quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ovelhas e Pastores

“Pastoreai o Rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.” Na Primeira Carta de S. Pedro 5:2-3

Um depoimento e um conselho.

Há uma coisa que deveria ser pejorativamente chamada de "espírito de pastor", e essa tal coisa é uma casta existencial difícil de deixar a gente.

O fato é que há muita gente "possessa desse espírito", o qual tira da pessoa a possibilidade de ser ela mesma, fazendo dela um clone psicológico de um modo de sentir completamente artificial, e sem espontaneidade humana com os outros e com a própria pessoa.

Eu só tinha 18 anos e meio, e era apenas um menino amante de Jesus. Pregava em toda parte. Não queria ser pastor e nem ordenado. Desejava apenas pregar, e pregava. Aos 21 anos, me ordenaram, mesmo sem que eu tenha aceitado as imposições da denominação para ordenar ministros.

Então, logo começaram a me chamar de "Reverendo". Aquele garoto livre, agora, de súbito, da noite para o dia, era o "Reverendo Caio". Aí o tratamento passa a mudar: O melhor lugar na casa, na mesa, na sala, no salão, no aniversário, no funeral, nas festas de casamento, nas bodas, etc. As pessoas começam a ver o "sacerdote", o homem diferente dos homens, o santo, o ungido do Senhor, o anjo da igreja...; e também se percebe que as pessoas mudam com você; mas raramente se percebe que depois de um tempo, muito suave e lentamente, você também aceita a mudança que fizeram acerca de você. Ora, é aí que nasce o "espírito de pastor"!

Então, começa a transformação do ser humano numa figura totêmica, um totem erguido para a manutenção de tudo: Ele é santo pelos outros; é puro pelos demais; é quem não se diverte pelos que se divertem; é quem não fica doente para poder curar; é quem "estuda Deus" e "entende de Deus", a fim de poder explicar; e é quem é exemplo para se fazer clones comunitários. Se ele não casa os que se casam, eles se ressentem e magoam. Se ele está viajando quando alguém morre, ele abandonou o moribundo. Se ele está de férias, a igreja pode esvaziar. Ou seja: sem ele, nada do que foi feito de fez ou se faz! Vivendo sob tais responsabilidades e honras, o indivíduo vai virando pajé e não sente. Ou, em muitas ocasiões, passa a gostar mesmo de ser essa figura totemizada para a "igreja".

Ora, é nesta necessidade que o povo tem de ter "sacerdotes" e "figuras cultuadas", que tanto os bem intencionados se corrompem entregando-se ao "espírito de pastor"; como também os lobos se aproveitam e tiram as carnes do rebanho.

De fato, os ministérios pastoral, episcopal, apostólico ou de qualquer outra natureza já carregam em si próprios o germe do poder desse imantamento espiritual. As pessoas olham para qualquer desses "seres" — "ungidos" formalmente para tais posições —, como "ungidos do Senhor"; aqueles contra os quais não se pode ter uma opinião, pois, em assim sendo, Deus mesmo punirá os "rebeldes", ou "hereges", ou "desviados". Imagine quanto poder isto significa! Ali está um homem que é visto como "o homem de Deus" no meio dos demais homens "normais", e, de tal projeção, pode nascer apenas o "pastor clerical", como também pode vingar qualquer maluquice!

Eu tenho por certo que todos os modos de clericalismo são malignos em relação à saúde do indivíduo que carrega o peso cultural dessa "posição".

E a comunidade também fica adoecida! Sim, porque enquanto ela vê o líder com tais olhos, ela não cresce; ao contrário, se infantiliza; e jamais aprende a andar com as próprias pernas.

Ora, o verdadeiro pastor cuida, não domina; ajuda, não controla; alimenta, não explora; só se faz notado em caso absolutamente necessário; e deixa a porta aberta, de tal modo que todos entram e saem e acham pastagem.

A analogia do Bom Pastor em João 10, todavia, é perfeita no seu todo apenas em relação a Jesus, e a mais ninguém. Isto porque em relação a Jesus todos nós somos apenas ovelhas do rebanho.

Porém, em relação a nenhum "outro pastor", nós devemos ser "ovelhas do rebanho"; posto que ser ovelha de Jesus já nos põe na condição de só ouvir a voz de um homem se ela for de acordo com a Voz do Único Pastor; do contrário, a ordem de Jesus é para não "seguir a voz do estranho", pois somos o Rebanho de Deus.

Portanto, o verdadeiro pastor de homens é apenas mais um do rebanho único, sendo somente uma ovelha que já se deixou ensinar um pouco mais pela voz do Único Pastor. É na Sua fidelidade e reconhecimento à Voz do Pastor que ele se qualifica para ser pastor entre ovelhas, pois, conforme Pedro, ele se torna "modelo do rebanho".

Assim, é o caminho da ovelha seguindo o Pastor, o que a torna uma ovelha-pastor; visto que seu passo e obediência estabelecem referência para as demais.

O problema é que alguns "pastores" e clérigos pensam que são os "Jesuses" da comunidade; e, diferentemente de Jesus, transformam-se nos lobos que não amam as ovelhas, mas apenas os privilégios e poderes que delas "arrancam".

E como agravante, a "igreja", por ser pagã ainda em sua essência, precisa desses "pastores tiranos", pois, como associam a "figura clerical" ao "representante de Deus", sentem-se objeticamente mais seguras se têm um déspota dizendo o que fazer, o que não fazer, com quem casar ou não, e quem é quem.

"Não é assim entre vós!"— disse Jesus!

Foi por esta razão que Jesus tirou as roupas de cima e se cingiu de uma toalha e passou a lavar os pés dos discípulos. Sim, porque liderar é, sobretudo, poder lavar pés e servir em nudez.

Na realidade, além de tudo o que o gesto de Jesus ensina, nele também vemos o modelo existencial do significado da liderança: O líder serve em revelação de sua humanidade. E os liderados são servidos aceitando a humanidade de quem lidera servindo de modo humano. E Jesus disse a Pedro que ou seria assim, ou Pedro não teria parte com Ele!

Somente quando os líderes tiverem a coragem de fazer como Paulo e Barnabé, que rasgaram as roupas e expuseram sua nudez quando foram chamados de "deuses", é que aqueles que crerem no que as lideranças disserem, não ficarão ainda mais adoecidos de idolatria.

Hoje se dá o contrário da experiência dos apóstolos: a maioria dos líderes faz todo o possível para passar por deuses; e, o povo, vai se ameninando na fé, apenas trocando de "pai-de-santo", ou de pajé ou de sacerdote; porém existindo sob a escravidão da espiritualidade da idolatria; adorando e servindo a criatura, mesmo que se vistam de pastores, bispos ou apóstolos.

No Caminho nós temos buscado diante de Deus e conforme o Evangelho, quebrar todos esses paradigmas totêmicos. Sugiro que todos, em todo lugar, e com todo bom coração, assim o façam também, em nome de Jesus, o Bom Pastor!



