de dentro do próprio “prédio sagrado”, e que era chamado de MISERICORDIUM...

Ora, dentro do MISERICORDIUM era uma Zona Franca de tudo o que se relacionava a comida e bebida, de modo que os monges entravam no MISERICORDIUM magros e danados de apetite carnal amplificado pela proibição como adicional de desejo compulsivo... [Pobre MISERICORDIUM!...]... e de lá saiam gordos e bêbados...
O MISERICORDIUM era o mundo sob o manto da Graça, da Misericórdia...
Seria o lugar do descanso das regras... Seria um ambiente de refugio... Mas não era.
De Fato o MISERICORDIUM era o lugar dos EXCESSOS.

ENTRETANTO, na religião, ninguém chamaria o lugar pelo seu próprio nome, que deveria ser BACANORIUM e não MISERICORDIUM.
Aliás, na religião nada corresponde a nada...

Primeiro porque não deveria haver Monastérios, ou seja: prédios sagrados para gente sagrada... Nesse sentido, toda “igreja-prédio” é um Monastério..., e é vista e sentida do mesmo modo... É Sal dentro do Saleiro..., e não no chão da terra e do mundo.
Segundo porque não deveria haver regras depois que foi decretado que todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm, todas as coisas são lícitas, mas nem todas edificam... E isto com o chamado para que se viva buscando o que convém e edifica. E ponto.

Terceiro porque é obvio que excessos geram excessos opostos, sempre. Portanto, o impor de regras excessivamente restritivas é o mesmo que criar pecados e taras.
Quarto porque não se tem que criar nenhum MISERICORDIUM..., a fim de que se não viva em nenhum BACANORIUM... Sim, pois a misericórdia usada como desculpa para o excesso, sempre criará o BACANORIUM.

Veja o fenômeno em operação...
Ora, a fim de se fugir do “mundo” se cria o Monastério. No Monastério, a fim de se fugir do “pecado”, regras são geradas... Só que com as regras vêm as tentações... Então, a fim de que se não peque no LUGAR SANTO, no Monastério, na “igreja-prédio”[que é psicologicamente um lugar anti-mundo], cria-se o MISERICORDIUM, que é um mundo coberto pela Graça como Concessão ao mundo do qual no inicio se fugia..., sim..., mundo em razão do qual o Monastério fora criado, regras foram estabelecidas a fim de coibir as tentações da carne e do mundo...; e, como o mundo não se foi em razão do aumento das tentações para o nível da tara e da compulsão, a fim de que não se traga “o mundo” para o Lugar Santo, o Monastério, cria-se o que para eles era um BACANORIUM, só que ungido como MISERICORDIUM.

Assim surge o CRENTORIUM...
No fim o que tem importância é o prédio, é o Monastério, é a “igreja - edifício - consagrado”... E em segundo lugar vem o corpo de fiéis, que é o CRENTORIUM.
O que se crê quando assim se faz?...

Ora, a crença é que o mundo não mora perto do prédio de Deus... Que o mundo não é gente... Que o mundo não é o coração... Não! A crença é que o mundo é um lugar... Por isto é que se pode apelar para o BACANORIUM como MISERICORDIUM... Afinal, é um apêndice do Monastério, longe fisicamente do “mundo-geográfico”, e ungido com um nome da Graça: MISERICORDIUM...

Tem muita gente pensando que o “Caminho da Graça” é um MISERICORDIUM no anexo do Monastério, da “igreja-prédio” ou da “igreja-instituição”...
Ora, esses vêm..., entram...; alguns ficam...; outros se vão...; outros vão e vêm...; outros “elaboram” suas próprias idéias e criam suas próprias fantasias sobre tudo...; e, assim, vão às reuniões para se “purificarem” [Ó! Como são pagãos!...] e saem “purificados” do MISERICORDIUM direto para o BACANORIUM...

O pior é que fazem isto enquanto a firmam que estão LIVRES...
Livres de quê? — Indago.
De fato, espiritual e psicologicamente estão ainda no mesmo “Monastério”..., só que no anexo santificado para consumo mundano, o GRAÇORIUM...; ou, como no tempo antigo, no MISERICORDIUM...; ou, no dizer da verdade, no BACANORIUM.

Quando a mentalidade de “monastério” — que é a mentalidade da “igreja-prédio” ou da “igreja-instituição-representante-de-Deus-no-mundo”, que, ironicamente..., é também uma colônia de exilados do encontro humano..., e que dizem loucamente que são essenciais ao mundo e à vida da qual fogem... — é a mentalidade prevalente...; e ela pode se fazer presente mesmo quando a pessoa pensa que já está no anexo, no MISERICORDIUM..., então a Graça vira GRAÇORIUM...
Sim, tanto quanto o Monastério era um mundo de Luxo Alienado..., do mesmo modo o MISERICORDIUM nada mais era do que um grande BACANORIUM.

