sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
A CEIA DO SENHOR
A ceia do Senhor
O desejo de Deus é que comparemos o que chamamos de religião com aquilo que Ele chama de “lugar da minha habitação”. Entenda quem puder... Quem tem ouvidos para ouvir ouça.
A Igreja não é um lugar aonde se vai... A igreja é gente que gosta de se encontrar, e que se encontra em torno de Jesus Cristo.
Introdução:
Antes de tudo, é importante que o nosso coração esteja desarmado de qualquer conceito e pré-conceito a respeito desse assunto. Sejamos como aqueles que examinam todas as coisas. O fato de falar contra a ortodoxia, não quer dizer necessariamente uma heresia. Vamos caminhar juntos e vamos refletir sobre o assunto de forma madura e fundamentando todas as coisas nos textos bíblicos e no contexto histórico.
Ceia (como a igreja faz) ou Ágape (como a Igreja fazia)
Alguns textos no Novo Testamento falam de um rito chamado de “fração do pão”.
1Cor 10.16,17; Lucas 24.30,35; Atos 2.42,46; Atos 20.7,11.
As refeições formais e as refeições como um ato de comunhão ligado ao sagrado eram muito comuns entre os judeus e nas comunidades protocristãs. Os participantes recebiam uma participação no poder divino mediante a refeição em comum, que representava sua união com a divindade.
Nada era mais representativo para promover a união entre os homens e entre o homem e Deus do que o comer e beber. O pão e o vinho nos fazem lembrar uma refeição familiar num lar judeu. Partir e distribuir o pão era procedimento normal para começar a refeição num lar judeu daquele período, assim como compartilhar uma taça de vinho era a maneira usual de terminar a refeição. Para cada gesto eram pronunciadas bênçãos.
Refeições Compartilhadas
Alguns elementos importantes na tradição da refeição em comum são tanto refeição real como refeição compartilhada. Há uma ênfase, não simplesmente no pão, mas no ato de partir o pão e isso é simbólico da comunhão, passando-o para todos. O pão não está simplesmente sobre a mesa. É partido e passado para todos. O vinho da mesma forma deve ser compartilhado por todos em um cálice comum.
A tradição da refeição comum envolvia originalmente uma refeição completa transformada em ritual, precisamente como tal. As transformações rituais pão/vinho ou corpo/sangue não tinham o propósito de remover essa realidade e não deveriam tê-lo feito. Isso não aconteceu para Paulo, mas aconteceu para os ricos coríntios. Em tudo isso, a questão não é se as transformações rituais são feitas antes, durante ou depois da refeição, mas sim se a própria refeição é parte intrínseca do simbolismo da ceia. Pão e vinho devem resumir não substituir a ceia; do contrário, isso já não é mais a Ceia do Senhor.
A comunidade compartilhava toda comida que tinha disponível, que simbolizava e transformava em ritual, mas também realizava e materializava a justiça igual do Deus judaico. A ceia cristã nas igrejas de hoje se resume num pouco de pão e vinho. Não é uma refeição real. Mas porque simbolizar a divindade por meio de um alimento que é não-alimento? Talvez o não-alimento simbolize um não-Jesus e um não-Deus.
O sentido da Ceia do Senhor é alimentar e sustentar a relação com Cristo, precisamente como relação comunitária/corporativa. Qualquer passo na prática da Ceia para uma celebração isolada (como se a Ceia do Senhor fosse simplesmente para alimentar o indivíduo com alimento espiritual) ou que a diminua como experiência compartilhada contraria a ênfase de Paulo e se afasta da sua cristologia do corpo de Cristo. Por isso não devemos levar um pedaço de pão e um pouco de suco de uva a ninguém que por qualquer motivo não pôde participar da Ceia do Senhor, como se estivéssemos levando para ela um alimento espiritual ou algo que tenha algum significado. Isso é reduzir a experiência da Ceia como uma refeição compartilhada.
