segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Como se Deus não existisse


No século passado, Karl Marx e Sigmund Freud representavam duas grandes ameaças contra a religião. Marx afirmava que a igreja serve a interesses ideológicos de controle político e de subjugação econômica. Freud, por sua vez, percebia os mecanismos infantilizantes da religião quando sacerdotes projetam em Deus nosso desejo por um pai perfeito.

Para ele, a prática religiosa condena homens e mulheres a viverem como eternas crianças, sempre precisando de intervenções sobrenaturais para enfrentar as agruras da vida.

É preciso dar a mão à palmatória. Os dois leram as instituições religiosas dos seus dias corretamente, principalmente a cristandade.

Desde Constantino, o apelo do poder mostrou-se arrasador e irresistível nas igrejas. Infelizmente, os ensinos do Nazareno foram usados para autenticar o expansionismo imperialista e colonialista dos grandes impérios que se auto-proclamaram cristãos. Padres, pastores e bispos se vestiram como a grande prostituta do Apocalipse e se entregaram por qualquer preço.

Monarcas beijaram anéis episcopais enquanto obrigavam seus donos a lamberem suas botas. Assim, os mercadejadores do templo precisaram distribuir ópio religioso para poderem fazer vista grossa e abençoar inúmeras carnificinas – dos Tsares russos ao Batista cubano; das aventuras ensandecidas de Isabel espanhola às dos Bush, pai e filho.

A adoração do “Deus provedor” ocidental deu razão a Freud, que denunciava os recintos religiosos como incubadoras de oligofrênicos. O proselitismo missionário foi feito, em grande parte, precisando de uma espiritualidade funcional. Na tentativa de mostrar a superioridade de Jeová sobre as demais divindades, criou-se um fascínio por milagres. “Nosso Deus funciona”, clamaram os evangelistas por séculos. Desse modo, o sobrenatural passou a ser compreendido como uma intervenção legitimadora daquele que é o verdadeiro “dono do pedaço”. Assim, os crentes viciados em milagres se condenaram à freudiana dependência infantil.

Em minha opinião, só seria possível resgatar a mensagem de Jesus Cristo, caso a religião abrisse mão de suas hierarquias institucionais, demitisse elites, democratizasse o acesso a Deus, e esvaziasse os rituais da função de serem técnicas para se obter bênçãos. É importante que repensemos a fé, seguindo o exemplo de Jesus que viveu sem precisar de milagres e morreu sem apelar para os anjos. Iguais a ele, precisamos viver sem os cabrestos da religião e sem as intervenções de Deus.Concordo com John Hick em “Evil and the God of Love” (New York, Harper & Row; London, Mcmillan, 1966, p. 317) “Ao criar pessoas finitas para amar e serem amadas por ele, Deus precisa dotá-las com certa autonomia relativa quanto a si mesmo”.

Mas como pode uma criatura finita, dependente do Criador infinito quanto à sua própria existência e a cada poder e qualidade do seu ser, possuir qualquer autonomia significativa em relação a esse Criador? A única maneira que podemos imaginar é aquela sugerida pela nossa situação efetiva. Deus precisa colocar o homem à distância de si mesmo, de onde ele então pode vir voluntariamente a Deus.

Mas como algo pode ser colocado à distância de alguém que é infinito e onipresente? É óbvio que a distância espacial não significa nada nesse caso. O tipo de distância entre Deus e o homem que criaria certo espaço para certo grau de autonomia humana é a distância epistêmica. Em outras palavras, a realidade e a presença de Deus não devem se impor ao homem de forma coercitiva como o ambiente natural se impõe à atenção deles.

O mundo deve ser para os homens, pelo menos até certo ponto, etsi deus non daretur, “como se Deus não existisse”. Ele precisa ser cognoscível, mas apenas por um modo de conhecimento que implique uma resposta livre da parte do homem, consistindo essa resposta em uma atividade interpretativa não-compelida através da qual experimentamos o mundo como realidade que media a presença divina”.

Uma nova igreja precisa se desvincular de seu fascínio pelo poder, qualquer um: político, econômico, militar ou espiritual. Repito, urge que homens e mulheres construam sua humanidade, sendo sal da terra e luz do mundo, sem necessitar de repetidos socorros celestiais.

[Ricardo Gondim]

10 comentários:

  1. É muito bom ver a evolução do pensamento do gondim. ele é hoje, dos que fazem parte da instituição, o único que eu conheço que estar ousando criticar a própria instituição. Isso é bom, mas até onde ele será capaz de ir, antes que os donos do poder eclesial evangélico comecem a dizer que ele é um herege?

    aliás, isso já começou...

    Ô Wagnerrrr porque você sumiu da sala do pensamento??

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  2. WAGNER

    Se no século passado, Karl e Freud eram as ameaças para a igreja, hoje EU SOU A GRANDE AMEAÇA, e sinto que ainda serei assassinado por algum sacerdote!!! Hahahahahha

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  3. Uma outra questão que eu já estava esquecendo..........