Quem lê o meu site e já leu o meu livro Sem Barganhas com Deus..., esse entendeu de modo simples e claro tudo o que eu disse... Mas quem não leu o livro e não lê o site... esse apenas pensará que entendeu... Embora, de fato, terá até algumas pistas...
Tome as providencias que achar necessárias...
Afinal, Deus como que nos diz...:
MISERICÓRDIA QUERO!... NÃO BACANORIUM!...



Nele, que nunca chamou mundo ao chão do planeta, mas apenas à produção do coração humano contra a vida e contra o amor,
Caio Fabio


Muuuuito Bom
Wagner

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pós-modernidade



Pós-modernidade


Hoje em dia as sociedades são cada vez mais marcadas por um tipo de sistema socioeconômico denominado pós-moderno, pós-industrial e neoliberal que tem como característica básica à exigência de eficiência máxima. O homem deve ser eficiente. Seu trabalho é dirigido e qualificado conforme os parâmetros da “qualidade total”. Essa exigência se impõe sobre todos os outros valores. Os valores morais e espirituais só são considerados quando contribuem para aumentar a produtividade do indivíduo.

O lazer não é mais voltado para o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo, mas para recuperar as forças desgastadas. Um sistema sutil de controle e mecanismos de ameaça envolve a pessoa no trabalho, de modo que o controle, o autocontrole e a autoavaliação sejam à base da conduta pessoal, fazendo crescer a concorrência entre os colegas. Denúncias e inveja substituem o coleguismo e a solidariedade. E todo esse processo é mascarado pela falsa solicitude.

Todos estão sempre sorridentes e dizendo que precisam ajudar um ao outro, para que, juntos, façam crescer o lucro da empresa. Aparentemente, todos compreendem, e sorriem, e mentem um ao outro, mas, no fundo, detestam um sistema que obriga a todos serem hipócritas, pois quem não responde às exigências da empresa acaba sofrendo sanções, que vão de “uma conversa” com o chefe à perda do emprego. E todos temem perder o emprego, o que, entre outras coisas, significa não poder participar do consumo. Participar do consumo, por sua vez, é o grande lema e o grande objetivo para o qual todos foram educados. Além disso, há os compromissos financeiros: alimentação, compras a prazo e tantas outras despesas.

O círculo se fecha. A participação no sistema torna-se uma necessidade, porque o mesmo sistema criou, antes, as obrigações financeiras e de consumo que só podem ser cumpridas se a pessoa participa do sistema. E, em geral, antes mesmos de a pessoa terminar de pagar uma dívida, a propaganda já lhe sugeriu novas necessidades. Para poder satisfazê-las, a pessoa assume novos compromissos financeiros e assim se mantém eternamente acorrentada às necessidades de consumo. Sem saída, o indivíduo torna-se escravo de um sistema cujo único interesse é o aumento do seu próprio lucro.

Não há tempo para o desenvolvimento pessoal. Não há espaço para emoções, nem para a arte, a literatura, a música. Não há tempo nem espaço para as reflexões de cunho: ético, moral, religioso. O homem fica reduzido à sua força de trabalho e, dessa maneira, torna-se emocionalmente mutilado. Mas disso o sistema não se ocupa, nem se interessa, pois isso não serve para aumentar a eficiência da força de trabalho.

É este o mundo no qual vive grande parte de nossa população que em sua grande maioria nem sequer se torna consciente dessa situação. Mas, mesmo inconscientes, sentem um desconforto emocional crescente, o que faz aumentar a agressividade, o número de divórcios, enquanto os corações se tornam vazios e entram num abismo de perda de sentido como nunca antes observamos em nossas sociedades.

Os corações vazios buscam uma compensação. As emoções frustradas e reprimidas anseiam por um meio de se dar vazão. As mentes oprimidas por exigências racionais têm saudade de se sentir livres. Eis aí o estado de inconsciência a que se chega da grande massa de pessoas _ sejam da classe média, sejam da classe pobre. O problema, em níveis diferentes, permanece o mesmo. As pessoas sentem que foram fracionadas, diminuídas, estioladas. E buscam uma compensação, uma complementação. Tentam desesperadamente tornar-se inteiras, completas, desenvolvidas. “Você deve se desenvolver!” Estas palavras estão na ordem do dia, tocam os corações; por causa disso, as pessoas entram num caminho de busca de desenvolvimento da mente, de suas capacidades mediúnicas de vidas passadas, sem de fato, perceber o que está errado. Não percebem que, nesse caminho, ao invés de se desenvolver como personalidade inteira e global, fecham-se cada vez mais. Em vez de abrir os olhos e perceber as estruturas das quais fazem parte e perceber a si e aos outros, em vez de unir-se aos irmãos e irmãs numa experiência de solidariedade e fraternidade, elas se concentram cada vez mais no seu próprio eu, girando em torno de si, buscando respostas para os seus problemas em pressupostas vidas passadas, sem perceber que a verdadeira resposta está na sua vida atual e numa tomada de consciência sobre a necessidade de reformular o sistema social, para que ele se torne mais humano.