Nele, Que é o Caminho, a Verdade e a Vida, e em Quem "Caminho" é apenas um nome da jornada de fé.

Caio Fabio

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Riqueza dos Sacerdotes




A riqueza fabulosa do tesouro do Templo tem uma explicação um tanto irônica. A Bíblia exige que o dízimo, isto é, dez por cento de toda produção anual da terra de Israel, seja dado à tribo sacerdotal dos levitas (Num 18.21), porque só eles entre as Doze Tribos não receberam nenhuma terra, uma vez que seus deveres no templo impediam que trabalhassem na lavoura.

No tempo de Jesus, no século primeiro, na interpretação da aristocracia sacerdotal e seus auxiliares, os escribas – funcionários que eram treinados para ler e escrever -, a passagem bíblica significava que a classe sacerdotal podia possuir terras desde que eles próprios não as cultivassem. Assim, a idéia bíblica foi invertida por completo: enquanto em épocas anteriores a tribo sacerdotal (os Levitas) não tinha posses e precisavam ser sustentados pelas oferendas voluntárias do resto da nação, agora uma aristocracia sacerdotal fabulosamente rica adquiria mais riquezas ainda pela imposição do dízimo e de outros “tributos religiosos” à maioria empobrecida dos fiéis.

Os sacerdotes e seus escribas declaravam que a Bíblia exigia um dízimo de todas as mercadorias para a manutenção dos sacerdotes e que Deus exigia um “imposto individual”, meio siclo a ser doado anualmente para os sacrifícios cotidianos necessários para manter o Templo puro. Essa última quantia era o equivalente a remuneração de dois dias e um diarista com um bom emprego.

Também decretaram que todo ano as famílias deveriam gastar outra décima parte da renda anual em peregrinações a Jerusalém para as festas importantes da Páscoa, de Pentecostes e das Tendas. Finalmente, um terceiro dízimo da renda da pessoa devia ser entregue ao Templo a cada três anos, para os pobres. Havia também diversos sacrifícios exigidos de todo Judeu. Tantos sacrifícios eram realizados no altar principal do Templo de Jerusalém, que ele estava continuamente em uso, com dezenas e mesmo centenas de milhares animais sacrificados todo ano.

A aristocracia sacerdotal transformou as regras para o sacrifício a Deus na Bíblia em um sistema sofisticado de tributo necessário a Deus e de purificação por toda e qualquer infração a Lei. Eram consideradas necessárias para a reintegração do povo Judeu depois do exílio como os únicos escolhidos de Deus. O sacrifício queimado cotidiano (holocausto) de um cordeiro ao amanhecer e outro ao anoitecer era entendido como expressão de que só Deus era fonte de todos os bens necessários para a vida. Sacrifícios de pureza eram entendidos como uma espécie de purificação do próprio Templo.

Eram considerados como oferendas para reparar a profanação que se pensava acontecer quando pecados individuais insultavam Deus. Os chamados sacrifícios de paz eram feitos para solenizar um juramento, e os sacrifícios de louvor eram feitos para celebrar as bênçãos divinas do passado e reafirmar a vocação e Israel como povo escolhido de Deus.

Embora esses dois últimos sacrifícios fossem consumados pelos fiéis que os ofereciam, somente os sacerdotes podiam comer a carne dos sacrifícios de reparação. Na verdade, os sacerdotes comiam tanta carne que o Talmude judaico diz que eles estavam sempre doentes devido ao excesso de comida. Embora as carcaças dos holocaustos fossem completamente consumidas pelo fogo, os sacerdotes recebiam os couros dos animais para seu uso.



Eles eram criativos para roubar dinheiro do povo. E você?
Os “sacerdotes” de hoje, são tão criativos quanto.

Religiões instituídas são todas iguais.
Não se deixe enganar.


Mensagem Urgente de Jesus Para Hoje
Elliott C. Maloney

Pense muito nisso!
Wagner

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A MORAL NÃO É A ÉTICA DOS EVANGELHOS




O Gênesis do ministério de Jesus é tomar as “talhas que os judeus usavam para as purificação” e enchê-las de vinho!


E mais: é inegável que Jesus estivesse também dizendo que Nele, Deus estava casando agora apenas com quem queria talhas religiosas com vinho novo, na pior das hipóteses; ; e, na melhor delas, o que se deveria fazer, era deixar de lado o vinho velho e seu odre roto e pingantemente misturado ao próprio vinho, pois, nesse estágio, já não se sabe mais o que é odre e nem tampouco o que é vinho! O que se deve fazer é começar outra vez à partir de conteineres que se deixem curtir no vinho novo, que de acordo com o apóstolo João, não é novo, mas aquele que desde o princípio tivemos!

Sim, para Ele, aquele odre-vinho-vinho-odre—o da religião das talhas de pedra usadas para as purificações—era já um vinagre, que servia apenas para ser bebido por aqueles que de tão acostumados que estão aos gostos ruins, já não sabem a diferença entre o gosto-gostoso e o gosto-viciado. É para o de-Lei-te de seus viciados consumidores que o vinho-odre-odre-vinho serve ainda como diversão, sendo que o juízo ao próximo é o espetáculo!

Os discípulos de Jesus, todavia, não devem perder tempo com essas questões, e, por isto, precisam partir resolutamente para buscar odres mais adequados à sempre auto-renovação desse Vinho Novo. Afinal, ninguém que tenha se viciado no vinagre dirá que o vinho novo é excelente.

Ora, a Teologia Moral de Causa e Efeito é a fabrica de Odres com Grife e também a marmorearia onde são esculpidas as talhas de pedra usadas para as purificações!

O problema é que em Jesus não dá para se fazer mais nenhum tipo de aproveitamento dessa Industria Religiosa e de suas Grifes e Selos Autorizadas. E a razão é simples: ela está para o Evangelho de Jesus assim como um perverso e desumano traficante de cocaína e heroína está para o bom samaritano—digo: mal comparando, e, apenas, no plano das relatividades humanas, pois, espiritualmente, o meu exemplo é muito menos grave que o contraste espiritual que tento expressar!

Dali, infelizmente, nada se aproveitava, pois eles pensavam que fora dali nada mais tinha valor.

A prova dessa impossibilidade de reutilização daquele sistema de pensamento e suas construções, alcança seu ápice quando Jesus diz que aquele Templo seria derrubado e que dele não ficaria pedra sobre pedra.

No entanto, para que não sejamos exaustivos demais na demonstração, quero apenas que você compare os valores anti-téticos dos ensinos de Jesus em relação aos da Teologia Moral de Causa e Efeito, vigentíssima em Seus dias, e, infelizmente, no nosso tempo também!

E para isto, não precisamos ir além do Sermão do Monte, ou do Abismo, como eu explico que ele pode se tornar em O Enigma da Graça!

