sábado, 12 de setembro de 2009

Falando um Pouco Sobre a Fé



Falando um Pouco sobre a Fé


“A fé não é uma forma fraca de crença ou conhecimento; não é a fé nisto ou naquilo; a fé é a convicção sobre o que ainda não foi provado, o conhecimento da possibilidade do real, a consciência da gravidez. A fé é racional, quando se refere ao conhecimento real que ainda não nasceu; ela é baseada na capacidade de conhecimento e compreensão, que penetra a superfície e vê o âmago. A fé, como esperança, não é a previsão do futuro; é a visão presente num estado de gravidez”.
“O cristão chega pela fé a uma sabedoria superior que é o conhecimento de Deus, como expõe São Paulo em I Cor 1-2. Deus confunde a sabedoria e o poder humanos; sem que isto signifique preconizar a ignorância e a displicência na construção do Reinado de Deus no mundo dos homens. A fé é uma classe especial de sabedoria, pois não é ciência, mas crença; e por isto mesmo seu objeto não está no nível do visível e demonstrável, mas no plano da experiência vivenciada, da comunhão e da opção pessoais. Mas também não está desprovida de base objetiva, pois se funda em fatos reais da intervenção de Deus, e especialmente numa pessoa, a de Jesus Cristo”.
“Toda a experiência religiosa da fé cristã passa por Cristo que é o revelador do Pai e o caminho para Ele. A sabedoria e a ciência de Deus se revelam personificadas em Jesus. Palavra de Deus ao homem; e está enraizada no mistério salvador de Cristo, manso e humilde de coração, que se humilhou até a morte por amor ao homem. Sua cruz gloriosa é escândalo e loucura para os sábios e poderosos deste mundo, mas sabedoria de Deus, benção e libertação para o discípulo, para o batizado adulto na fé que, guiado pelo Espírito, acabam ajustando a sua vida ao querer de Deus”.
“Iluminados por este saber do alto que é a fé, entendemos que a religião cristã não é uma imposição; nosso Seguimento de Cristo não é submissão a uma lei impessoal e despótica; não é um jugo e uma carga insuportáveis. Esta era a situação sob a lei mosaica, da forma como a interpretavam os doutores judeus; e esta era a atitude dos fariseus, por exemplo, diante da lei do descanso sabático, a ponto de criticarem a Jesus por curar um enfermo em dia de sábado”.
“Portanto, a partir de então já podemos definir a fé, uma vez mais, no caso do próprio Jesus de Nazaré, ou até mesmo, de Maria e de José, como em todos os protótipos bíblicos de fé __ Abraão, Moisés...” ‘E em nossa própria circunstância pessoal e comunitária:
- A fé é entrar em contato com o mistério obscuro, luminoso, tremendo e fascinante de Deus que irrompe na história humana, como o Deus Conosco altíssimo e próximo, o Deus feito homem em Jesus de Nazaré.
- A fé é risco, é renúncia a toda segurança palpável, sem privilégio temporal algum. Na linguagem de São João da Cruz, diríamos que a fé é noite escura para o cristão, porém noite vencida pelo clarear da alvorada.
- A fé é um compromisso tão sério que condiciona toda a nossa vida, criando um estilo, um critério e um modo de ser e atuar que marcam toda a pessoa em sua realidade e condição pessoal, familiar, social e comunitária.
- A fé é um desafio perene, uma perseguição constante e diária para se viver em plena disponibilidade diante de Deus e em abertura fraternal a todo homem que é meu irmão. A fé em Jesus de Nazaré, Deus feito homem, é fé no próprio homem; é amor ao irmão, seja quem for e como for; é solidariedade humana, especialmente com o mais pobre, oprimido e necessitado. Qualquer outra forma de se entender a fé é fuga, droga alienante, espiritualismo egoísta e míope.
- A fé é ser para os demais um ‘sinal’ do Mistério de Deus e de seu Amor transbordante.
- A fé é aceitar os planos de Deus sobre nós, como os heroísmos pequenos, ou talvez grandes, da existência vivida cristãmente, ao estilo de Jesus.
- A fé é resposta à vocação-chamado de Deus, por Jesus Cristo, para viver e atuar como amigos fiéis que estimam, valorizam e gozam do favor e graça inestimáveis de Deus. Por isso ter fé autêntica é viver numa atitude de conversão contínua e progressiva.
Se não chegarmos a viver assim, nossa fé é imatura e nossa experiência religiosa é raquítica e subdesenvolvida. O grande sinal de Deus já está ao alcance da mão, pois Ele está no meio de nós! Não nos contentemos com uma celebração superficial do Reino que já está eminente em nossa mesa. Nossa alegria e otimismo devem nascer lá do nosso interior em sintonia com a nossa capacidade e sermos solidários, pois já está à vista o Deus Conosco, Ele está mesmo no meio de nós!’



Teologia da Mesa
Damasceno Pena

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