Mas a preocupação egocêntrica não deixa a pessoa perceber as suas reais necessidades e a realidade do mundo à sua volta. Assim, o velho sistema continua, as frustrações continuam, e no final, em vez de encontrar um caminho para o auto desenvolvimento, desestabilizam ainda mais sua personalidade já enfraquecida. Por causa disso, sentem uma necessidade ainda maior de se desenvolver. E, quanto mais entram no círculo vicioso, menos alcançam o resultado desejado.

Pare e pense
Teologia da Mesa
Damasceno Penna

sábado, 16 de janeiro de 2010

Jesus Pregou o Reino e Em Seu Lugar Veio a Igreja Instituida


Jesus Pregou o Reino e em Seu Lugar Veio a Igreja Instituída


Esta é a espiritualidade de Jesus, base sobre a qual se constituiu o edifício histórico do cristianismo. Em primeiro lugar fez-se uma tradução da experiência de Jesus e ela foi consignada nos quatro evangelhos. Em seguida criaram-se comunidades que tornaram Jesus como referência de vida e de sentido. Nasceram as igrejas. Junto com elas surgiram os primeiros hinos de celebração, ritos sacramentais, credos doutrinários e códigos de conduta ética e moral. Lentamente se constituiu o cristianismo como corpo histórico.

Mas atentemos bem. Jesus não anunciou uma igreja. Ele anunciou o Reino de Deus e a transformação interior (conversão). Posteriormente, no seu lugar, surgia a igreja como comunidade dos fiéis que crêem em Jesus. Essa evolução é quase fatal e férrea. Mas ela é outra coisa. Não pode ser identificada com a experiência original de Jesus. Ela esta subjacente à igreja e às suas instituições, mas não se identifica com elas. Uma coisa é a fonte de água cristalina. Outra coisa é a sua canalização para o aproveitamento humano. O cano de água não é a água.

Infelizmente, muitas vezes os cristãos identificaram o Reino de Deus com a igreja. Essa identificação representa uma patologia e uma decadência. O meio se transforma em fim. A igreja, ao invés de se apresentar como o caminho de salvação, se apresenta erroneamente, como a própria salvação, como se a imagem do pão fosse o próprio pão. As autoridades eclesiásticas, ao invés de serem representantes de Deus e do povo religioso, ocupam o lugar de Deus pela reverência e obediência total que exigem. A igreja deve ser como a vela acesa. O que ilumina é a chama e não a vela. A vela é suporte para que a chama queime, irradiando luz e calor. A vela é a igreja, a chama é Jesus e sua experiência fundadora.

Mas o que conta fundamentalmente no cristianismo em suas múltiplas igrejas é a experiência singular de Jesus de Nazaré. Nós seremos herdeiros de Jesus não por habitarmos a instituição cristã e seguirmos seus preceitos. Seremos herdeiros se tentarmos continuamente refazer a experiência de Jesus, se entrarmos no movimento de Jesus, nos sentirmos filhos de Deus e, ao mesmo tempo, olharmos os outros também com filhos, tratando-os com respeito, como tem contempla, reverente, Deus nascendo dentro de cada um e fazendo de cada homem e mulher, seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs.

Se o cristianismo não é instrumento de transformação do nosso interior, se continua a ser religião de consolo e meio de salvação por medo da perdição ela se transmuta em ópio. Se permite que seus ritos e símbolos sejam usados e abusados no mercado religioso, especialmente pela grande mídia, para apenas suscitar comoção e não aquela transformação interior decorrente da experiência do Deus vivo e do engajamento pela justiça, pela paz e pela integridade do Criador, ela se transforma em puro fetiche. Podemos até, com a religião, pecar contra Deus e pela religião afogar a espiritualidade. Por isso é sábia a prescrição do decálogo ao coibir, no segundo mandamento, o uso do santo nome de Deus em vão. Talvez seja o mandamento contra a qual as religiões mais pecam e principalmente as igrejas mediáticas.

Banaliza-se o sagrado, como se Deus, Jesus e as Escrituras fossem uma moeda circulante para todas as finalidades. O nome de Deus passa a ser usado para os interesses dos homens, não para os interesses de Deus, em dissonância com a natureza do sagrado e do espiritual.



Pense muito nisso
Espiritualidade
Leonardo Boff

Wagner

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

É UM ABSURDO!!


Pastor Pat Robertsom


Líder Evangélico Americano culpa Haitianos e seu pacto com demônio por Terremoto

Peço desculpas antecipadas por comentar uma declaração tão inoportuna e estúpida, mas o site norteamericano The Huffington Post informa que o televangelista Pat Robertson disse hoje que o Haiti foi amaldiçoado por ter feito um pacto com o diabo para conseguir a independência da França. Robertson é o fundador da rede evangélica de TV CBN (Christian Broadcasting Network) e apresentador do programa Clube 700 nos EUA (que também tem sua versão brasileira exibida pela Rede Gospel e outras emissoras isoladas). Foi pré-candidato republicano à Presidência dos EUA em 1988. É tristemente famoso também por suas declarações polêmicas como a sugestão (em 2005) de que Hugo Chávez fosse assassinado e que o AVC (acidente vascular cerebral) do premiê israelense Ariel Sharon em 2006 foi um castigo de Deus. Curiosamente, também esteve envolvido numa controvérsia sobre corridas de cavalo em 2002.