A Teologia Moral de Causa e Efeito não pode praticar o sermão do monte porque ele inverte complemente os princípios de causalidades por ela ensinados. Jesus subverte radical e rupturalmente, de uma vez e para sempre, com essa lógica predatória.

Para Jesus os heróis da Graça eram os anti-heróis da religiosidade que o circundava e dos valores por ela ensinados.

Para a Teologia Moral de Causa e Efeito, TMCE— como daqui para frente chamaremos esse derivado natural da Teologia da Terra, filha religiosa do Sacrifício Competitivo de Caim —, o humilde de espírito era o lixo da espiritualidade; os que choravam eram vistos como culpados-infelizes; os mansos eram percebidos como desinteressados pelo zelo que disputava o espaço no chão da Terra; os que tem fome e sede de justiça eram interpretados como seres equivocados em suas ignorâncias radicais, pois, a única justiça que os mestres da TMCE conheciam era aquela que eles mesmos decidiam.

Já os misericordiosos eram os que tinham algo a esconder, daí se protegerem sendo bons com o próximo; os limpos de coração eram eles mesmos— os membros daquela confraria de amigos de Jó, é claro! afinal, não enxergavam seus próprios corações, pois só viam para fora de si mesmos, e, também, não esqueçamos: lavavam as mãos antes de comer!

Os pacificadores eram, em geral, considerados amigos de hereges; os perseguidos por causa da justiça, eram comum-mente aqueles acerca de quem eles patrocinavam o cartaz Wanted Dead or Alive! De preferência, bem dead !

E os injuriados e perseguidos figuravam, sobretudo, como foi no caso dos profetas, em sua lista de Most Wanted ! Esses, afinal, os Profetas, eram sempre a sua pior desGraça, eram os mais terríveis subversivos!

O seu “sal” não era para a Terra, era apenas uma produção egoísta e independente fadada a se petrificar em seus sa-Lei-ros inúteis. Afinal, não se viam no papel de dar gosto à vida, mas, ao contrário, o de roubar-lhe todo o sabor!

Luz do Mundo? Como? Eles não reconheciam nenhum outro mundo que não fosse o deles!

Quanto a Jesus ter vindo para cumprir a Lei, eles se perguntavam: Que Lei? Afinal, Jesus era o des-cumprimento de suas “Leis” a fim de poder ser o único cumpridor da Lei da Graça em nosso lugar, para, então, dizer: “Está Consumado”.

Até mesmo o des-cumprimento da Lei pelos homens—todo aquele que...—, Jesus trata com relatividade quanto a seus efeitos. Ensina-la erradamente, faz alguém ser pequeno; ensina-la corretamente e vive-la, torna alguém grande no reino dos céus. Assim Ele está dizendo que não se deveria jamais ensina-la de modo adaptado e nem tampouco cumpri-la de modo farisaico ou religioso, pois, para Ele, a justiça excede as exterioridades na direção de dentro, pois, nasce no coração.

O que segue é uma des-construção total de todas as “interpretações” da Lei, especialmente as explicitamente defendidas pelos discípulos da teologia dos amigos de Jó, os escribas e fariseus dos dias de Jesus e seus confrades em nossos dias!

“Não matarás”—era o que estava escrito. Homicídio, todavia, é algo que sempre começa, lentamente, nos ambientes de causa e efeito das normas adoecidas do coração, e tem uma progressão que vai da ira sem motivo às tentativas de des-construir o ser do próximo. Por isto, Ele ensina que todo homicida existencial precisar se livrar dos desejos de morte durante o caminho, do contrário, duas coisas lhe acontecerão: ele nunca mais terá nenhuma razão para falar com Deus ou tentar cultua-Lo e, também, esse homem se tornará vítima de seu próprio ódio e se alimentará de suas próprias carnes, por muito tempo—pelo menos enquanto o tempo for tempo!

O adultério, para Ele, acontecia na cama—ou em qualquer outro lugar—apenas depois de ter sido praticado muito tempo antes no coração.

Portanto, os maiores adúlteros podem nunca ter praticado um ato sequer de adultério. É quando o fazer é um detalhe se comparado ao permanente estado de ser dos que nunca cometeram historicamente o delito, mas que vivem em permanente estado de imersão interior nos abismos e dinâmicas permanentes do adultério fantasioso.

O interessante é que entre o tema do Adultério e o do Divórcio, Jesus introduz a questão das perdas circunstanciais ou até mesmo de natureza disciplinar-existencial, que eram nada se comparadas aos ganhos que certos “cortes e amputações” produzem para o bem do ser.

E Sua preocupação maior quando fala do divórcio, não é com o divórcio-em-si, mas com suas vítimas. Naquele caso, era sempre a mulher.

E por quê? Porque naqueles dias ela era o objeto descartável em questão, fruto da dureza de coração de todos nós e todas as sociedades. Ele trabalha contra expor alguém a tornar-se “algo” apenas porque “sem motivo” sua pessoa foi descartada. A denuncia, portanto, recai sobre aquele que “expõe” o outro a ser aquilo que este não deseja ser. E depois, o descartador, ainda faz pior: estigmatiza o “outro” pelo que ele mesmo decidiu: des-carta-lo! Assim, Jesus se insurge contra a estigmatização das desgraças causadas pela infelicidade humana. O que era uma total violação dos ensinos da TMCE!

Juramentos e promessas são por Ele totalmente rejeitados. Primeiro porque ninguém pode bancar nada em espaço ou dimensão alguma da vida.

Depois, porque a única dimensão que vale diante de Deus é a do Hoje.

Portanto, o que Ele espera é que as respostas do ser não sejam piedosas, necessariamente, mas, ao contrário, realidades verdadeiras, como “sim, significando sim” e “não, eqüivalendo a não”. Para Ele o “maligno” morava na fantasia que falsificava a realidade.

“Olho por olho, dente por dente”—era e ainda é a Lei áurea da TMCE.

Jesus, porém, a relativiza para sempre, mostrando sua des-construção como negação de seus princípios de causa e efeito. Afinal, o que Ele recomenda é o oposto daquilo quem em qualquer Moral social, é chamado de Direito. Ser Seu discípulo não implica em que se obedeça tais Leis de causa e efeito, podemos apanhar, ser obrigados, ser até mesmo altruisticamente abusados. Estamos livres para tal. Ou seja: Jesus recomenda que não obedeçamos as Leis de causa e efeito a fim de podermos ser Seus discípulos. E isto inclui os inimigos, que são os que mais poder tem de nos desviar do curso da Graça e nos fazer cair nas guerras patrocinadas pela TMCE. O que eles esperam é uma reação de causa e efeito. O que Jesus propõe é um efeito (misericórdia) sem causa equivalente!

E, assim, Jesus prossegue des-construindo a Teologia Moral de Causa e Efeito.

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto ao vosso Pai que está nos céus”.

Ora, esta declaração de Jesus nos des-monta de tudo o que a TMCE ensina como verdade, justiça e piedade.

“Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”—é o golpe de misericórdia que Ele dá na estrutura de pensamento desse engano humano.

E pior: as causas de vida e morte na Terra são aquelas cujos efeitos são invertidos nos céus. O dinheiro incluído no pacote das inversões de valores.

E avisa sobre a não causalidade entre o comportamento e a verdade do ser, pois, a “luz que há em ti”, segundo Ele, podem se tornar nossas trevas.

Então, Jesus dá um Xeque-mate! Tem-se que fazer uma opção sobre quem é o nosso Senhor. E, sendo Ele o Senhor, o que sobra é “aborrecer-se” e “desprezar” o antigo senhor, e que agora tem que ser coisa de nosso perdoado passado.

Quando Ele fala das ansiedades da vida e nos recomenda descansar na Graça Providencial de Deus, o que Ele também está fazendo é afirmar que as “Leis de causa e efeito” estão relativizados pela Graça da Providência.

O grito que se faz ouvir em objeção ao juízo contra o próximo, é curto e decisivo. Juízo tem, quem se enxerga. Juízo tem, quem não julga. E juízo tem, quem sabe que por melhor que se veja a si mesmo, jamais se verá completamente. Por isto, é melhor não julgar a alma do próximo nunca. E a razão é simples: as medidas de nosso próprio juízo estão estabelecidas pelos nossos próprios critérios no julgamento que exercemos contra o próximo!

E mais: Ele recomenda que não se use nunca as pérolas da verdade de nosso ser para alimentar quem só gosta de babugem e depois se volta contra nós. A percepção da verdade não a banaliza e nem se faz suicida por ela!

Ao recomendar a oração, Jesus estabelece a quebra dos princípios de causa e efeito. A oração é a devoção que em si quebra as Leis do carma. A oração anula a Teologia Moral de Causa e Efeito, pois, dela, até o pecador sai justificado.

Neste ponto Ele diz que a Lei e os Profetas não eram inimigos entre si. Ao contrário, os Profetas haviam sido os melhores interpretes da Lei. Ou seja: antes do Verbo haver se encarnado, foi nos Profetas que a Lei encontrou sua interpretação e seu melhor cumprimento existencial.

Jesus, porém, nos diz:

“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas”.

O “resumo” que Jesus faz de todo o seu ensino é horroroso para o coração honesto. Primeiro, porque ninguém, de fato, indo dos abismos da alma à prática cotidiana, consegue encarnar o tempo todo essa verdade.

Ao contrário: nós vivemos a maior parte do tempo de modo oposto, pois, uma das coisas que a Queda gerou em nós foi um terrível poder de auto-engano e auto-anestesiamento.

A segunda razão pela qual o “resumo” de Jesus é contra nós tem a ver com sua propositividade. Jesus propõe que tomemos a iniciativa sempre— sem amargura, sem troca e sem negociação—e tratemos o próximo, seja ele quem for, do modo como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele. E aqui não importa em que lugar o outro está, pois, há única pergunta a fazer é: “E se eu estivesse nesta situação, como gostaria de ser tratado?” Ou ainda uma única confissão de fé a ser declarada sempre: “Sistematicamente farei pelos outros aquilo que desejo que os outros façam também por mim o tempo todo”.

Sem falar que quando alguém não se trata bem costuma piorar no tratamento com o próximo. Aqui todos nós temos que humildemente assumir nosso déficit de bondade e nossa profunda capacidade de nos anestesiarmos na vida. A prova disto é que o mundo é como é—e, pior ainda: a “igreja” é como é!

Então, Ele entra no Caminho Estreito e adverte contra o Caminho Largo. Ora, como nos enganamos! Pensamos sempre que o Caminho Estreito é o dos Fariseus e que o Caminho Largo e o dos Publicanos e Pecadores. O Caminho Estreito conduz a Vida, Ele diz.

Então, é fácil saber do que é que Ele está falando. Jesus só recomenda como Caminho aquilo Ele viveu, e como amigos de caminhada, gente como aquela com a qual Ele conviveu.

Como podemos então pensar de modo inverso?

É que somos discípulos da TMCE e não o sabemos. O Caminho Estreito, na Terra, para Jesus, era justamente aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Largo. E o que Jesus chamava de Caminho Largo era aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Estreito.

O Caminho é Jesus, e o jeito de ser, é também o Dele!

Chega então a vez dos “falsos profetas que se apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores”. E que ironia. Jesus diz que se deve observar causa e feito apenas nas produções do ser.

Isto porque, na utilização do Nome de Jesus com fins lucrativos e roubadores— ou mesmo pela simples e mera auto-sedução narcisista que o poder de encantar e seduzir com o sobrenatural faz nascer como doença em muitos— não há uma relação de causa e efeito entre o ser-devorador (os lobos) e os milagres que acontecem do lado de fora quando o lobo fala usando o nome de Jesus.

Não há nada no mundo espiritual que negue mais as relações de causa e efeito que essa inversão. A Graça de Deus é livre para des-conhecer o suposto “cordeiro-lobista” e levar a Graça do Cordeiro a quem quiser e como bem desejar.

Todavia, que ninguém faça disso a evidência de sua salvação. A salvação é conhecer e ser conhecidos por Deus, em Jesus. E mais: é produzir o fruto que dessa verdade de ser nasce agora naturalmente de modo sobrenatural.

A conclusão Dele nos põe diante da necessidade de escolhermos de duas alternativas, Um Fundamento para a nossa vida. Ou o alicerce de Rocha ou o alicerce das regiões arenosas. A emoção cristã, em geral, quando lê isto aqui é também pervertida. Pensamos na Rocha com categorias farisaicas, com suas manifestações de rigidez, e, sobretudo, de imutabilidade-morta, sem vida e, portanto, estática!

Assim, lemos a des-construção da Teologia Moral de Causa e Efeito feita por Jesus, no Sermão do Monte para, então, no final, voltarmos às emoções patrocinadas pelas Tábuas da Lei de Pedra.

Então, transformamos o Sermão do Monte em Lei, e, por essa razão, ele, no mesmo instante, se torna o Sermão do Abismo, pois, como Lei ele apenas nos enferma ainda mais profundamente por dentro, mas não nos resolve como pessoas, nem dentro e nem fora—pois em ambas as “locações” o Sermão do Monte se mostra inviável: dentro, porque sabemos o quão anti-natural ele é para a nossa própria natureza atual, caída; e fora, porque nossas existências, desde o intimo até ao comportamento, inviabilizam sua pratica, isto se não estivermos falando de amestramento na conduta, mas da honestidade de quem quer ser conforme sabe que deveria ser, e não é!

E a maioria de nós existe nesse limbo entre o véu e a revelação, entre as Pedras das Leis e a Graça de Pedra. Mas poucos sabem da Graça da Rocha e da Rocha da Graça.

E por quê?

