segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Jesus o Nosso Exemplo na Peregrinação


A vida de Jesus foi uma peregrinação. O Evangelho de Lucas a apresenta literalmente como peregrinação (Lc 9,51), mas os outros o mostram da mesma maneira sem expressá-lo explicitamente. Jesus anda de povoado em povoado, percorrendo a Galiléia e subindo para Jerusalém, onde termina a peregrinação. No seu povo, a peregrinação a Jerusalém era parte fundamental da religião. Jesus toma também o caminho de Jerusalém, ainda que com outro projeto.

O que há na peregrinação que inspira a esperança?

Pela peregrinação faz-se à inversão do movimento religioso tradicional antigo. Passa-se do ter para o ser. Nas religiões antigas a pessoa acorre à divindade para receber. Trabalha, reza e viaja para receber. A sua preocupação é ter mais e a busca de Deus tem também por objeto o ter mais.

Na peregrinação o viandante não percorre o caminho para receber. No final do trajeto não recebe nada, mas é uma pessoa diferente. Torna-se nova pessoa. A caminhada faz com que se transforme. Caminhando, o peregrino aprende a aproveitar tudo sem se apegar a nada, torna-se livre, aberto ao mundo e aos outros, menos apegado a si mesmo e mais entregue aos outros. Ele se torna despreocupado e vai adquirindo a qualidade de que fala Jesus quando alude aos lírios do campo.

 Essa é uma imagem da esperança, que não tem por objeto receber e nem considera a vida eterna como um ter ou uma posse de bens exteriores a si mesmo. Na vida eterna não ambiciona nada, a não ser a plenitude do ser humano __ ‘plenitude humana’ simplesmente como ser. A cada dia o peregrino vai avançando e se torna mais humano, porque menos proprietário, mas afastado de toda propriedade. Por isso Jesus condena o dinheiro. Ser cristão não sintoniza como ser proprietário.

 Na peregrinação não há nenhuma aquisição de propriedade. Mas, a cada dia a pessoa se sente mais ela mesma, mais forte, mais atenta, mais receptiva. Torna-se mais capaz de olhar, observar, ouvir e escutar. No caminho há o encontro com muitas pessoas, e cada uma delas vai fazendo com que o peregrino se torne mais humano __ a abertura aos outros o torna mais humano.

Na sua andança Jesus não busca nem adquire nada, mas encontra outras pessoas, oferece o que pode dar, aceita olhar, ouvir, escutar os outros que o chamam. Cada dia ele se mostra mais humano, menos proprietário e mais entregue aos que encontra no caminho. Olha para o mundo que descobre, ao contrário do proprietário que olha para sua propriedade.

Qual é o objeto da esperança? Ser outro: ser mais amor, ser mais livre, puramente humano, sem qualificativos. Os seres humanos se definem pela origem, pela família, pelas posses, pelo poder, pelas capacidades. O peregrino não busca isso __ quer simplesmente ser mais humano a cada dia que passa, amar mais, sem nada de propriedade. Chega ao ponto final da sua peregrinação. Não tem mais nada e não vai receber nada, perdeu até os últimos bens que podia ter __ por exemplo, os seus companheiros. Mas atinge o ponto máximo da liberdade e do amor na afirmação do caminho de salvação até a morte. A última etapa da peregrinação é a morte vivida como abertura para a plenitude

 
Teologia da Mesa

Um comentário:

  1. olá, gostei muito da sua refelexão! vc teria uma referencia bibliografica para eu aprofundar a questão? focando a peregrinação de Jesus!

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