O sacramento da ceia esta intimamente ligada a uma refeição ritual que nos identifica com aquele rito ou com aquela divindade (1 Corintios 10.16,17). Paulo mostra claramente uma refeição ritual ligada a um culto ou uma divindade. Se alguém nos convidar para comer uma refeição ritual, uma comida oferecida a outros deuses, não devemos participar por causa da consciência daquele que nos convidou.
Em 1Cor 10.16.17, Paulo, seguindo a tradição de uma refeição ritual, afirma que bebendo o cálice e comendo o pão, entramos em comunhão com o corpo e o sangue de Cristo.
Quem participa da refeição ritual, se identifica com aquele rito. Por isso, não podemos participar da mesa do Senhor e participar da mesa dos demônios.
Paulo parece querer afastar definitivamente os coríntios da idolatria e fazê-los abominar os sacrifícios pagãos. É nesse contexto que ele insiste, sobre o aspecto sacrificial da Ceia. Paulo identifica os deuses do paganismo aos demônios; os sacrifícios pagãos colocam seus fiéis em contato com o mundo demoníaco e este contato os contamina. Trata-se, pois, duma comunhão profunda.
Falando de comunhão
Antes de qualquer coisa ou qualquer superficialidade no sacramento da Ceia, existe um Jesus que disse: " Desejei muito comer convosco esta páscoa antes do meu sofrimento" (Aqui se revela o coração de Jesus). Assim como os discípulos estamos brigando entre nós para saber quem será o maior. (aqui se revela a verdadeira motivação dos discípulos; estavam na expectativa de um reino temporal)
Cada um interpreta para si mesmo segundo a sua própria consciência.
A resposta de Jesus traz um significado enorme para aqueles que como eu erra o tempo todo, mas com a consciência de tentar pelo menos acertar. Disse Jesus: "Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não sereis assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa seja como quem serve. Pois qual é maior, quem está a mesa, ou quem serve? Não é quem está à mesa? Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve" (Lucas 22,25-27).
" Jesus, sabendo que o pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois colocou água numa bacia, e começou a lavar os pés dos discípulos, e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Aproximou-se de Simão Pedro (pode ser qualquer um de nós) que lhe disse: Senhor, tu vais lavar os meus pés? Respondeu Jesus:
O que eu faço não o sabe agora, mas compreenderá depois. Disse Pedro: Nunca me lavará os pés (tentando acertar). Respondeu Jesus: Se eu não te lavar não tens parte comigo.
Respondeu Simão Pedro: Senhor, não apenas os pés, mas também as mãos e a cabeça (tentando acertar, mas errando o tempo todo). “Disse Jesus: Aquele que já se banhou não necessita de lavar senão os pés; no mais está todo limpo”. Eu vejo um significado muito mais existencial do que qualquer outra coisa. Para mim é muito mais importante a essência do sacramento da Ceia do que o seu ritual.
Quem tem coração para ouvir ouça; ouvir o evangelho se ouve primeiro com o coração.
Até o segundo século, não havia separação entre as duas refeições, o Ágape e a Eucaristia.
Quem participava do rito, se identificava com aquele rito. Se as pessoas queriam participar da mesa do Senhor, e se identificar com o Senhor, elas não eram excluídas da mesa, pelo fato de não serem batizadas (portanto não eram membros da Igreja). Paulo em momento algum disse que se as pessoas quisessem participar do nosso rito não poderiam participar, disse apenas que nós não devemos nos identificar com outros ritos (mesa dos demônios) por causa da consciência do outro.
1 Cor 10.16,17, Paulo afirma que bebendo o cálice e comendo o pão, entramos em comunhão com o sangue e o corpo de Cristo.
“Já que há um único pão, nós, embora muitos somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão”.
O sentido é claro: como o pão da ceia é um só, assim também todos aqueles que nesse pão comem formam um único corpo em Cristo.
A ceia do Senhor é ordenada para tornar intimamente efetiva e exteriormente visível a realidade da comunidade cristã estarem (seus membros) tão unidos a Cristo, que formem seu “corpo”.
