segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Alma que me cabe



Alma que me cabe





- Os conservadores e reformados – disse o dono do haras ao jangadeiro – afirmam que a missão elevar as pessoas a abraçarem o nome de seu mestre de modo a evitar o inferno e ganhar o céu; para eles, trata-se de salvar as almas não para este mundo, que é irremediável, mas para a vida eterna. Os liberais e libertários afirmam que a missão é transformar este mundo a partir do exemplo revigorante de seu mestre, de fato a construir nesta vida uma estirpe honorária de céu; para eles, trata-se menos de prometer o reino de Deus para a vida futura que implementá-lo contra todos os impedimentos nesta existência.
Qual é sua opinião? Quais dos dois pensamentos está certo?
O jangadeiro terminou de fazer o nó que o incomodava e aspirou a maresia.
- O que sei sobre a vida eterna é que ela deve ser um presente, e presente agente não deve cobrar e nem esperar. O mesmo, você deve entender, posso dizer desta vida. A vida futura que deve me ocupar é o momento seguinte, porque o momento seguinte depende do que faço neste. Salvar as pessoas ou transformar o mundo? Se você pensar, qualquer um desses seria fácil demais, porque tanto o mundo quanto as pessoas estão fora de mim; a metamorfose deles nada exige de mim e para mim nada implica além daquilo que me beneficia. O desafio do legado de Jesus é que eu transforme a mim mesmo. É natural que transformando a mim mesmo estarei transformando o mundo, mas essa não é a questão. A alma que me cabe salvar continuamente é a minha.

Bacia das Almas
Paulo Brabo

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