Porque nós não cremos, de fato, que Jesus é a Pedra Angular—não o Jesus de nossas invenções, mas o do Evangelho—e nem tampouco cremos que é em Sua Graça que temos a Rocha da Nossa Salvação!

A Rocha é essa Palavra da Graça, que quebra os carmas, destroi os destinos, arrasa as certezas, desmonta os esquemas, a fim de que aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. De outra sorte, onde estaria nossa confiança? Na fé no Deus de toda Graça ou na nossa capacidade de sermos o alicerce de nós mesmos?

A Graça é onde o poder se aperfeiçoa na fraqueza, daí ser o estarmos fundados nessa Rocha o que nos faz, mesmo em fraqueza, vencermos as ondas, os ventos e os açoites das tempestades , e, não tendo do que gloriar, pomo-nos em pé e dizemos:

Jesus, obrigado por teres feito o Caminho Largo o Suficiente para eu passar! E obrigado, porque na minha fraqueza teu poder se aperfeiçoou e, assim, tendo provado de todos os tempos, épocas e estações da vida, aqui estou para dizer, mais uma vez: ‘Para quem irei? Só Tu tens as Palavras da Vida Eterna!

A Rocha é a Graça e a Graça é a Rocha. E a Palavra é a Vida que se vive buscando em fé alcançar e conquistar aquilo que já nos alcançou, embora nós ainda não a tenhamos plenamente conquistado!

E quem é Esse que deve ser Aquele que é o nosso Caminho? E que Caminho é esse? e que Rocha é essa?

Jesus é Caminho, Sua Palavra-Encarnada é a Rocha, e Sua Graça é a Lei do caminhar!

Jesus é aquele que quando se vê no Pai recebendo um filho—qualquer filho—de volta, de antemão avisa: “Não esperem de mim nada menos que uma festa regada ao melhor vinho, pois os pecados já foram lavados com o melhor Sangue!”.

Nesse Caminho com Ele, que é um tabernáculo em movimento, tem de tudo: demônios de todos os tipos, tempestades, perplexidades, interesses escusos, certezas satânicas, exageros desnecessários, zelos homicidas, familiares em pânico, medo de trair, frágeis certezas de jamais trair, traição explicita e implícita, negação e morte !

Mas, para além disso tudo, vê-se que no Caminho com Ele, os ventos cessam, as ondas se abrandam, as Leis fixas do universo são relativizadas, os demônios sabem quem Ele é e quem somos Nele; e, assustados reconhecemos Quem Ele É!

Nesse Caminho as maiores demonstrações de fé vêm de fora da religião, e, também ouve-se a ameaça freqüente que Ele faz para que não se julgue segundo a aparência, mas conforme a reta justiça, pois, não raramente, o que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus. Por essa razão, tanto “malandros arrependidos” quanto “réus confessos” podem encontrar seu repouso.

E, para além de tudo isto, a gente vê a morte sendo morta definitivamente na Ressurreição. Todavia, nele também se aprende que se o Verbo entrou no mundo pelas entranhas de uma virgem, Ele, no entanto, saiu da morte ante o olhar de uma mulher, ex-possessa-prostituta!

Assim, a Encarnação des-instala a Moral e a Ressurreição põe o ser-moral no papel de ouvinte provocado, pois, tem que crer no testemunho da Graça nos lábios de quem não gostaria que tivesse sido escolhida, se acontecesse no dia de Hoje—não para dar testemunho do fato da Ressurreição!

Do ponto de vista de uma moral-marketeira-publicitária Madalena seria uma testemunha que não seria selecionada, afinal, ela não tinha nenhuma credibilidade.

Nesse Caminho ninguém é perfeito, mas é da boca de crianças de peito e de pecadores quebrantados onde Ele enxerga louvor.

Sim, nesse Caminho você aprende o que é não estar nem varrido nem ornamentado, porém, sabendo que se a festa já começa com o melhor vinho, que esperar então? Algo menos que a Ressurreição?

Nesse Caminho a gente aprende que Ele nos conhece pelo nome, mesmo no dia seguinte àquele no qual o tenhamos negado—então, choramos amarga e docemente!

A Graça é a Lei do Caminho!

E, logo se percebe, porque Ele mostra, que o Caminho é Ele mesmo, é ser dele e ser conhecido por Ele, e que isto nos tira todo medo, e nos conduz à Verdade, e que é somente nela que se pode experimentar a Vida.

Então você olha e o vê em você!

Você já não vive?

Não! Ele vive em você!

E quem tentará tomar para si esse ser-tabernaculo que se move pelo e no Caminho?

Quem?

Não esqueça, o Mais Valente, é o que faz Mais Valer!

No Caminho, Ele nos garante sempre! Pois é também apenas no Caminho que somos salvos de nos tornarmos parte de uma geração perversa e que espreita como ave de rapina a alma de seu próximo!

No Caminho, “o diabo”, está amarrado e suas possessões na casa do coração são saqueadas pelo Mais Valente! E “ele” está “amarrado” porque o “escrito de dívidas que havia contra nós e que constava de ordenanças” foi irreversivelmente “rasgado e encravado na Cruz”.

Nós, por isto, estamos para sempre livres!

E quando se fala assim, se diz que a salvação humana só acontece num embate de Deus contra Deus, onde o próprio Deus seja o Réu-Justo, sendo julgado pelo Justo-Juiz, o qual, sendo também o Advogado do réu-réu— o homem—, possa oferecer o Réu-Justo como substituto em lugar do réu-réu. Assim é que o Réu-Justo—aquele que recebe o castigo da mais absoluta justiça divina contra o réu-réu—pode ser, Ele mesmo, também, o Advogado do réu-réu.

E, em toda a História só há um lugar onde Deus enfrenta Deus, num combate onde Deus ganha e Deus perde; onde o réu é condenado e absolvido; onde Aquele que é o Justo é feito o Injusto; o que não teve pecado, é feito pecado em favor do homem e de Deus!

Somente na Cruz de Cristo Deus-enfrenta-Deus, e Deus se aniquila e se supera a um só tempo . Na Cruz, Deus vence a Si mesmo e Sua Misericórdia prevalece sobre o Seu próprio juízo; sendo Suas palavras finais a respeito desse Combate, as seguintes: “Está consumado!”

Ou seja: “Esta luta acabou”. Mas para os “amigos de Jó” a luta continua e a alma tem que sofrer todos os dias a dor de acusações que só a tornam menos alma e mais feia!

Nós, todavia, não negociaremos, nem por um momento, a libertação que o Evangelho de Cristo nós trouxe de uma vez e para sempre da Teologia Moral de Causa e Efeito!

Foi para esses—os discípulos da TMCE—a quem Paulo disse: “Quanto ao mais, ninguém me moleste, pois eu trago no corpo as marcas de Jesus”.