Pois é este expoente do conservadorismo evangélico norte-americano que vem a público num momento trágico como este, quando os milhares de corpos empilhados nas ruas de Porto Príncipe sequer esfriaram, dizer uma asneira como essa. Revela, primeiro, não ter uma palavra de conforto apropriada para o momento, algo que se esperaria de alguém que se diz líder cristão. Segundo, prefere o discurso tosco ao invés de simplesmente agir. Se a idade não lhe permite mais viajar a uma zona de desastre natural, que pelo menos animasse seus seguidores a fazê-lo ou investisse seus recursos em ajuda humanitária. Terceiro, até onde sabemos, Deus não passou uma procuração para Pat Robertson falar (e julgar) em Seu santo nome. Quarto, Robertson revela um profundo desconhecimento histórico a respeito da independência do Haiti, iniciada logo após a Revolução Francesa (1789), quando um escravo negro, Toussaint L'Ouverture, liderou a maior revolução de escravos de que se tem notícia nas Américas, que foi brutalmente reprimida pelas tropas de Napoleão em 1802 (na sua declaração, Robertson chega a confundi-lo com Napoleão III, que governaria a França a partir de 1848). Tudo isto não evitou a independência que viria a ocorrer em 1804, mas que consumiria tanto a população como os recursos do país, colocando-o numa instabilidade política e econômica que dura até os dias atuais. Entretanto, a independência do Haiti é motivo de orgulho para os países da América Latina, por ter sido o primeiro país da região a ter se tornado independente (o 2º das Américas depois dos EUA), e ter imposto uma vergonhosa derrota às tropas de Napoleão antes dos ingleses em Waterloo. A seguir o raciocínio bizarro do tele pastor desinformado, teríamos que deduzir também que os ingleses fizeram algum tipo de pacto com o diabo para derrotar Napoleão.

Pelo jeito, a promiscuidade entre igreja, política e televisão, além de explosiva, provoca diarréia cerebral. O senhor Pat Robertson perdeu, portanto, uma excelente oportunidade de ficar calado. Para os que não crêem, entretanto, ele fala em nome dos evangélicos ao se apresentar como "pastor". Enquanto alguns tecem lindas palavras para tentar localizar - com GPS, mas em vão - o tal "centro da vontade de Deus", outros estão no epicentro da dor que clama por Ele. Não deixa de ser um melancólico contraponto a uma mulher - brasileira e católica - como Zilda Arns, que não estava longe nem se refugiou em discursos estúpidos e juízos irresponsáveis, mas estava lá em carne e osso para ajudar a minorar o sofrimento e a miséria do povo haitiano. Algumas mortes trágicas têm o condão de serem muito mais dignas e cristãs do que pretensas lideranças evangélicas, que parecem conhecer a Deus tanto quanto conhecem o Haiti.

Matéria em O Contorno da Sombra


Leiam o que o pastor Ciro Sanches Zibordi disse a respeito da tragédia no Haiti em sua postagem "Ano novo, vida realmente nova". Estou chocado com a visão de Deus deste homem.

Enquanto muita gente ainda se diverte com as tragédias ficcionais do filme 2012, começamos o ano com as reais e mortais avalanches em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, com inundações, em São Paulo e Rio Grande do Sul, e agora com esse terrível sismo no Haiti (na verdade, um grande terremoto seguido de inúmeros tremores, suficientes para matar e destruir o que restou).


Por que essa catástrofe tinha de ocorrer exatamente em uma região tão miserável?

Se levássemos em conta apenas a lei da sementeira e sega, considerando causa e efeito para tudo o que acontece, o Brasil já teria experimentado várias outras tragédias, e de enormes proporções. Tragédias acontecem aqui e ali, umas maiores, outras menores. Mas o que é certo mesmo é que Deus está julgando o mundo por causa do pecado, pois “do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça” (Rm 1.18). Por isso, são bem-aventurados os justos, os que temem ao Senhor (Sl 1).

Ciro Sanches Zibordi


É um absurdo!!

Meus pêsames a todos que gostam disso.


Wagner

"Quem dizes que eu sou?"



“Quem dizes que eu sou?”


Conta-se que Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo”. Ainda é possível usar essas mesmas palavras? Elas têm alguma flexibilidade? Alguma abertura a novos significados? Se estiverem presas ao seu passado teísta, em significados pelos quais têm sido tradicionalmente entendidas, então devemos descartá-las por sua insignificância.

Seria honesto arrancar essas palavras daquele passado e abri-las a novos significados? Acredito que sim. Palavras mudam. Percepções da realidade e até Deus, mudam. Explicações distorcem a verdade com o passar do tempo. Então a pergunta real a que devemos responder é: Conseguiremos capturar a essência desse Jesus em palavras que transcendem os modelos do passado, mas que ainda sejam capazes de afirmar – e de convidar meu mundo a afirmar – a experiência de Cristo? Ou seja, uma vez anulado o conceito do teísmo, esse Jesus ainda poderá constituir uma experiência de Deus para nós? Ainda poderá ser uma porta pela qual chegamos à expressão do sagrado? As respostas a essas perguntas determinarão com clareza se aquilo que buscamos é uma reforma autêntica do cristianismo ou se estamos iludidos e, a partir do temor reprimido, tentando esconder ou mascarar a morte do cristianismo.

