sábado, 13 de março de 2010

Refletindo Teologia da Libertação



Em primeiro lugar, a Teologia da Libertação precisa determinar que modo de resposta é apropriado e mais afetivo em seu ambiente. Seria a resistência dizendo um contundente “não” a uma situação e mobilizando as pessoas nessa direção? Seria a denúncia profética apontando o mal e não permitindo que ele seja encoberto pelas justificativas de “inevitável” ou “necessário”? Ou há novas propostas sendo apresentadas que exigem então uma crítica menos ideológica? As causas defendidas por certos grupos e projetos refletem a necessidade atual? Ou está ocorrendo a abertura de um momento axial de oportunidade que torna a colaboração na reconstrução uma possibilidade?
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Devemos considerar novamente que podem existir respostas diferentes para situações diferentes. Mas, mesmo dentro dessa diferenciação é possível que a Teologia da Libertação mostre o caminho com sua força, não se envolvendo em disputas para fazer prevalecer esta ou aquela proposta.
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Segundo, a Teologia da Libertação precisa examinar as Escrituras e a Tradição para encontrar imagens e narrativas que podem servir melhor nas circunstâncias alteradas. Villa-Vicencio sugeriu o retorno do exílio e a reedificação de Jerusalém como narrativas que podem oferecer horizontes para reconstrução. Na África do sul, o conceito bíblico de reconciliação também foi sugerido. O horizonte da reconciliação da Nova Criação (II Cor 5,17) pode servir às sociedades em reconstrução e à conduta em relação aos problemas ecológicos.
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Ao explorar imagens e narrativas, deve ser lembrado que cada imagem e narrativa pode ser lida segundo perspectivas diferentes, o que leva, às vezes, a significados opostos. A história do Êxodo não foi uma Boa Nova para os nativos americanos ou para os palestinos, que tiveram suas terras tomadas pelos invasores. Também não é libertadora para os cristãos coptas contemporâneos, pois sob pressão do governo egípcio ‘êxodo’ significaria ‘exílio’. Seja como for, dentro do caráter polivalente das imagens e narrativas bíblicas, podem ser encontrados recursos para novas visões utópicas.
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Em terceiro, axiomas médios __ definições provisórias do Evangelho podem contribuir __ precisam ser buscados. Para Villa-Vicencio, axiomas médios seriam encontrados na nova estrutura legal que traria dentro de si os próprios valores que o ‘apartheid’ havia negado. Para outros, tais axiomas poderiam ser encontrados nos valores da comunidade e na solidariedade existente na sociedade civil. Axiomas médios proporcionam pontos concretos de reflexão e inserção na sociedade, nos quais momentos de graça podem brotar.
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Quarto, as Teologias da Libertação devem estar prontas a tornarem-se mais interdisciplinares, especialmente em situações de reconstrução. Embora possa ser alegado que não é tarefa da Teologia realmente derivada da práxis e que esteja baseada nela não pode evitar esse tipo de concretude. Há uma diferença a nosso ver, entre identificar-se com uma única proposta (algo que a Teologia provavelmente não deve fazer) é abster-se do trabalho árduo de analisar as questões controversas que compõe a realidade. Há um espaço na Teologia da Libertação para a denúncia profética. Há também espaço para o trabalho interdisciplinar e engajado no processo de reconstrução. Há também o espaço para a ternura, a comunhão, a partilha e a mesa.
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Em suma, portanto, a Teologia da Libertação é chamada a uma série de desafios neste mundo alterado. A sua missão de forma alguma acabou. Ainda há muito para ela fazer. Porém, ajustes precisam ser feitos na refocalização de seus esforços. Seus defensores estão certos: as questões referentes à pobreza e à opressão continuam marcantes entre nós. Mas nosso modo de atuação deve adequar-se às novas condições em que o mundo hoje opera.
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Pe. Comblin em “Um novo amanhecer da Igreja?”, Vozes – 2002.
“Razões para Crer” Giovani Martinetti, SJ, Loyola – 1995.
“As Razões de Minha Fé” Jean Delumeau, Pág. 170, Loyola – 1991 e “Catolicismo na Aurora do Terceiro Milênio”, de Thomas P. Rausch, Loyola – 2000.
Muito bom
Wagner

4 comentários:

  1. A teologia da libertação é muito boa em si como visão utópica e conceitual, mas se ela tem em si mesma boas propostas e boas estrategias, eu fico a me perguntar Wagnão, o porque dela não ser tão eficiente assim.

    Wagner o que falta a teologia da libertação para que ela seja mais eficiente???

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  2. A Teologia da libertação foi atacada por todos os lados, e creio que assim como Jesus não conseguiu mudar a todos, não podemos esperar qualquer mudança radical pelo menos na nossa geração.

    Como diz o texto:
    Há um espaço na Teologia da Libertação para a denúncia profética. Há também espaço para o trabalho interdisciplinar e engajado no processo de reconstrução. Há também o espaço para a ternura, a comunhão, a partilha e a mesa.

    Para realizarmos e torná-la eficiente, é preciso fazer mais do que falar. Sou amigo de alguns padres que fazem trabalhos lindos e eficientes em comunidades pobres, que libertam famílias e muitos jovens da marginalidade.

    Não precisamos ganhar o mundo todo porque isso sim é utópico, mas se livrarmos alguns ja vale apena. Lembra que a Bíblia diz que uma alma vale mais do que o mundo inteiro. Jesus deixa 99 por causa de uma.
    Para que o mal vença, basta que os homens de bem não façam nada.

    Ela é eficiente as pessoas que não se informam sobre gente que faz.
    O Frei Beto por exemplo sempre esteve envolvido com comunidades de base que estão em várias favelas, morando e se identificando com a comunidade. Pastores moram em casas luxuosas,dizem que fazem mas não se identificam.

    Faça o seu, e se realmente você quiser fazer alguma coisa, pesquise sobre pessoas que realmente fazem e não ficam só falando, se envolva fazendo que a vida tenha um bom significado.

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  3. A TL foi bombardeada principalmente, porque tinha ares de marxismo, doutrina que realmente, é incompatível com o cristianismo ou com qualquer religião.

    Mas só viram o namoro que a TL tinha com Marx e esqeceram de ver que ela estava casada com Jesus.

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  4. E aí Eduardo!

    Tdl foi muito atacada também pelo argumento de valorizar mais o pobre do que Deus. Adimitindo que seja, e sendo esse motivo que levou o Padre José Comblam e Clodovis Boff debaterem, me identifico plenamente com a Tdl em sua essência desde Gustavo Gutiérrez.

    Um abraço

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