“Sem fé é impossível agradar a Deus”. E sem Deus-contra-Deus é impossível haver uma fé que justifique o homem diante de Deus e que traga a justiça de Deus para a consciência humana. E essa certeza não vem com explicações racionais. Ela é filha de uma inerente e incompartilhável certeza de harmonia com Deus, mesmo no caos! E é filha da presença da Cruz sobre nós!

Aos amigos de Jó, o Evangelho diz que o Senhor Jesus contou uma parábola:

Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:

Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicando.

O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, Graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.

O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!

Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.

Somente “os amigos de Jó” podem ler o Evangelho de Jesus e continuar pensando como os fariseus. A Ética do Amor—que é a única ética do Evangelho— nega todos os pressupostos da Teologia Moral de Causa e Efeito.

A Graça inverte os pólos da Ética, que, em Cristo, se vincula não à Moral, mas à obediência amorosa a Deus; e se expressa como resposta da consciência do amor à inconsciência do próximo, mesmo que seja o inimigo!

E só assim se pode estar livre para agir desse modo, porque quem vive na Graça também já não tem mais nada a provar. Afinal, ou é ou não é! e também não depende nem de quem quer nem de quem corre, mas de usar Deus de misericórdia para com esse ser humano! para conosco! os que nos entregarmos em fé!

Conforme o apostolo João, a si mesmo se purifica, no amor, todo aquele que tem em Jesus sua esperança. Dessa forma, o Evangelho insiste em que se ande no Caminho da Vida, cuja Porta é Estreita—embora esteja aberta a todos—e que nos põe sobe a Lei do Amor.

Sim! o Evangelho insiste em que a Lei do Amor é o melhor de todos os fundamentos para a vida!

E isto, para agora usarmos outra imagem, nos faz ramos da Videira Verdadeira, tornando-nos, assim, pela prática da palavra-amor, Seus ramos-discípulos.

E dessa Videira são cortados apenas os ramos que se auto-excluem pela presunção de pensarem que o ramos pode dar fruto de si mesmo.

À esses, a Videira diz: “Sem mim nada podeis fazer!!!”

Assim, somos chamados a mamar o amor de Deus e a crescermos Nele na frutificação do amor e da misericórdia praticada uns aos outros.

Isto fará com que o mundo nos odeie!

Afinal, o mundo, incluindo sobretudo a moral religiosa, é feito de todos os ramos que auto-engaram-se crendo que o ramo pode produzir fruto de si mesmo!

O mundo são todos os ramos que não vivem da seiva da Videira, por isto secam e são lançados ao fogo.

Todo aquele que não depende da seiva da Graça que da Videira Verdadeira procede—não importa quem ele seja—, jamais produzira o fruto que permanece, pois, este, é o fruto do amor e da vida que brota do casamento do ramos com a Videira-Jesus!

Esses não são nunca amigos de Jó, pois, na Graça, foram feitos amigos de Jesus, pois, à esses, Ele disse tudo o que tinha ouvido de Seu Pai-Agricultor:

“Quem me ama, guarda os meus mandamentos; assim como eu amo o Pai e guardo os Seus mandamentos. E os mandamentos, são um: que vos amais uns aos outros, assim como eu vos amei.”



Caio

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Visitas ao Inferno

Já visitei o inferno. Estive lá em vida. Já entrei em suas câmaras horrendas diversas vezes. Em todas, padeci muito. Nada sei sobre o "Hades" mencionado pelos religiosos. Aquele que jaz embaixo da terra e começa depois da morte não me interessa. O inferno que já conheci e que me machuca fica aqui mesmo, na terra dos viventes.

Já estive no inferno do engano. Há algum tempo, visitei um parque suíço, em Zurique, para onde convergiam os toxicômanos da cidade. Subi o viaduto que atravessa o parque e do alto contemplei um cenário surreal e dantesco. Lama, lixo e fezes, atolavam rapazes e moças naquele submundo. Ali não existiam humanos, apenas carcaças ambulantes. Naquela mesma noite, no avião, desejei dormir profundamente só para fugir do que testemunhara. Eu preferia qualquer pesadelo a ter que conviver com aquele cenário, tão real. Perguntei-me diversas vezes quem eram aqueles jovens. E porque se revoltavam contra o sistema. Se tentavam ser livres, criaram uma masmorra. Acabaram construindo o inferno com as próprias mãos.

Daquele dia, despertei: o Lago de Enxofre permeia o mundo em que existo. Cada um daqueles jovens tinha um pai. Um pai que pranteia porque não sabe como apagar as labaredas medonhas do lago de enxofre.

Já estive no inferno da culpa. Hoje sei que nenhum tormento provoca maior dor que a culpa. Qualquer mulher culpada sabe o tamanho de sua opressão. Qualquer homem culpado fala que os ossos derretem com uma consciência pesada. Culpa é ácido. A culpa avisa que o passado não pode ser revisitado. Assim as pessoas se submetem a carrascos internos e esperam redenção através de açoites. A dor da culpa lateja como um nervo exposto.

Os culpados procuram dissimular o sofrimento com ativismos, divertimentos e até promiscuidade. Mas a culpa não cede; persegue, persegue, até aniquilar iniciativa, criatividade e esperança. Recordo quando, no final de uma reunião, uma mulher me procurou pedindo ajuda. Seu marido se suicidara de forma violenta. Depois de enroscar uma tira de couro no pescoço, deu partida em um motor, que não só o estrangulou como lhe decepou a cabeça. Mas antes, ele procurou vingar-se. Deixou uma nota responsabilizando a mulher pelo gesto trágico. Diante da tragédia, aquela pobre mulher, desorientada e aflita, não sabia como sair do cárcere que o marido meticulosamente construíra.

Já estive no inferno da maldade. Conheci homens nefastos. Sentei-me na roda de ímpios. Frequentei sessões onde o martelo inclemente da religião espicaçou inocentes. Vi sacerdotes alçando o vôo dos abutres. Semelhante às tragédias shakespeareanas, eu próprio senti o punhal da traição rasgar as minhas vísceras. Fui golpeado por suspeitas e boatos. Com o nome jogado em pocilgas, minha vida foi chafurdada como lavagem de porco. Senti o ardor do inferno quando tomei conhecimento da trama que visava implodir o trabalho que consumiu meus melhores anos. E eu não sabia como reagir.

Portanto, quando me perguntam se acredito no inferno, respondo que não, não acredito. Eu o conheço! Sei que existe. Eu o vejo ao meu redor. Inferno é a sorte de crianças que vivem nos lixões brasileiros. Inferno é o corredor do hospital público na periferia do Rio de Janeiro. Inferno é o campo de exilados em Darfur. Inferno é a vida de meninas que os pais venderam para a prostituição. Inferno é o asilo nos Estados Unidos, que não passa de um depósito onde os velhos esperam a morte.

Um dia, aceitei a vocação de lutar contra esses infernos que me rodeiam, assustam e afrontam. Ensinei e continuo a ensinar que Deus interpela homens e mulheres para que lutem contra suas labaredas. E passados tantos anos, a minha resposta continua a mesma: “Eis-me aqui, envia-me a mim”.