    Eu vivo como se deus não existisse mesmo!!!
    Não oro, não busco e muitas vezes nem penso em deus – na verdade eu só penso, na hora em que vou “desteologizar” nos comentários e postagens, mas mesmo assim não é Nele que penso, mas sim na teologia Dele!!!

    Estamos imersos Nele e Ele em nós, não precisamos “espiritualizar” para se achegar mais perto de deus!!!
    Acredito até que, quando mais nos distanciarmos do deus da teologia, do deus das religiões, na linguagem Nitzcheriana matarmos deus, encontraremos Ele imerso em nós e no universo!!!!

    Não espero e não nutro expectativas de alguma intervenção milagrosa Dele!!!
    Vivo pela minha consciência, entendendo ser a voz Dele a que ecoa em minha incosciencia-consciente!!!!

    Não o amo, pois Ele não é um e eu sou outro, mas Ele esta em mim a tal ponto que Ele sou eu, e eu sou Ele estando em nós mesmos dentro de mim!!!

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  4. Eduardo

    Eu não sumi. Ontem mesmo eu li a última postagem e todos os comentários literalmente.

    Vou comentar, porque precisa irmão rsrsrs

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  5. Marcio

    Você só é uma grande ameaça para você mesmo. Pode crer.

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  6. Marcio

    Você disse:

    Eu vivo como se deus não existisse mesmo!!!Estamos imersos Nele e Ele em nós.
    Achegar mais perto de deus!!!
    Entendendo ser a voz Dele
    expectativas de alguma intervenção milagrosa Dele!!!

    Você fala tudo isso de quem não existe. Você vive como se Deus não existise? Ele existe ou não?

    Você não só é contraditório como é louco também

    Aqiuela camisa de força do Gresder, vou pedir pra você.

    Um abraço

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  7. WAGNER

    Eu sou o mais louco dos loucos enlouquecedores!!! Hahahahahaha

    Deixa eu ser mais claro, pois percebo que você apesar de ser bem mais velho do que eu, não consegue acompanhar os meus raciocínios, então eu vou começar a desenhar para você os meus comentários!!!

    Eu não busco, não amo, não penso, não sinto, não creio, não vejo, não ouço, não toco em Deus, mas EU SEI DE DEUS, como sei de mim e do outro, portanto amar, ver, tocar, sentir e etc.... se concretiza em mim e no outro!!!!!

    Agora deu para entender, ou você ainda não deu????

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  8. Marcio
    Você não só é louco como contraditório.

    O Edu disse isso e você apenas reproduz o erro dele.

    Como você sabe sobre algo que não existe? Se não existe como você o conhece? Conhecer dogmas, não é conhecer Deus, conhecer religão, não é conhecer Deus.

    Saber de você e do outro é uma coisa, mas de algo que não existe meu filhoooooo.
    De Deus você não sabe nada, e o pior de tudo é que você escreve muita besteira.

    Você não leu ou mais uma vez não entendeu.

    A experiência do meu filho (o Edu conhece), não partiu de mim seu burro e sim de uma outra pessoa que não me conhecia que me parou na rua para dizer que Deus iria me dar um filho apesar de eu ter feito dois espermograma que constatou que eu não poderia ter filhos.

    Como é da minha psique se partiu de outra pessoa?

    Não fica vomitando muita bobagem.

    um abraço

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  9. WAGNER

    Eu não iria jamais falar da tua experiência, pois tua experiência se resume a isto: TUA experiência!!!

    Mas como você tornou a sua experiência publica em um debate que envolvia muitas coisas, eu questionei apenas tendo em vista a reflexão.

    Mais uma vez eu repito, foi a TUA experiência, independente de acreditarmos ou não, sinceramente eu respeito isto, mas a partir do momento em que você se utiliza dela para fortalecer os seus argumentos, não dá para evitar os questionamentos, até porque o blog existe para isso: debatermos idéias, questionando e formulando argumentos!!!!

    Enquanto ao restante do que descreveste da minha pessoa, eu sou mesmo um louco-moleque-contraditorio que tenho aprendido muito com você e com todos da confraria!!!

    Mas volto a ratificar para todos que estão de fora e possam vir interpretar equivocadamente nosso caloroso e provocativo debate, somos amigos, e respeito muito a sua formação e pessoa.

    Mas agora você falar que de todos ali que comentaram você é o que possui mais formação, pode até ser verdade, pois eu sei pelo que as pessoas falam de você, mas eu não sei até que ponto vai à formação dos outros, e mesmo assim Wagner, não seria um menosprezo por todos????

    Fica aqui minha sincera analise, de alguém que gosta muito de você

    Abraços
    Marcio Alves

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  10. Olás, indico o livro "COMO SE DEUS NÃO EXISTISSE" do pastor Eliézer Magalhães, muito bom:

    http://soumovidopormissoes.blogspot.com.br/2012/11/como-se-deus-nao-existisse-livro.html

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