Obs: Lembrando que Cristo não instituiu o sacramento da ceia... Ele estava participando de uma refeição.
Quando nós participamos da ceia, há uma identificação com o Senhor; e quando nos relacionamos com o próximo, o mandamento ganha vida e a essência do que Jesus falou se torna vida e benção para todos aqueles que participam da mesa do Senhor.
A ceia do Senhor não é ceia do Senhor se não unir a comunidade participante em mútua responsabilidade pelos outros.
Então a benção é para o corpo e não para o individuo que participa. Ninguém é abençoado pelo fato de participar da ceia, a não ser que ao participar se identifique na vida do próximo.
A ceia é um ato de comunhão e agregamento de pessoas que se identificam na necessidade mútua (corpo). A ceia exalta o mandamento de “amar o próximo como mim mesmo”. Tudo que se fazer fora disso é apenas uma religião engessada que valoriza mais o sacramento do que a essência dele. Lembrar do Senhor, é lembrar dos nossos relacionamentos, é lembrar de que não deve haver fome entre nós, é lembrar da desigualdade dentro da própria igreja, é lembrar que eu tenho muito, enquanto muitos não tem nada, é olhar pra gente e afirmar que nem amigos nós somos, é lembrar que não vivemos em comunhão e que não vivemos como membros do mesmo corpo.
Fazer isso até que ele venha, é simplesmente ser igreja.
Assim como aquele Samaritano que ia de viagem se compadeceu daquele homem que foi assaltado; aproximou-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhe azeite e vinho. Então pondo-o sobre a sua cavalgadura levou-o para uma hospedaria e cuidou dele. Partindo no outro dia, tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: "Cuida dele, e tudo o que de mais gastares com ele te pagarei quando voltar”. A pergunta é: Quem foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Nesses dois dias que são como mil anos, deveríamos estar fazendo o mesmo antes que ele venha e nos pegue como disse Paulo: “vocês se reúnem para pior e não para melhor”.
Em que ambiente acontece a ceia do Senhor? Lucas 22.14,24; Mateus 26.17,30.
Jesus estava indo para cruz, e como homem estava angustiado. Em Lucas 22.15, nos revela o seu coração e o desejo de estar com seus discípulos pela última vez antes do seu sofrimento. Se você notar, Jesus não esta instituindo a ceia, ele está participando da sua última páscoa com os discípulos Lucas 22.15. A páscoa era uma refeição ritual que lembrava como Deus com mão forte tirou o povo do Egito. O que quero dizer? Eu quero dizer que até aqui não vejo nenhuma instituição de ceia, e sim uma refeição ritual comum recheada de sentimento revelado pelo que Jesus disse: “Desejei muito comer convosco essa páscoa, antes do meu sofrimento”.
O que havia até então eram refeições comuns que nos identificava com o dono da casa e as refeições rituais que nos identificava com aquele rito.
Algumas perguntas devem ser feitas para chegarmos a algumas conclusões interessantes:
O que Jesus quis dizer aos apóstolos?
Como Paulo interpretou Jesus a respeito da ceia.
Uma coisa quero ressaltar.
O ambiente é bem diferente, mas as pessoas são as mesmas, carregando dentro de si as mesmas doenças existenciais, tomadas pelo desejo de poder, pela avareza, pela discriminação, capazes de dividir o corpo pela sua religiosidade hipócrita, fazendo que esse ambiente se torne apenas o ambiente da religião sem vida e sem significado (1 Corintios 11.17).
O que Jesus quis dizer aos apóstolos?
Jesus em algumas ocasiões se reuniu exclusivamente com os apóstolos, para lhes revelar verdades espirituais.
Em algumas ocasiões quando ele explicou parábolas, quando subiu ao monte da transfiguração (subiu apenas com 3), e na última páscoa, ele queria revelar verdades espirituais, que seriam transmitidas à igreja pela liderança dos apóstolos.
O fato de ele só ter chamado os doze, apesar de não ter como discípulos só os doze, só se explica nesse fato, senão Jesus estaria cometendo o mesmo erro com que Paulo estava repreendendo a igreja de Corinto (acepção de pessoas).