Se o teimo não existe mais, poderá o nome de Jesus continuar soando doce aos ouvidos dos fiéis, levando nossos joelhos a se dobrarem em reverência?

Quando começamos a explorar a vida desse Jesus desvinculado da estrutura teísta do cristianismo passado, energizado e até encantado ao ver emergir uma visão inteiramente nova. O que vejo é um novo retrato de Jesus. Ele foi mais profunda e plenamente vivo que qualquer outra pessoa que conheci em minha vida, na história ou na literatura. Vejo-o apontando para algo que ele denomina “Reino” de Deus, onde novas possibilidades exigem nossa consideração. Vejo-o retratado como aquele que constantemente demonstrava as barreiras que separa as pessoas uma das outras. Vejo-o convidando seus seguidores a juntar-se a ele para caminharem sem temor para além daqueles limites de segurança que sempre proíbem, bloqueiam ou negam o nosso acesso a uma humanidade mais profunda. Talvez, sobretudo, ele seja para mim um eliminador de fronteiras, que me permite visualizar a possibilidade de minha própria humanidade atravessar minhas barreiras humanas para alcançar a divindade que sua vida revela, que de fato nós, cristãos, dizemos que ele possui.

Vejo Jesus como aquele que chama a todos que o cercam para caminhar para além de seus temores tribais. No tempo de Jesus, o povo judeu organizava avida para ter o mínimo de contato social possível com os gentios. A barreira era enorme. Os judeus julgavam-se separados dos gentios pela circuncisão, ordenada pela Torá, e pelo regime da alimentação. Seu status “separado” era assumido por ordem de Deus. Entretanto, Jesus é retratado como uma pessoa que convidava outros a deixarem de lado seus medos tribais e xenófobos e darem um passo além dessa fronteira. Parece lhes dizer que uma nova humanidade habita do outro lado desses temores.

Não é de admirar que Jesus tenha provocado a hostilidade que o levou à morte, já que deixou claro que não permitiria concessões a essa visão.

Fronteiras tribais são poderosas divisoras da vida humana. Elas dão origem aos mais desumanos comportamentos da humanidade. Entretanto, no retrato bíblico de Jesus, o vemos relativizando essas linhas divisórias e convidando as pessoas a entrar na experiência da humanidade não tribal. Creio que esse é um passo importante para transpormos nosso sistema de segurança evolucionário, refletindo um chamado para que nos tornemos algo que nós, seres humanos, jamais fomos. É um convite para entrarmos na nova existência sobre a qual Tillich escreve – Uma humanidade sem barreiras, uma humanidade sem reivindicações defensivas por causa de temores tribais, uma humanidade transformada, tão plena e tão livre que a presença de Deus se torna perceptível dentro dela.

A Bíblia também retrata Jesus como aquele que vai além das barreiras do preconceito humano.
O preconceito amarra a vida humana de tal forma que diminui nossa própria humanidade. Quanto mais preconceitos temos, menos humanos somos. Portanto, o preconceito é uma técnica da sobrevivência exigida pelo egocentrismo de nossa reação à incerteza da auto- consciência. Mas Jesus é mostrado nos Evangelhos com alguém que relativizava essa habitual paixão negativa.

Jesus entendia, como todos nós mais cedo ou mais tarde entenderemos, que Deus não pode ser confinado nos limites de nossos sistemas religiosos. Quando reivindicamos a verdade máxima para nossa versão de Deus, nossa revelação, nossa igreja, nossa fonte de autoridade, ou mesmo nossos líderes eclesiásticos, estamos de fato construindo outro muro de proteção em volta de nossa insegurança.

Pare e reflita
Um Novo Cristianismo Para um Novo Mundo
John Shelby Spong

sábado, 9 de janeiro de 2010

MITO


Mito

Mito costuma ser associado com falsidade, mentira, como se a única narração veraz fosse a história, e para muitos como se a única verdade fosse a demonstrável (científica). Esse juízo obedece a idéia que não corresponde à dignidade de Deus e da Bíblia outro tipo de narração que não seja a história.


O fato, no entanto, é que o mito busca expressar uma verdade. É uma maneira de dar expressão compreensível a uma realidade não sensível. Sua verdade é do tipo da poesia, que não é o mesmo tipo de um relato histórico – poesia não representa história, no entanto, tem “sua verdade”, e uma verdade freqüentemente mais profunda do que a de um relato histórico.

O narrador/escuta não tomaria o relato mítico com a mesma certeza histórica com que tomaria o relato da conquista de Judá por Nabucodonozor. Não é propósito do mito comunicar memória histórica de acontecimentos realmente ocorrido, embora o narrador/escuta pudesse pensar que alguns desses supostos eventos se deram sim (quão difícil é saber o que os outros pensavam, e mais ainda antigamente!).

