terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Impotência de ajudar.
Debato-me em minha impotência. Sei que perco muito tempo ensimesmado. Fico angustiado por não me importar como devia com a sorte de quem precisa de um ombro. Eu gostaria de ter mais recursos humanos, materiais e conceituais para ajudar muitos que não conseguem enfrentar a dureza da vida.
Vez por outra, no desespero de ajudar, quero fundar uma escola de auto-ajuda tupiniquim. Quero deixar de lado muitos escrúpulos éticos e receitar fórmulas caseiras para que as pessoas tenham um "como" para contornar seus dilemas existenciais. O sofrimento me agride tanto que sou tentado a repetir frases "clichês" de alguns manuais com cinco passos de “como alcançar vitória”.
Quem sabe mais gente responderia se eu fosse mais coloquial e mais pragmático. Até agora percebo meus escritos bonitinhos, mas fraquinhos. Não passo de um professor de álgebra chato e enfadonho, daqueles que aborrecem adolescentes. Procuro comunicar, esforço-me com toda a sinceridade de minha alma, mas acabo passando um ar elitista, esnobe, petulante. E mais gente me procura com dilemas existenciais desesperadores.
A maré do sofrimento humano não para de rebentar nas portas de minha vida. As pedras que ergo não conseguem conter a fúria deste mar que espumeja dor. Todos os dias, lido com pessoas perdidas nas decisões que precisam tomar, ouço reclames de mulheres que amargam casamentos horrorosos, tomo conhecimento de crentes angustiados com o jugo de doutrinas corretíssimas, mas inclementes.
Tento ensinar sobre outro jeito de organizar a vida, mas noto as pessoas sem a menor disposição de escapar de velhas bitolas. Tento mostrar que a percepção de um Deus que rege e ordena todos os micros detalhes do universo parece oferecer conforto e segurança, mas depois, quando a vida se impõe com todas as suas idiossincrasias e incoerências, essa percepção de Deus como um supremo dramaturgo, as deixará arrasadas.
Há enorme resistência em ver que a vida é contingencial. Foge-se da realidade de que bem e mal chegam indiscriminadamente. Por isso, quantas vezes ouvi pessoas questionando Deus. Suas interrogações não nascem de rebelião, mas por não aceitarem que Deus os tenha abandonado quando mais precisavam de sua ajuda.
Tento mostrar que há outra maneira de perceber o amor de Deus. Mas frustro-me ao notar que mesmo com tanta angústia, poucos estão dispostos a abrir mão de antigos pressupostos. Parece melhor o desespero de conviver com um Deus que arbitra seus atos sem levar em conta a sorte de homens e mulheres, mas os seus projetos macro.
Vejo-me como aquele velho marujo que acena sua lanterna no alto de uma colina. Pareço um doido. Mas, quem sabe, algum viajante em alto mar não virá a minha pequena luz para achar seu rumo?
Ricardo Gondim
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