Como Jesus excluiria Maria, Marta e Lázaro da Sua última ceia antes de ele morrer, (se ele amava profundamente essa família).
Ele esta na páscoa comendo (Mateus 26.26 diz: “Enquanto comiam”) e bebendo (Lucas 22.17 diz: “Jesus tomou o cálice, deu graças e disse: Tomai-o e reparti-o entre vós”). Esse cálice não é o cálice que representará o seu sangue, e apenas para eles beberem. O cálice da Nova Aliança está no versículo 20.
Qual seria a verdade que Jesus queria revelar aos discípulos antes da sua morte?
Creio que seria algo a respeito da união mística dos discípulos, que pela sua morte não mais seriam doze, mais seriam apenas um só corpo nele. Para isso ele aproveita o momento da páscoa e usa dos próprios alimentos na mesa para revelar essa verdade.
Jesus disse: “Isto é o meu corpo e isto é o meu sangue”.
O que Jesus estava querendo dizer?
Se Jesus estava revelando a verdade que os discípulos não mais seriam doze, mas apenas um só corpo e um só pão como disse Paulo em Corintios 11.16,17, precisamos repensar a nossa interpretação a respeito da ceia, porque se o pão partido apenas revela que todos somos parte desse corpo místico, o corpo do senhor não é Jesus que foi partido, mas a igreja ali representada apenas pelos doze, que hoje são milhões de pães partidos que fazem parte de um só pão e são parte de um só corpo.
Jesus pega o pão inteiro que significa a plenitude da igreja (segundo Paulo), e parte entre os doze dizendo fazei isto em memória de mim. Eucaristia quer dizer: O bem que se faz a alguém que não merece. É a mesma raiz da palavra grega ca,rij, que quer dizer graça...Favor imerecido.
Jesus disse: repartam com todas as pessoas, cuidem das pessoas, não deixem que haja fome entre vocês, me faça conhecido não pelo discurso de vocês, mas pelas ações de amor e pela vida que se entrega a favor do bem ao próximo.
A igreja entendeu o que Jesus queria dizer. Paulo sabendo de toda avareza e discriminação que estava acontecendo na igreja de Corinto repreende a igreja dizendo que eles fazendo assim, não estão discernindo o corpo do Senhor, que segundo Paulo é a igreja do Senhor.
Como Paulo interpretou Jesus a respeito da ceia?
Precisamos entender a revelação... Não pode haver nenhuma contradição entre o pensamento Paulino e o que Jesus disse.
A teologia Paulina a respeito de corpo de Cristo, sempre aponta para a igreja, e nunca para o corpo de Cristo literalmente falando (1 Cor 6.19); (1.10,16,17); (1 Cor 11.27,29); (1 Cor 12.12,27); (Ef 1.22,23); (Ef 2.16); (Ef 3.6); (Ef 4.4); (Ef 4.12); (Ef 4.16); (Col 1.18); (Col 1.24). Sendo assim, o que Jesus quis dizer, deve ser exatamente o que Paulo disse.
Se Paulo entende igreja como o corpo místico de Cristo, Jesus nos evangelhos estava querendo dizer a mesma coisa. Se Jesus realmente quis dizer que aquele pão que estava na sua mão era a plenitude da igreja, então Jesus quis dizer: Este pão representa todos vocês...E quando ele partiu o pão entre eles, representava que eles individualmente seriam parte desse corpo e que deveriam compartilhar ou alimentar as pessoas. Ele disse: “Fazei isto em memória de mim”. A igreja por muito tempo interpretou erradamente esse dito de Jesus... Sempre se acreditou que Jesus estava dizendo que nós deveríamos partir o pão que simboliza o seu corpo (corpo dele e não a igreja), e deveríamos fazer isso em memória dele até que ele venha.
Vamos nos reportar ao ambiente da páscoa, onde Jesus estava com seus discípulos.
