sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Peregrino a Caminho


O Peregrino a Caminho





Inumeráveis são os caminhos da peregrinação na cristandade toda, e, além dos caminhos tradicionais, há os peregrinos que viajam sem rumo definido, seguindo a própria inspiração.


A vida de Jesus foi uma peregrinação. O Evangelho de Lucas a apresenta literalmente como peregrinação (Lc 9.51), os outros Evangelhos o mostram da mesma maneira sem expressá-lo explicitamente. Jesus anda de povoado em povoado, percorrendo a Galiléia e subindo para Jerusalém, onde termina a peregrinação. No seu povo, a peregrinação a Jerusalém era parte fundamental da religião. Jesus toma também o caminho de Jerusalém, ainda que com outro projeto.


O que há na peregrinação que inspira a esperança? Pela peregrinação faz-se à inversão do movimento religioso tradicional antigo. Passa-se do ter para o ser. Nas religiões antigas as pessoas acorrem à divindade para receber. Trabalha, ora e viaja para receber. A sua preocupação é ter mais e a busca de Deus tem também por objetivo o ter mais. Na peregrinação o viandante não percorre o caminho para receber. No final do trajeto não recebe nada, mas é uma pessoa diferente. Torna-se nova pessoa.


A caminhada faz com que se transforme. Caminhando, o peregrino aprende a aproveitar tudo sem se apegar a nada, torna-se livre, aberto ao mundo e aos outros, menos apegado a si mesmo e mais entregue aos outros. Ele se torna despreocupado e vai adquirindo a qualidade de que fala Jesus quando alude aos lírios do campo. Essa é uma imagem da esperança, que não tem por objeto receber e nem considera a vida eterna como um ter ou uma posse de bens exteriores a si mesmo.


Na vida eterna não ambiciona nada, a não ser a plenitude do ser humano _ “plenitude humana” simplesmente como ser. A cada dia o peregrino vai avançando e se torna mais humano, porque menos proprietário, mas afastado de toda propriedade. Por isso a bíblia condena o amor ao dinheiro. Ser cristão não combina com o ser proprietário.


Na peregrinação não há nenhuma aquisição de propriedade. Mas, a cada dia a pessoa se sente mais ela mesma, mais forte, mais atenta, mais receptiva. Torna-se mais capaz de olhar, observar, ouvir e escutar. No caminho há o encontro com muitas pessoas, e cada uma delas vai fazendo com que o peregrino se torne mais humano _ a abertura aos outros o torna mais humano.


Na sua andança Jesus não busca nem adquire nada, mas encontra outras pessoas, oferece o que pode dar, aceita olhar, ouvir, escutar os outros que o chamam. Cada dia ele se torna mais humano, menos proprietário e mais entregue aos que encontra no caminho. Olha para o mundo que descobre, ao contrário do proprietário que olha para a sua propriedade.


Qual é o objeto da esperança? Ser outro: ser mais amor, ser mais livre, puramente humano, sem qualificativos. Os seres humanos se definem pela origem, pela família, pelas posses, pelo poder, pelas capacidades.


O peregrino não busca isso _ quer simplesmente ser mais humano a cada dia que passa, amar mais, sem nada de propriedade. Chega ao ponto final da sua peregrinação. Não tem mais nada e não vai receber nada, perdeu até os últimos bens que podia ter. Ele atinge o máximo da liberdade e do amor na afirmação do caminho de salvação até a morte.


A última etapa da peregrinação é a morte vivida como abertura para plenitude. Muitos que falam sobre a doutrina da prosperidade, e muitos que com razão a condena, provavelmente não estão dispostos a viver o evangelho na plenitude do desapego. Todo discurso dessa gente é só fantasia colocada para encobrir o verdadeiro eu.


A Teologia da Mesa
Damasceno Penna

Pense nisso.
Wagner

5 comentários:

  1. Oi, Wagner
    Obrigada pelo comentário lá no meu blog (e em outro acolá rsss)
    E esse texto acima é muito bom de se ler - E RELER!!! - pra a gente exercitar essa coisa tão simples e que a gente não entende chamada "Evangelho de Jesus".
    Gosto de textos assim, enxutos- e que nos tocam e nos remetem à reflexão!-sem que seja preciso apelar para nenhum extremo de "sabedoria" que mais parece uma verborragia recheada de pedantismo.
    Beijo grande,
    R.

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  2. Oí Regina!
    Que bom você por aqui.
    As tuas palavras são quase parábolas, e falam muito mais do que está dito.
    Eu te entendo e concordo plenamente.

    Um grande abraço

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  3. Fala Waner!!

    Gostei da frase "Na peregrinação o viandante não percorre o caminho para receber. No final do trajeto não recebe nada, mas é uma pessoa diferente. Torna-se nova pessoa."

    Realmente Jesus era um peregrino de deus em busca do ser, da vida, da existência plena. Vamos, e façamos o mesmo.

    Devo ir ao IBE sábado que vem, você está lá a que horas?

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  4. E Aí Eduardo
    Vou estar lá por volta das 9.30
    Te vejo lá

    Um abraço

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  5. No caminhar do peregrino caminhante, pelo seu caminhar constante rumo ao caminho pelo caminhar do caminho caminhante, ele caminha caminhando sendo um simples caminhante, que não está apegado às posses do caminho, pois ele é acima de tudo sem precisar ter para ser quem ele é, pois é um simples caminhante sendo o que é, pois é sem ser apegado as posses, que se apegam a gente apegada as posses, sendo possuídos pelo possui das posses, isto o torna livre pela liberdade de ser livre sem ser preso pelas posses que prende o ser livre, pois faz da pessoa um ser preso as posses.

    Viva o caminhar do caminhante peregrino que vive a peregrina por sua peregrinação!!!!

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