O símbolo e o real estão, ambos, presentes na mente daquele que apela para o mito para expressar o que crê (pensamentos na religiosidade popular), e para ele são verdade. O mito e a linguagem mítica são empregados para explicar realidades transcendentes e as interrogações profundas do homem, que para ele são reais, ou crê convictamente nelas. São as realidades religiosas e existenciais.

Os sentidos não captam todas as realidades, e certamente não as do “além”, mas, para falar delas, é necessário empregar uma linguagem humana, compreensível e comunicável. São as perguntas a respeito da origem e do destino do homem e as perguntas a respeito de toda a esfera divina. O mito é a maneira pictórica de falar dessas realidades que podem ser experiências espirituais, intuições ou convicções.

Os escritos da Bíblia não recorreram a uma linguagem filosófica para falar dessas realidades, mas à linguagem mítica, figurada, de imagens tomadas do mundo de suas experiências sensíveis (ver, ouvir, falar, agir). Resumindo: o modo de falar por meio de imagens tomadas de nosso mundo sensível denomina-se mítico, quando se refere a uma realidade transcendente.

O relato do rapto de Elias ao céu (2Rs 2) é mítico (ele não é um mito como tal, pois Elias foi real) como o é aquele das tentações e Jesus com seus intercâmbios com o diabo. Mas, mediante esse modo de falar, cada um desses relatos expressava uma verdade: Elias não morreu, vive com Deus (como se dirá da ascensão de Jesus em Lc e Atos); Jesus não cedeu às tentações que o mundo oferece, mas submeteu-se durante sua vida à vontade de Deus. Fala-se, então, do mundo transempírico e não objetivo.

Fala-se de Deus como juiz, pai, rei, (que são metáforas), como alguém que fala, age, se encoleriza, como se fosse um humano, embora Deus não seja humano.


A Bíblia sem Mitos
Eduardo Arens
Editora Paulus

É só reconhecer para poder interpretar. O literalismo é um erro grosseiro e infantil.
wagner

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Livro que Paulo Jamais Leria 2


Livro que Paulo Jamais leria 2





Estou dando uma lida no livrro O Evangelho que Paulo Jamais Pregaria, e confesso que é difícil. Alguns blogueiros já até me aconselharam a não perder tempo com coisa ruim.

Para quem sabe ler um pingo é letra. Ele deve ter um bom revisor, agora de teologia ele não entende nada.

Falando do livro, porque os outros livros já falam por si mesmo.

Ele sabe colocar vírgulas mas não conhece o grego, cometendo um erro grave exatamente por causa de uma vírgula (risos).

Ele não sabe que apesar de estar em nossas traduções o artigo não consta no original. Sabendo que o artigo em algumas ocasiões está subtendido, e isso era muito comum que acontecesse.

Que ficção horrível e fundamentalista essa que está nas primeiras 21 páginas do livro.

Ele fala de impirismo e diz que a filosofia e a própria teologia não são superiores à revelação divina! (essa parte está com o portugues correto) Copiei do livro dele. (risos)

Impirismo não valorisa a experiência? Ele ainda usa o Versículo: O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus ... (copiei do livro) está certo também (Risos)

A igreja dos Santos Fariseus (igreja está com letra minúscula mas não é erro não, foi proposital) (risos)

Ele escreveu na página 28 do seu livro o seguinte: "Ninguém tem autorização para, com base em suas experiências omitir ou acrescentar algo às Escrituras". Entre as referências que ele usa é apocalipse 22.18,19.

Vamos ver o que diz o texto: Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhe fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia... (As vírgulas devem estar colocadas corretamente) copiei da Bíblia. (Risos)

A Bíblia não era um livro fechado, e o livro do apocalipse era um livro escrito independente como todos os outros. O texto escrito no seu livro é interpretado como se fosse uma referência a Bíblia inteira.

Mais um erro de interpretação.

No livro, ele interpreta Gálatas 1.8 como sendo uma possibilidade real de acontecer. ( o diabo pregar um outro evangelho)

O texto só está falando do cuidado que a igreja deveria ter com os falsos pregadores. Só isso pastor!

Ele não entende mesmo de Bíblia

Ele agora chegou na igreja dele.

Ele deve estar no limbo

A tortura mental continua ( para ler isso)

Obs. Queria saber se o português está muito ruim (risos)

Wagner


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

LIVRO QUE PAULO JAMAIS LERIA




Comprei um livro com o título: Evangelho que Paulo Jamais Pregaria. CPAD




Bem, estou lendo e estou descobrindo uma coisa: Que Paulo quando faz uma visita a algumas igrejas, e ele descobriu que as pessoas diziam que todos os caminhos levam a Deus.

Meu Deus que descoberta importante!

Ele se refere a Efésios para fundamentar o seu pensamento para dizer que: a unidade deve ser em torno da Palavra de Deus. Ô que maravilha! Só que provavelmente interpretada por Ciro Sanches Zibordi.