Jesus em determinado momento pega um pão qualquer e diz: “isto é o meu corpo (igreja) que é partido por vós (cada um individualmente... os doze seriam partes do mesmo pão, sendo um só em Cristo”). Fazei isto em memória de mim. Repartam o pão com as pessoas, compartilhem com aquele que não tem, e façam isto até que eu venha. Quando Paulo fica sabendo que a igreja de Corinto estava dividida e discriminando os mais pobres, ele repreendeu a igreja por sua prática religiosa sem nenhum significado... Ele disse: “Vocês se reúnem para pior e não para melhor”. É preciso entender que Jesus em todo tempo que esteve aqui, se preocupava sempre com as pessoas... Ele priorizava sempre as pessoas e raramente se envolvia com outra coisa.
Paulo quando repreende a igreja em Corinto, não repreende por causa de um erro na liturgia na refeição do ágape, mas por causa dos pobres que estavam sendo discriminados na igreja... Os mais abastados levavam o alimento, mas não gostavam de dividir com aqueles que não levavam nada. O espírito de avareza continua sendo o mesmo... Hoje temos mesas de diretoria, mesas só para os líderes, alimentos diferenciados onde só comem os mais abastados, os pobres continuam sendo desamparados porque não sobra nada e nem recursos para ajudá-los e nós continuamos com os nossos ritos sem vida e sem essência nos reunindo para pior e não para melhor.
O que Paulo quis dizer a Igreja de Corinto?
Os mais ricos chegavam mais cedo e faziam uma refeição completa antes que os mais pobres chegassem e encontrassem apenas pão e vinho simbólicos. A prática coríntia dava, já nos anos 50, os primeiros sinais claros de separação entre refeição completa e ação ritual.
O que exatamente Paulo responde a igreja de Corinto? Qual é exatamente a lógica da resposta de Paulo na tradição já dada a eles, mas agora repetida por causa do problema atual? Observemos como a transformação ritual do pão e a transformação ritual paralela do vinho acontece antes e depois da refeição.
Paulo insiste que a seqüência não é, como na prática coríntia, refeição + ritual de pão/corpo e cálice/sangue, mas sim, como na tradição pré-paulina, ritual de pão/corpo + refeição + ritual de cálice/sangue. Em outras palavras, não há para Paulo nenhum meio de separar a refeição ritual. A Ceia do Senhor é plenamente refeição e plenamente ritual.
O próprio Jesus instituiu esse processo e ordenou que fosse feito dessa maneira "em memória dele". Paulo estava absolutamente correto ao insistir que simbolismo e realidade deveriam ficar juntos, que a Ceia deveria envolver uma refeição compartilhada completa.
Quero caminhar pelo texto sempre respeitando a interpretação coerente e dentro do contexto de 1Cor 11 dos Evangelhos e da tradição.
1º - O que quer dizer a palavra grega para ceia?
Eucaristia quer dizer: O Favor que é oferecido a alguém que não merece... É a mesma raiz da palavra traduzida como graça. O ágape era uma refeição ritual que identificava a todo aquele que participava com aquele rito ou com aquela divindade. Todos participavam da refeição e a igreja agregava todos aqueles excluídos e discriminados pela sociedade. O problema da igreja em Corinto era de uma comunidade socialmente estratificada. É particularmente evidente que a tensão era basicamente entre cristãos ricos e cristãos pobres, isto é, entre os que tinham comida e bebida suficiente em suas próprias casas (11,21-22) e os que nada tem (11,22).
Os abastados eram os que se adiantavam com suas refeições antes da chegada dos membros mais pobres (11,33). Paulo introduz sua exortação dizendo que “vocês se reúnem para pior e não para melhor”. Evidentemente, as divisões e o partidarismo foram a principal preocupação na carta como um todo, e era na reunião para comer a ceia que a divisão se manifestava mais claramente. Paulo, sabendo da discriminação e a acepção de pessoas, repreende duramente os mais abastados da igreja por fazerem do sacramento da ceia apenas um ritual sem vida onde a essência já havia sido perdida, sobrando apenas uma religião que segundo Paulo não servia para nada, sendo melhor que eles não se reunissem.