Acordo todos os dias pensando em acabar com os infernos. Gasto a minha vida para devolver esperança aos culpados; oferecer o ombro aos que tentam se reconstruir; usar o dom da oratória para que os discriminados se considerem dignos. Luto para transformar a minha escrita em semente que germina bondade em pessoas gripadas de ódio. Dedico-me ao estudo porque quero invocar o testemunho da história e mostrar aos mansos que só eles herdarão a terra onde paz e justiça se beijarão.


Ricardo Gondim

Impotência de ajudar.



Debato-me em minha impotência. Sei que perco muito tempo ensimesmado. Fico angustiado por não me importar como devia com a sorte de quem precisa de um ombro. Eu gostaria de ter mais recursos humanos, materiais e conceituais para ajudar muitos que não conseguem enfrentar a dureza da vida.

Vez por outra, no desespero de ajudar, quero fundar uma escola de auto-ajuda tupiniquim. Quero deixar de lado muitos escrúpulos éticos e receitar fórmulas caseiras para que as pessoas tenham um "como" para contornar seus dilemas existenciais. O sofrimento me agride tanto que sou tentado a repetir frases "clichês" de alguns manuais com cinco passos de “como alcançar vitória”.

Quem sabe mais gente responderia se eu fosse mais coloquial e mais pragmático. Até agora percebo meus escritos bonitinhos, mas fraquinhos. Não passo de um professor de álgebra chato e enfadonho, daqueles que aborrecem adolescentes. Procuro comunicar, esforço-me com toda a sinceridade de minha alma, mas acabo passando um ar elitista, esnobe, petulante. E mais gente me procura com dilemas existenciais desesperadores.

A maré do sofrimento humano não para de rebentar nas portas de minha vida. As pedras que ergo não conseguem conter a fúria deste mar que espumeja dor. Todos os dias, lido com pessoas perdidas nas decisões que precisam tomar, ouço reclames de mulheres que amargam casamentos horrorosos, tomo conhecimento de crentes angustiados com o jugo de doutrinas corretíssimas, mas inclementes.

Tento ensinar sobre outro jeito de organizar a vida, mas noto as pessoas sem a menor disposição de escapar de velhas bitolas. Tento mostrar que a percepção de um Deus que rege e ordena todos os micros detalhes do universo parece oferecer conforto e segurança, mas depois, quando a vida se impõe com todas as suas idiossincrasias e incoerências, essa percepção de Deus como um supremo dramaturgo, as deixará arrasadas.

Há enorme resistência em ver que a vida é contingencial. Foge-se da realidade de que bem e mal chegam indiscriminadamente. Por isso, quantas vezes ouvi pessoas questionando Deus. Suas interrogações não nascem de rebelião, mas por não aceitarem que Deus os tenha abandonado quando mais precisavam de sua ajuda.

Tento mostrar que há outra maneira de perceber o amor de Deus. Mas frustro-me ao notar que mesmo com tanta angústia, poucos estão dispostos a abrir mão de antigos pressupostos. Parece melhor o desespero de conviver com um Deus que arbitra seus atos sem levar em conta a sorte de homens e mulheres, mas os seus projetos macro.

Vejo-me como aquele velho marujo que acena sua lanterna no alto de uma colina. Pareço um doido. Mas, quem sabe, algum viajante em alto mar não virá a minha pequena luz para achar seu rumo?


Ricardo Gondim

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Oração




Aqueles que me conhecem poderão dizer: Como um teólogo liberal (herege) pode falar a respeito de oração?

Primeiro quero defender que a verdadeira espiritualidade geralmente se encontra nos arraiais dos “hereges”. Já li num livro que diz: “teologia liberal tem haver com liberalismo teológico e libertinagem". Vê se pode! alguém que não tem nenhuma intimidade com o método histórico crítico, não conhece os autores liberais, falar uma besteira dessa.

Percebo nas pessoas um pré-julgamento, colocam placas, estabelecem juízos, níveis de espiritualidade, vida com Deus, santidade e etc.

Quem tem mais a perder? O que se alimenta da ortodoxia ou aquele que escolhe remar contra a maré sentindo o chão sair do seu pé? O teólogo liberal questiona suas próprias convicções, anda pelo que recebeu e por aquilo que a sua consciência abraçou, mesmo que isso signifique rótulo, julgamento e indiferença?

Um padre amigo disse num determinado momento: “heresia é uma verdade embriagada” Vocês querem saber de uma coisa? Em muitos casos eu concordo com ele. O que seria da reflexão teológica se não fossem os pensadores “hereges”, se não fosse à teologia crítica e se a balança só pendesse para um lado?

Falando de oração, descobri algo muito interessante. Quero falar da minha experiência sem fazer da minha experiência modelo para ninguém.

Quanto mais sozinho eu fico, mais próximo de Deus me sinto. Sabe por quê? Me afasto da hipocrisia, me afasto daqueles apenas dizem mas não são, me afasto do juízo das pessoas, me afasto da tentação de ostentar qualquer “espiritualidade” que se transforme em auto promoção ou orgulho, me afasto de qualquer manipulação do sagrado, não preciso dar explicação a ninguém senão a Deus, a mim mesmo e a minha consciência, e me olhando diante de espelho.

Realmente sou um herege!

Fazer oração em conjunto na igreja instituída se tornou uma ofensa ao Eterno, uma brincadeira, uma sacanagem, um circo. Enquanto poucos se quebrantam, muitos não passam de religiosos malditos que foram engodados pela falsa religião (cristianismo e outras).

O fato de orarmos sozinhos é libertador.

Estou cansado de pessoas que vivem sem verdade, sem responsabilidade. Pessoas assim matam a gente, rouba de nós a alegria que provém do Evangelho, drenam as nossas forças, torna a relação com o sagrado algo muito pesado e triste, ficando apenas as máscaras que fazem de nós filhos dessa coisa chamada instituição evangélica que não tem nenhuma referência com IGREJA e sim com “igreja”.

Aprendi com a vida: quando sou rotulado por herege, me sinto recebendo um elogio de Deus. Assim como Jesus foi um herege no seu tempo, a minha consciência de verdade me aprova. Deus me conhece, eu me conheço. Chego diante do Assombro de cara limpa, sem fantasia, sem ninguém roubando a pureza do encontro, e a liberdade de estarmos juntos, encontrá-lo sem que ninguém hipocritamente interrompa apenas pelo fato de estar ali.

Na verdade me sinto muitas vezes sentado na mesa dos escarnecedores, e isso entre “irmãos”. As pessoas não conseguem viver a radicalidade do Evangelho, não bancam as próprias palavras, não vivem a vida pela vida, vivem somente a própria vida.


Religião! fique cada um com a sua, e vá pra onde você quiser.