Depois Paulo foi para outra igreja, só que ele Ciro, não fala da sua denominação que sempre promoveram gritinhos, a pregação na maioria das Assembléias de Deus passou a ser desprezada (sem generalizar), danças no “espírito”, nas vigílias da Assembléia acontece tudo isso e muito mais e ele sabe disso, nunca em igreja nenhuma se manipulou tanto os “dons espirituais" e sem controle das visagens que tem destruído muitas vidas.

Ele identifica esses movimentos com o mundo. Vejam só. Mundo para ele é isso.

Depois Paulo foi à outra igreja que ele denomina "TUDO POR DINHEIRO" Que bonitinho até parece que é só eles, ninguém mais gosta. Será que ele também não?

Depois ele interpreta que o espinho na carne de Paulo não é o olho.

Vou mostrar para ele um princípio da exegese que diz: Se sobre um assunto qualquer tiver mais referências, a primeira opção deve ser essa, mesmo que o assunto não seja esgotado.


1 - Paulo ficou cego, e depois (não ficou totalmente curado) por quê?
2 - Ele nunca estava sozinho
3 - Apesar de muita cultura, não escreveu nenhuma das suas cartas (sempre escreveram para Ele)
4 - A única que ele escreveu de próprio punho ele diz: Vos escrevi com letras grandes, que é sintoma de problema de vista. (GÁLATAS)
5 - Em Gálatas 4.15 ele diz: "Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os olhos, e mos daríeis".


Só falei isso para mostrar que de exegese ele entende pouco, porque ninguém pode afirmar que não é isso diante de tantas evidências.

Sabe o que estou achando?

Eu acho que Paulo não leria o livro (Evangelho que Paulo Jamais Pregaria).

Vou continuar lendo, pois acho que vou encontrar muitas "pérolas".

Um abraço
Wagner


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Encontro de Blogueiros "Apologéticos"



Encontro de Blogueiros “Apologéticos”




Esse encontro não é nada mais e nada menos do que uma tentativa de auto-promoção e busca de recursos.

Se você pesquisar sobre esses blogueiros que se consideram “apologetas”, na sua grande maioria nem conhecem a Bíblia.


Como alguém pode defender alguma coisa que não conhece?

Metem o pau em pessoas sem conhecer os fatos, e sem isenção teológica para fazer qualquer juízo de valor, julgam as pessoas segundo suas consciências adoecidas e não segundo a Palavra porque a maioria deles não a conhece.

Na sua grande maioria e com raríssimas exceções são fundamentalistas, sem conhecimento bíblico, não são movidos por motivações corretas e em muitas ocasiões o espírito é o mesmo condenado por eles.

Estou denunciando porque conheço alguns deles pessoalmente, e posso afirmar que o espírito é outro e não do Evangelho.

Não fazem parte da reflexão teológica e como tal não podemos continuar sendo enganados e sendo levados pela auto-promoção de quem quer que seja.


Encontro de Blogueiros “apologéticos” Fuja enquanto é tempo.

Nesse encontro, nada será acrescentado, conhecido, novo ou interessante, tendo no máximo debates já ultrapassados como discussões já irrelevantes como: Teologia da prosperidade, e falarão sobre segmentos que eles tratam como expressivos. Igrejinhas pequenas e muitas vezes de pessoas indoutas, movimentos de música e na sua grande maioria, falam com perversidade de pessoas e que inclusive colocam em seus blogs, como se fosse algo que deveríamos perder o nosso precioso tempo com essa gente.

Eles são os defensores do evangelho! Só rindo.

Até Jesus falou: Quem não é contra nós é por nós (Mc 9.40).

Se você notar a maioria dos palestrantes pertence a uma só denominação, sendo todos ortodoxos, fundamentalistas, e alguns sem formação teológica adequada e tem gente que nem mistério e nem formação teológica.



Atenção!
É só promoção e na essência é só isso! Não se deixe enganar
!


E estou assinando para não acharem que tenho medo
Wagner

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Palavra de Grande Inquisidor...




Palavra de Grande Inquisidor...


De tudo que Dostoiéviski escreveu em Os irmãos Karamazov, o que mais me impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas. Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome.
Não era necessário. De longe, o Grande Inquisidor o observava no meio da multidão e ordenou que ele fosse preso e levado à sua presença. Então, diante do prisioneiro silencioso, proferiu a sua acusação:

Não nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana de uma vez por todas mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: A liberdade.

Agiste, pois, como se não amasse os homens... Em vez de apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda eternidade.

O Grande Inquisidor estava certo. Ele conhecia o coração dos homens. Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo e se trancam em gaiolas.

