terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Jugo suave


Os rabinos são intérpretes da Lei. Sua ocupação é discernir como viver a vontade de Deus expressa na Lei.

Por esta razão têm autoridade para proibir e permitir, dizer o que pode e deve ser feito para que a Lei seja cumprida e que não pode e não deve ser feito para que a Lei seja abolida. O conjunto de permissões e proibições de um rabino consistia no “jugo do rabino”. Todo rabino tem um jugo, que seus discípulos assumem como a melhor maneira de cumprir a Lei.

Todo rabino ensina sob o jugo de outro rabino. Até que apareça algum rabino que afirme ter seu próprio jugo, independentemente do jugo dos rabinos mais antigos. Para ganhar autoridade de ter seu próprio jugo, o novo rabino deve ser autorizado por pelo menos dois rabinos reconhecidos pela comunidade de rabinos.

Quando um novo rabino ganha autorização para ter seu próprio jugo, é dito que ele ganhou as chaves do reino, e agora está apto para permitir e proibir, isto é, dizer o que deve e o que não deve, o que pode e o que não pode ser feito por quem deseja cumprir a Lei.

Jesus entrou em cena sob o testemunho de João Batista, e sobre ele se materializou o Espírito Santo na forma corpórea de uma pomba, seguida da voz dos céus: “Este é meu Filho amado, ouçam o que ele diz”.

Dessa maneira, Jesus recebeu autorização de duas fontes de autoridade para ter seu próprio jugo, isto é, recebeu as chaves do reino, e desde então passou a ensinar dizendo: “Ouvistes o que foi dito, eu, porém, vos digo”. Convidava pessoas para que se submetessem ao seu conjunto de permissões e proibições dizendo: “Meu jugo é suave e meu fardo é leve”. Ao final de seu ministério terreno disse a Pedro, que representava a igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus: “Dou a vocês as chaves do reino”, e assim transferiu à sua igreja a autoridade para ligar e desligar, proibir e permitir.

Os apóstolos compreenderam isso e utilizaram essa prerrogativa em Atos 15, quando decidiram aliviar o jugo que pesava sobre os ombros dos novos cristãos, decidindo que estavam livres de cumprir a Lei de Moisés, devendo observar apenas três ou quatro regras. Em 1Coríntios 7 o apóstolo Paulo também usou “as chaves do reino” para legislar a respeito do divórcio.

No tempo de Jesus os rabinos que seguiam Hilel acreditavam que se podia divorciar por qualquer motivo, enquanto os discípulos de Shamai admitiam o divórcio somente em caso de imoralidade sexual. Jesus concordou com Shamai. Mas o apóstolo Paulo acrescentou mais um motivo legítimo para o divórcio: o abandono pelo descrente por motivo da fé de seu cônjuge convertido.

As comunidades cristãs têm nas mãos as “chaves do reino”, isto é, têm o direito e o dever de avaliar o jugo que se deve impor aos discípulos cristãos em cada contexto sócio-cultural aonde chega o evangelho. Toda comunidade cristã deve ter a coragem de afirmar “pareceu bem a nós e ao Espírito Santo não lhes impor nada além das seguintes exigências...”. Tanto o moralismo legalista quanto a permissividade libertina causam mal às pessoas que pretendem viver de modo digno do Evangelho de Jesus Cristo.


Ed René Kivitz

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