Tiago realça as tensões que surgiram dentro de uma comunidade primitiva entre ricos e pobres. O autor sugere que “glorie-se o irmão de humilde condição na sua exaltação, mas o rico na sua humilhação” (Tg 1,9). Aos poucos a carta fica mais sutil, à medida que Tiago a igreja por demonstrar favoritismo pelos que comparecem as reuniões com anéis de ouro e com ricas vestes (2,2-3). Sem acusar os cristãos ricos de abuso, Tiago descreve os membros da classe endinheirada em geral como predadores: ”Não são os ricos que vos oprimem, os que vos arrastam aos tribunais? Não são eles que blasfemam contra o nome sublime que foi invocado sobre vós?” (2,6-7). A referência aos ricos que “blasfemam contra o nome sublime” é coerente com Judas, 2ª Pedro e outros escritos cristãos primitivos que associam a busca da riqueza à transigência blasfema.
A questão era de um espírito de avareza comum nas comunidades protocristãs onde as pessoas mais abastadas gozavam de favorecimentos e proeminência nas “igrejas”.
Precisamos ler 1ª Corintios 11, percebendo todo esse contexto, para entendermos exatamente o porque de Paulo repreender a igreja em sua prática eucarística.
Paulo entende corpo do Senhor como sendo a igreja, portanto a igreja que cumpre apenas o ritual da ceia sem discernir o corpo do senhor (igreja), participa indignamente dela. Se nós entendermos que nas igrejas havia mais pobres do que ricos, a discriminação e a exclusão eram muito grandes, a ponto das pessoas excluídas ficarem fracas e doentes e até morrerem.
Participar indignamente como Paulo disse, é excluir pessoas, é ser avarento, é favorecer os mais abastados, é não discernir o corpo do Senhor (igreja), é participar apenas de forma ritual da ceia sem respeitar a essência dela. Examine-se, pois o homem a si mesmo e coma. Um chamado à reflexão, um chamado a uma introspecção. Precisamos olhar pra dentro de nós mesmos e percebermos se somos participantes apenas de um ritual sem vida.
Quem somos nós dentro desse contexto?
Quem sou eu?
Quem é você?
Com que espírito participamos da ceia?
Discriminamos as pessoas?
Damos preferências aos que tem mais condição financeira?
Excluímos as pessoas do nosso convívio?
Compartilhamos da mesa com todos ou temos uma mesa diferente para os líderes?
Gostamos de compartilhar do que temos com os mais pobres?
A igreja cuida dos mais pobres? “Se não, somos piores do que os incrédulos”.
Examine-se, pois o homem a si mesmo e coma. Não está falando em momento algum sobre examinar o outro, até porque Deus não nos deu a prerrogativa de julgar outra pessoa.
Fazer em memória de mim é muito mais do que partir um pedaço de pão ou tomar um cálice de vinho. Ceia aponta para a comunhão que não exclui ninguém. Ceia é repartir com os excluídos até que ele venha “fazei isso em memória de mim”. Nada mais é significativo do que Jesus ser conhecido não pelo discurso da igreja, mas pelas obras que ela pratica “fé sem obras é morta”. Os discípulos não mais seriam doze mais seriam um em Cristo e seriam parte de um só corpo, e deveriam compartilhar sobre Jesus com todos aqueles que quisessem ouvir a respeito dele.
Paulo falando aos fariseus disse: o discurso deles era um e a prática era outra. O mesmo acontece com a igreja hoje... O mundo já não agüenta mais o nosso discurso hipócrita sem vida e sem verdade em nós “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós”.
Somos religiosos que cumprimos apenas com rituais...Se não admitirmos isso enquanto é tempo, seremos pegos em nossa própria religião e não seremos diferentes de nenhuma outra religião, apenas um pouco pior do que as outras, porque conhecemos a verdade e não vivemos.
Pense nisto
Wagner
Continua....
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