Um bando de patos selvagens que voavam nas alturas. Lá em cima era o vento, o frio, os horizontes sem fim, as madrugadas e os poentes coloridos. Tudo tão bonito! Mas era uma beleza que doía. O cansaço do bater das asas, o não ter casa fixa, o estar sempre voando e as espingardas dos caçadores... Foi então que um dos patos selvagens, olhando lá das alturas para a terra aqui em baixo, viu um bando de patos domésticos. Eram muitos. Estavam tranquilamente deitados à sombra de uma árvore. Não precisavam voar. Não havia caçadores. Não precisavam buscar o que comer: o seu dono lhes dava milho diariamente. E o pato selvagem invejou os patos domésticos e resolveu juntar-se a eles. Disse adeus aos seus companheiros, baixou o vôo e passou a viver a vida mansa que pedira a Deus.
E assim viveu por muitos anos. Até que... Até que, um ano como os outros, chegou o tempo da migração dos patos. Eles passavam nas alturas, no fundo azul do céu, grasnado, um grupo após o outro. Aquelas visões dos patos em vôo, as memórias de alturas, aquelas grasnadas de outros tempos começaram a mexer com algum lugar esquecido dentro do pato domesticado, o lugar chamado saudade. Uma nostalgia pela vida selvagem, pelas belezas que só se vêem nas alturas, pelo fascínio do perigo... Até que não foi mais possível agüentar a saudade. Resolveu voltar a ser o pato selvagem que fora. Abril as asas, bateu-as para voar, como outrora... mas não voou. Caiu. Esborrachou-se no chão. Estava gordo demais. E assim passou o resto da vida: em segurança, protegido pelas cercas, e triste por não poder voar.
Somos assim. Sonhamos o vôo, mas tememos as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas e isto que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas das gaiolas estivessem abertas. A verdade é o oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas ao vôo. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam.

Deus dá a nostalgia pelo vôo.

As religiões constroem gaiolas.

As religiões são instituições que pretendem haver colocado numa gaiola o Pássaro Encantado. E não percebem que o pássaro que tem presos nas suas gaiolas de palavras é um pássaro empalhado.
É por isso que, no Antigo Testamento, era proibido falar o nome de Deus. Hoje, ao contrário, os religiosos não só falam o nome sagrado como também escrevem tratados de anatomia e fisiologia divinas. E proclamam que o pássaro só pode ser encontrado dentro de suas gaiolas. Religiões: uma enorme feira onde se vendem pássaros engaiolados de todos os tipos.
Os hereges que as religiões queimam e matam não são assassinos, terroristas, ladrões, adúlteros, pedófilos, corruptos. Esses são pecados suaves, que podem ser curados pelo perdão e pelos sacramentos. Os hereges, ao contrário, são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas, para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor.


O infinito na Palma da Sua Mão
Rubem Alves



Depois de ter lido isso, Nunca mais serei engaiolado.
Sem medo da liberdade.
Wagner

Homem Coxo e Mente Coxa


Reflexão


Por que será que um homem coxo não nos incomoda da mesma forma que uma mente coxa? Não é devido ao fato que um homem coxo reconhecer que estamos andando de forma ereta, enquanto uma mente coxa compreende que todos nós coxeamos ao andar? Não fosse por esta distorção nos compadeceríamos dele ao invés de ter raiva.
Epíteto consegue ir muito mais além quando indaga: Por que não sentimos raiva se alguém nos diz que estamos com dor de cabeça, mas ficamos enfurecidos se alguém afirma que estamos raciocinando de maneira tola e ilógica?
Porque podemos ter a absoluta certeza de que não estamos com dor de cabeça e que não somos mancos, mas não podemos ter a mesma certeza de que estamos fazendo a escolha certa ou expressando um argumento correto. Uma vez que nossa certeza repousa apenas no que os olhos vêem, quando alguém vê algo diferente do que vemos, sentimo-nos surpresos e desconfortáveis. Isso é reforçado quando mil outras pessoas ridicularizam nossa decisão, pois somos inclinados a preferir nossa própria visão em detrimento da visão dos outros e isso é uma coisa tanto ousada quanto difícil de se fazer. No entanto, no caso do homem manco, nossos sentidos não geram tal contradição.

Pare e pense

ESCATOLOGIA


ESCATOLOGIA
Em prosa e verso

Depois dos últimos sinais, fiquei com a impressão de que minha maior ignorância, a mais grave distração, meu esquecimento mais freqüente é de mim.

Ignoro-me, esqueço-me e sigo em frente desprezando quanto custo. Quanto sou o que acabei me tornando. Minha dispersão é o coeficiente de quanto custa ser assim.

Sou perspicaz em descrever as pessoas a minha volta. Qualquer movimento alheio faz soar meus juízos e afetações. O que todos dizem ou ouvem de mim imprime uma memória quase infalível. Mas me dei conta de que tudo o que sei sobre mim sei de longe. Sei acanhado.

Os sinais que recebi poderiam ser mais discretos, mas sutileza apenas convence a face ignorante de minha dor. São ruidosos. Expuseram-me. Estamparam minha impotência. Sinais escatológicos devem ser indiscretos.

Dão-me bom dia as lágrimas. Um choro engasgado de tão profundo e distante. De lá de onde um dia espero ser resgatado.

Choro sem decisão, aos poucos. Espero pelas dez, ou onze. Sempre passa, silencia e me adia. Minha angústia disfarçada pelos cantos é ávida devoradora das minhas manhãs.

Quando, enfim, a mínima tarefa reinicia, reencena, reticências.

Em um dia desses, sem mais sinais, tão temida, a epifania de mim.


Elienai Cabral Junior