Que Deus ME abençoe

Wagner

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Kenosis


No Concílio de Nicéia (325 d.C.), sob o imperador Constantino, e no primeiro Concílio de Constantinopla (381 d.C.), se o consenso de que Cristo era eterno, uma encarnação divina, (chamada de "homoousios"), que significa consubstancial com Deus Pai, em uma só pessoa, porém com duas naturezas - completamente divina e completamente humana - e propósitos.

"O termo KENOSIS (ke/nwse - ekénose) que significa esvaziamento, é encontrado no Novo Testamento como o esvaziamento de Jesus (Fl 2,7), esta relacionado a sua divindade, mas precisamente ao deixar de lado seus atributos divinos sem perder sua natureza divina. Jesus deixa de depender de seu poder divino para depender do Espírito Santo". A definição é simples, mas serve.

A discussão ao redor da kenosis de Jesus está no contexto das disputas cristológicas, que debate a natureza de Jesus Cristo durante os primeiros séculos do Cristianismo, e gira ao redor do objeto do esvaziamento, ou, o que foi que Jesus deixou no céu ao descer para a terra?

No emaranhado de heresias históricas a respeito, há pelo menos duas possibilidades de explicação da kenosis: esvaziamento na forma e nos atributos. Jesus é Deus esvaziado dos atributos próprios de sua divindade (onipotência, onipresença e onisciência), embora intocado em sua natureza divina (eternidade e santidade). Isso implica dizer que o esvaziamento de Deus em Jesus não diz respeito à natureza de Deus. Deus é o mesmo, antes e depois de sua kenosis. Podemos considerar a kenosis, portanto, um critério de relação de Deus com sua criação e suas criaturas.

Creio que Deus conduz a história independentemente de sua kenosis, mas entra na história sempre esvaziado, através de Jesus. Apenas para diferenciar os critérios de relacionamento de Deus com sua criação e suas criaturas, falemos do Deus exaltado (sem kenosis) e do Deus esvaziado, em Jesus (com kenosis). Deus conduz a história desde seu alto e sublime trono, Deus exaltado, mas participa da história em Jesus, o Deus esvaziado . Estes são os sentidos das chamadas teofanias: a presença de Deus, em Jesus, no Velho Testamento, antes da encarnação.

Aqui surge um mistério: existe kenosis antes da encarnação. Somente o Deus esvaziado se manifestaria no tempo e seria passível de ser percebido por suas criaturas. O Deus em seu alto e sublime trono habita em luz inacessível (1Timóteo 6.16), e não pode ser contemplado pelo mortal.

Por esta razão, quando Moisés solicita que Deus lhe mostre sua glória, Deus lhe concede ver sua bondade: "Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti", pois "Não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá" (Êxodo 33.20).

O Deus que precisa descer para saber o que se passa em Babel (Gênesis 11.5), verificar a pertinência das acusações feitas contra Sodoma e Gomorra (Gênesis 18.20 ,21), e colocar Abraão à prova (Gênesis 22.12) é o Deus esvaziado em Jesus. Dizer que tais expressões são meras figuras de linguagem implica a diminuição da verdade bíblica. Estes não são exemplos de antropomorfismo como figura de linguagem, mas de antropomorfismo como kenosis, pois o Deus que participa da história é o Deus esvaziado em Jesus.

Podemos concordar com Ariovaldo Ramos quando diz que em Filipenses 2 há, portanto, duas kenosis.. A primeira é Deus em forma de servo (a kenosis antes da encarnação): deus se esvazia para incluir a humanidade em si mesmo, diminui-se para que o finito conviva com o eterno sem ser esmagado pela eternidade e pela glória do Eterno; a segunda é Deus em forma humana (a kenosis da encarnação): Deus se esvazia para se identificar em termos absolutos com a humanidade (Hebreus 4.15,16; 10.5) e para conduzir a humanidade à participação em sua natureza divina (2Pedro 1.4).

Os grandes conflitos da espiritualidade cristã consistem no desejo humano de conviver aqui e agora com o Deus exaltado, negligenciando todas as possibilidades de convivência com o Deus esvaziado.

A maioria das pessoas quer um Deus exaltado: onipotente, onipresente e onisciente, que invade a história com seu poder e autoridade e interfere na realidade em benefício dos seus. A proposta cristã, entretanto, é um convite ao seguimento do Deus esvaziado, que habita nos seus através do Espírito Santo. Sua forma de atuação não é a intervenção que perpetua a imaturidade, mas a cooperação que convida à emancipação e autonomia.

Quanto tempo será necessário para que os cristãos assumam que o Deus exaltado continua a agir na história como Deus esvaziado? Este é o tempo de afirmação da terceira kenosis: o esvaziamento de Deus para habitar sua igreja: Deus age em nós, através de nós, apesar de nós, e nos dá o privilégio de cooperar com Ele em sua obra de redenção (João 14.16-23; 1Coríntios 3.16; 6.19; 12.4-7; Efésios 2.20-22; 1Pedro 2.4-6; Apocalipse 21.3).


Ed René Kivitz

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Apelo da Divina Carne


Há esse homem que já morreu e debaixo de cuja sombra eu vivo. Muitas e muitas vezes decidi ser imaturidade e o mais raso idealismo deixar-me impelir pelo sopro de um homem cuja carne nunca abracei, cuja olhar nunca me tocou e de quem não conheci as feições das mãos. Não é apenas imaturo, ponderei além da dúvida: é absolutamente doentio.

Tento me livrar dessa sedução que para mim é uma patologia, mas o homem morto fala comigo, não do fundo da terra, como seria de esperar, mas do coração das coisas. E usa para me reconquistar, sem qualquer critério e sem qualquer recato, o sublime e o rasteiro, a vertigem que é Francesco ou a letra de uma música que alguém pagou para ser escrita, Bach e Lost, Borges e Abba. Sua gentileza é de uma breguice sem confins, e basta para envelopar o mundo num céu e o céu num inferno, curando ao mesmo tempo em que devassa e faz arder. Ele não sabe se esconder e está em todo lugar: sua pele os descalços podem tocar, e até as crianças conhecem a sua nudez.

E quando me enfureço por estar seguindo um morto cuja carne nunca apertei e da minha experiência infinitamente distante, lembro de tudo que estava decidido por mim quando cheguei a este mundo – o significado das palavras, o enunciado das leis, as cercas do mundo natural, o arranjo das generosidades, as arbitrariedades dos méritos, a geografia das exclusões – e concluo que são essas coisas que deveriam nutrir-me a indignação e o ceticismo, não o apelo de uma carne como a minha, que treme nos rostos de todos que choram ao o meu redor e que está pronta para segurar de toda a queda e nutrir e embalar e mostrar o céu, com toda a terra da Terra.

Então me envergonho miseravelmente, por ter julgado que algo além da carne e do pó bastassem para abrigar a divindade, que só se contenta com o sublime. A terra beija imóvel os meus pés, e inclino-me muito indignado para retribuir.

Muito bom!
Paulo Brabo