segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
O Apelo da Divina Carne
Há esse homem que já morreu e debaixo de cuja sombra eu vivo. Muitas e muitas vezes decidi ser imaturidade e o mais raso idealismo deixar-me impelir pelo sopro de um homem cuja carne nunca abracei, cuja olhar nunca me tocou e de quem não conheci as feições das mãos. Não é apenas imaturo, ponderei além da dúvida: é absolutamente doentio.
Tento me livrar dessa sedução que para mim é uma patologia, mas o homem morto fala comigo, não do fundo da terra, como seria de esperar, mas do coração das coisas. E usa para me reconquistar, sem qualquer critério e sem qualquer recato, o sublime e o rasteiro, a vertigem que é Francesco ou a letra de uma música que alguém pagou para ser escrita, Bach e Lost, Borges e Abba. Sua gentileza é de uma breguice sem confins, e basta para envelopar o mundo num céu e o céu num inferno, curando ao mesmo tempo em que devassa e faz arder. Ele não sabe se esconder e está em todo lugar: sua pele os descalços podem tocar, e até as crianças conhecem a sua nudez.
E quando me enfureço por estar seguindo um morto cuja carne nunca apertei e da minha experiência infinitamente distante, lembro de tudo que estava decidido por mim quando cheguei a este mundo – o significado das palavras, o enunciado das leis, as cercas do mundo natural, o arranjo das generosidades, as arbitrariedades dos méritos, a geografia das exclusões – e concluo que são essas coisas que deveriam nutrir-me a indignação e o ceticismo, não o apelo de uma carne como a minha, que treme nos rostos de todos que choram ao o meu redor e que está pronta para segurar de toda a queda e nutrir e embalar e mostrar o céu, com toda a terra da Terra.
Então me envergonho miseravelmente, por ter julgado que algo além da carne e do pó bastassem para abrigar a divindade, que só se contenta com o sublime. A terra beija imóvel os meus pés, e inclino-me muito indignado para retribuir.
Muito bom!
Paulo Brabo
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...traigo
ResponderExcluirsangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
COMPARTIENDO ILUSION
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
AFECTUOSAMENTE
BIBLIA SEM MITOS
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.
José
Ramón...
José
ResponderExcluirÉs siempre bem vindo por aqui
Abs.